Friday, February 29, 2008

Thais segunda Saint Satie








Nesse tempo os anacoretas estavam muito povoados de deserto.


As cabanas enchiam-se de bacanos que curtiam retirar-se do mundo.


O Nilo era um laboratório filosófico para solitários.


Era uma época em que até o rosa era uma côr esfingica.


As palmeiras erasm abanadas por mãos sequiosas de se libertarem de uma treta qualquer.


As vanguardas russas estavam atentas ao longe com os seus manifestos aguerridos.


Mas havia muita folha de ouro em comum nesta distância de encenar o sagrado ou cuspir-lhe veentemente

INFRAÍSMO (esboço)





A abstracção é uma forma superior de dissimularmos a nossa entusiastica iconofilia – as formas estruturantes (simples) são propulsoras da propensão imaginal e não suas adversárias – a abstracção, assim como as teorias mais «imaterializantes» da prática artistica são como açucar que adoça as práticas ditas representativas. Por isso nos entregamos ao ardor teórico, à abstracção, aos derivados da tradição do ready-made e à escultura presentista ou social.

A nossa franquesa cínica (na tradição de Diogenes - ou na do tantrismo mais extremo) é filtrada quer pela lógica sofística do prazer da refutação e da ilusão, e por sua vez orquestrada pelos prudentes hálitos pirronicos (por uma desconfiança em tudo, sobretudo nos aspectos mais exebicionistas e infrutiferamente contestatários do cínismo) – no entanto estes três modos supostamente incompatíveis estão em latente estado explosivo, como se o cínico-canibal que há em nós quisesse cuspir e grunhir na oratória do sofista e morder/devorar as balofas canelas do apático cepticista.

Há um vortex conceptual que é subjacente ao badalhoquismo (espontaneidade) formal da prática. Esse vortex é resultado de um excessivamente excitante entusiasmo teórico.

Acreditamos na eficácia das formas por parte de quem as usa – sdeja ele criador, seja um utilizador – mas não acreditamos na eficácia simbólica estrita.

A Iconologia, como disciplina que atribui sentido ao vai-vem entre as inclinações teóricas e uma tipologia de imagens é bem mais adequada à abstracção do que às velhas damas panejadas.

Utilizador-manipulador-criador – a relação pessoalizada com as formas/fluxos/vortex-conceptual não é desinteressada nem contemplativa – as formas são ferramentas que utilizamos para intensificar os nossos animos, para clarificar e ginasticar o nosso corpo-mente, e fazer fluir magestosamente as subterraneas correntes da criatividade.

Globalizamos singularizando – o nosso environment reincorpora o que há de palaciano no passadismo e filtra quer as àguas extremas da modernidade e os residuais charmes do periferismo – mas não nos extasiamos sempre com a condição suburbana. Não temos complexos quanto à nossa tradição que vem do fundo pré-histórico, não como um vingativo fantasma, mas como uma arte de polir e de ser claro.

Somos infraístas porque a nossa concepção do absoluto é anti-transcendentalista: somos materialista, pluralistas e militantemente anti-totalitários. Gostamos da linguagem filosófica, quer da enxuta, quer daquele que assenta bem com escabeche retórico. Gostamos das pulsões guerrilheiras e dos marotismos, assim como da àcida provocação – mas somos essencialmente doces, e polilíricos. Apologistas retóricos dos grandes feitos, somos pragmatistas das pequenas coisas – sem snobismos e pretenciosismo pindéricos, nem concessões ao grande hipercapital.

Saturday, February 09, 2008

a «morte» da «morte do autor»


A sintaxe é o desejo, a articulação posicional, as relações explicadistas (de variada intensidade e interesses) que a linguagem tem. Não concordamos com Nietzsche nem com Cage quando estes dizem que «não nos livramos de Deus, enquanto não nos livrarmos da sintaxe», nem de que esta é meramente um «exército». Não concordamos com Heidegger quando este nos reduz a simuladores do que potêncialmente está na linguagem. Não há uma linguagem estanque. O alemão foi umas lingua que se fez e se está fazendo num sentido que um dia não será alemão. O idioma grego foi muitos idiomas, e os filósofos são reféns dos seus calões locais mais do que diccionárias etimologias o-mais-antigas-possiveis. Por fim Barthes, Lacan, os estrturalistas e os post-estruralistas. «A linguagem obriga a dizer»? É fascista? O autor morreu? Ou este tipo de teoremas é a mais vasta encenação de uma tese inconsciente que indentificaria o fascismo da linguagem com a morte da criatura que dá o nome e o corpo por uma coisa chamada «autoria»? Há um fundo nazi na mais simples noção da «morte do autor». Não será esta uma consequência lógica do que estava em marcha em Auchewitz e que foi tão bem antecipada nas orgias dos romances de Sade. Quem foi o autor de toda esta máquina de aniquilar identidades? Ou a «morte do autor» não passa de um chavão simbólico usado para desacreditar e suprimir diversos modos de explorar singulares modos de imanência – a vontade de ser mais qualquer coisa do que uma remontagem de clichês e estruturas (um relativo remix) – há alguém ali! Por isso gostamos de autores com biografias sensíveis e lamechas e não de Foucault ou Blanchot.

Tuesday, January 29, 2008

apontamentos para a teoria da homeostética de Doxa/Paradoxa (circa 1985/6?)



DOXA/PARADOXA

1

Considerar-se-á a teoria Doxa/Paradoxa como um campo lógico ao qual se articulam as seguintes teorias:
1. Ângulo Recto
2.6=0


DOXA EST IN PARADOXA
PARADOXA EST IN DOXA

Deveriamos começar com algumas citações de Górgias:

1. A seriedade do adversário deve-se destruir pela brincadeira e a sua brincadeira pela seriedade.


2.Nenhum retórico ou filósofo defeniu até hoje o Kairos, nem mesmo Górgias que foi o primeiro que tentou escreveu sobre esse assunto. (comentário pejorativo de D. de Halicarnasso)


3.O Ser seria invisivel se ele não fosse retomado pela Doxa, e a Doxa inconsistente se não apreende o Ser.


4.Os mitos e os acontecimentos têm Apatê, e aquele que ilude é mais justo do que o que não-ilude, e aquele que aceita a ilusão mais sábio que o que lhe resiste. Aquele que ilude é mais justo porque realiza o prometido, e o que é iludido mais sábio, porque deixar-se enredar nos prazeres do discurso (Logos?) prova que é dotado de sensibilidade.


5.Nada há(é). E se é, é desconhecido. Mas se o é é e se é conhecido não se expõe aos outros. Ou. Nada é. Mesmo que seja o homem não o apreende. Mesmo que apreenda não é comunicável nem explicavel a outrem.


A obra de Górgias é em si um programa precursor. A linguagem não repousa nas suas aporias ou num indizivel, os seus fundamentos são sempre paradoxais, logo não são verificáveis, que o diga Godel. Górgias continua o paradoxo de Epimedes aplicando-o a toda a linguagem e aplica os paradoxos de Zenão contra Zenão. Mas indirectamente, porque ao levar a Tautologia de Parménides às ultimas consequências, isto é, ao paradoxo, deslegitima Zenão legitimando os seus argumentos.

O Asco e o Compromisso (1986)


Em anexo aos textos anteriores este dilema pequeno-burguês do compromisso e incoerência Homeostéticos


Prefiro o cheiro a Snoopy que o cheiro a pseudo-Snoopy /

o exageradamente querido ao querido com pretenções intelectuais /

o ranço dos comerciantes à etiqueta das calças do galerista

– e mesmo assim /

porque não vender uns quadrinhos /

pactuar e porque não com os espiritos do esgoto /

vêr publicitado o inexistente – Me /

ufa ufá!

movimentos de arte segundo a Homeostética (1986)














DE ALGUNS MOVIMENTOS DE ARTE

Conceptualismo – simulacro da ideia enquanto ideia, hospitalização neo – platónica de uma pseudo- epistemologia de raiz artística.

Arte povera – snobismo do material enquanto materialismo snob.

Minimalismo – anacronismo da industria como arte, asneiras da diferença enquanto escala, imbecilidade da repetição enquanto contéudo.

Land-Art – piqueniques para intelectuais pequeno-burgueses.

Happeningues – saloiada

um manifesto de 1986


Encontrei mais um manifesto homeostético já passado a limpo e do qual tenho o manuscrito e que não está entre os manifestos "completos"

EX – CURSÕES HOMEOSTÉTICAS

(1986 )

Contra o neo-construrivismo: a propagação decadente de um modelo esvaziado. O último atalho da metafisica, radicado na estética da incumensurabilidade, na arké, do significante. O neo-construtivismo é um deserto nihilista, anti-artístico, baseado nos critérios do não-dispêndio, da retenção do ser interjeccional, num narcisismo sem rasuras e sem corpo – como tal é objecto como o são todas as coisas relativas á essência e ao ob-jecto.

Educação espartana – a flexibilidade e a força de uma disciplina! De uma guerra subtil a todos os artistas instalados no sue trabalho hipnótico, escasso, balofo, vivendo da indisposição para o Entusiasmo da arte. Por isso opomos o músculo, a vertigem diária de uma ginástica, o horizonte de um inimigo permanente, multiforme, qual monstro oriental que perpétuamente é atingido e que perpétuamente se transforma.

Este músculo nómada que constantemente funda (dá fundo), novo Alexandre, devastando e infligindo uma marca duradoura às Àsias artísticas – novas capitais desta purgaturial muscularização.

Não deveremos nós recusar a mais ignóbil das prostituições: a assinatura?

O estilo – se o estilo é essa excessiva proeminência das saliências e das pregnâncias então sou um idolatra do estilo, um praticante dos seus mistérios, um cultor dos seus segredos. Porém há que levar mais longe o estilo como sua dissolução acentuando ainda mais as suas convexidades e concavidades, aumentando o delirio das diferenças, retendo as guerras e os impetos. Esse estado explosivo e cruel é porém uma criatura minuciosa, apta às vezes para as mais espetaculares economias assim como para os faustosos dispendios.


Contra o estilo – contra os cultores monológicos, o emprobrecimento, a redução ao minimo. O estilo é positivo porque reduz ao máximo as interjeicções. O estilo como o hábito é a pior das domesticações: há um tempo para o estilo, mas toda a perpetuação para a eternidade é um nojo. Só chegam à posteridade os estilos que a recusam.


A posteridade – se somos inevitavélmente proféticos isso não resulta de um desejo de assentarmos nessa futuração: pistas são pistas e o que vem é sempre outro. Eis uma das razões para essa in-disposição do futuro. A nossa disponibilidade para o futuro é o ser contra a posteridade, isto é, o sabermos a radical não posse que é o devir.

Quem teme enfrentar os problemas modernos? Os artistas modernos nas suas luxuosas colmeias vivem a letargia do trabalho de abelhas que não conhecem a luz do dia, nem o pólen. Como não trabalham nesta uraniana paz a ruina das flores vai sendo inevitável. Detêm-se hipnotizados pela compactidão do conforto. O homeóstético sai para as clereiras, dorme ao relento, constrói pequenos abrigos – não teme a doença, a fome, as catástrofes, porque kairos o conduz.

Ainda o estilo – A radicalidade da desmesura entendida como obsessão: o grande compasso estílistico homeostético. Desmesura nas mais infimas orquestrações.

O estilo não é a interjeição domesticada por um código, mas o “polemos” entre interjeição e os códigos. (oposição entre a noção clássica de estilo e a homeostética)

Não temos pressa do Novo, nenhuma ansiedade: somos vagarosos – o Novo encontra-se apenas nessas minuncias temporais.

Que idealismos! Que canduras! Que friquismos! – exclamam os maquínicos detractores da homeostética, palitando os dentes. Mas de que necessitam os nossos daimones mais que esses dinamismos, essas canduras impetuosas, essa errância despreocupada. Os deuses favorecem esta nossa aventura, só fora dela estaremos expostos à suas inclemências. Perante a sua consumada impotência os espectadores retorcem os seus tediosos grunhidos.

O erro – é fugindo que nos encontramos (sic): não é o equivoco um dos nossos principais motores?

Monday, January 28, 2008

was ist artephysis?


artephysis é o «segundo» termo homeostético, indissociável da palavra homeostética -

regra geral pensava-se a arte na sua relação de «imitadora» da natureza, ou, na perspectiva mais esteticista e paródica de oscar wilde, como uma percursora do que é possível vislumbrar na natureza - segundo o canudo heideggeriano ou braudillardiano, a velha tékné torna-se incontornável e o seu incontrolável poder hiperrealiza-nos, tornando-nos um dejecto do seu assombroso poder - mas o troglodita, apesar das próteses, continua a fazer das suas (mesmo quando o planeta encena o seu HARA-KIRI!)

na perspectiva homeostética a coisa é diferente - a physis (traduzível ou «intraduzível» pela mais acessivel noção de natureza) é já arte, no sentido vasto em que esta é uma pulsão-produção poética e também um modus operandi - de certa forma os nossos terríveis recursos tecnológicos são mais uma manha que a physis encontrou de explorar potencialidades de um modo mais directo, ou se preferirem, mais perverso.

A homeostética surgira assim como algo que instiga essa caracter exploratório presente na artephysis introduzindo equilibrios e desiquilibrios, simplificações e complicações - no fundo trata-se de gerir um apetite metamorfico, de abraçar a diversidade e a complexidade com alguma economia e funcionalidade.

Por isso mesmo a Homeostética procura multiplicar os pontos de vista sem se reduzir a um ecletismo - serialização pluralista (e sincretista-eristica), como em Fernando Pessoa? Claro. Mas também algo como uma arte homeopática, não apenas no sentido em que a arte, como boa vigarista ou vulgar terapeta (feiticeiro ou médico encartado), curaria «você», mas um passo mais à frente de uma consoladora beleza, ou saúde, ou felicidade. Não se trata de aperfeiçoar, nem de melhorar, nem de superar, mas de levar o caracter lúdico da artephysis a intensificar mais e mais as suas possibilidades.

Os primeiros apontamentos sobre a artephysis não passavam de pretenciosos apontamentos que foram reconvertidos 20 depois. Damos aqui em excerto (longo!):




Le soi-disant orgão genital do movimento neo-canibal
(1982)
mais tarde
(1983)
convertido no dito cujo Movimento Homeostético



Irmãos inumanos: a grande saída do já velho impasse estético-ténico-artístico repousa (graças à sua dulcíssima agitação secreta) na physis (vulgo natura), esse espectro da fecalidade ( dejectísmo-abjeccionismo) que as leis da termodinâmica põe em ebulição como pastel em arrefecimento nos arredores dos arredores.

E o que é a physis ((a natura desnaturata)) ?

Dirão: é a balbúrdia na classificação e a categorização das excepções, isto é, o movimento sob o qual Heráclito dorme no seu sono de estrume heroico!

Não defenirei (isso jamais!) a arte senão como variante de defenições poltronas que nos temeram preceder. Ousemos criar os nossos tímidos percursores colocando bombas debaixo das suas doces estátuas!

Por isso passo a bola à artephysis! (?)

E o que é a artephysis?

A zona erógeno-vegetal-animal do pensamento onde se processa toda a criação (na sua vastidão gloriosa digna de ser filmada por mr. De Mile)?

A glândula onde a complexidade encontra a sua imagem genésica ou primordial com parra a esconder o exibicionismo adamico já que a Eva nada tem para esconder?

E esse primordial é neo-complexo? É uma reorganização? É uma fraude? É uma conspiração vagamente neo-nazi? Ou uma boa intenção franciscana com pulgas e tudo?

Alguns dirão: ficção[1]! E porque não? A artephysis é uma concretização da arteficção, uma metáfora cuja imagem é o socialismo estético (em versão de falanstério filosófico-ecologista!)

; é pois pela sua mudança que ele alcança o repouso (Heráclito again and again and again).

A artephysis é o fruto bem maduro do mais cabotino pretenciosismo que acabará por se tornar simpático e digerível com a adaptação perfeita a uma sociedade de inadaptados.

Ela implode em metacatástrofes poligenésicas, caosgenéticas e totoloticogenéticas,

É, quiçá, a superestrutura (juras?) que cede o lugar à poliestrutura (ora méssa!)!

É a Civilização (com a sua propensão para a denegação) que se desagrega em focos civilizacionais interactuantes e bué da afirmativos (Amén!)!

É a individualização colectiva (fim da moda?) processada a um nivel multiforme e hiper-complexo (renascimento de cómicas cloacas locais em diálogo delirante umas com as outras?), e não a individualização uniformizadora de consumidor passivo na era da globalização niveladora (bof!).


Ou ainda a inflação da inflexão (crescendo de pontos de ruptura e de manobras de diversão com comício e carrinhas a vender sandes!)?

Uma verdadeira artephysis (natureza homeosteticada e desdomesticada) é filha destes dois casos clínicos que passamos a explicitar:

a)A crueldade : a crueldade é a intuição (bolchevico-kantiana) no seu estado de máquina de guerra produtiva. Criar implica transformar, logo, implica destruír, sem condescendência, todas as formas panhonhas que atropelam o expansionismo vitalista! (Heil Hitler!)

b)A fraternidade: a fraternidade é a partilha instrumental dos fluxos criativos. No fundo, no fundo, somos todos filhos de um Demiurgo (falhado? morto? falso?), seja de que tipo fôr. Irmãos, como já disse (parafraseando Villon) inumanos, ma non troppo!


Tudo isto devia ser mais explicadinho ainda...

escrever "sobre" arte



a maioria dos textos sobre arte contemporanea, sobretudo escritos pelos seus protagonistas mais esclarecidos, fazem-no no mais inadequado dos modos, como se nunca tivesse existido uma prática de escrita de "vanguarda" que atravessou ao longo do século XX as artes e que lhe esteve intimamente associado - tenho saudades desses velhos críticos e teóricos

hoje, a maioria dos discursos em torno da arte continua a ser feita na mais burocrática e repressiva das formas estilisticas, e a forma de apresentação dos catálogos e outros objectos afins é aborrecida, convencional, etc.

o clichê de que alguém que teoriza empenhadamente sobre arte só o pode fazer hoje (desde há algumas décadas) honestamente tornando-se artista encontra resistência nos profissionais da escrita que ainda julgam que a escrita é um espaço meta-artistico (ou então esqueceram-se disso)

quando leio velhos e "ultrapassados" teóricos (como o Buchloh, a Krauss, o Foster, etc.) falarem do "retorno do reprimido" a propósito de Picasso, Picabia e De Chirico (que na escrita foram suficientemente radicais os três), ou invocarem Bataille como um dessublimador (Bataille que também é precorrido pelo uma pulsão destrutiva que herda de Sade e que é em boa parte um fluxo tanático de total desinibição(/destruiçãlo presente no fascismo)

confesso que tenho saudades do estilo displicente do Cage e do Ernesto, da literatura experimental, da simultaneidade, do seu lado preformativo e divulgativo, da prosa pop do Deleuze do primeiro Anti-Edipo, das polémicas ardentes do Cezariny e do Pacheco, dos textos (mais uma vez!) do Batarda e do Lapa, do Arthaud, etc. etc.

uma história de arte do século XX, e por arrastão, qualquer história de "arte" só tem sentido enqjuanto obra de arte - neste sentido até um Aby Warburg pode ser lido-visto como um artista, ao contrário dos empenhados empresários-curators

por isso há que dar um novo impulso ao projecto revolucionário-revisionista homeostético (o revisionismo homeostético não é um regresso hermeneutico ao passado, apenas faz expandir e reactivar as energias "revolucionárias" adormecidas no sentido de uma maior complexidade e de um progresso mimético-tecnológico (para uma iman^rencia mais imanente)) - é retórica pimba revolucionária mas é tal e qual

Friday, January 25, 2008

filme e budonga


está em fase de realização-montagem-work-in-progress o filme de bruno almeida (na altura um correspondendo-se em Nova Iorque com os Homeostéticos) que será um filme-revelação

ao lado, uma imagem de budonga (uma das budongas rreais!)

Friday, January 18, 2008

fraud after meaning


"fraud after meaning" é uma frase de um desenho que fiz em 1986 - as teorias da fraude estavam no ar por essa altura, de Umberto Eco a Deleuze (veja-se o capitulo, "as potências do falso" no segundo volume de Imagem- Movimento)e à divulgação por Schnabel das Recognitions do William Gaddis - a cavalgada homeostética nas terras carnavalescas e do falso era teórica e fez-se mais do lado nietzchiano (deleuze e derrida) e de certa forma contra Braudillard, ou pelo menos, contra o modo como os americanos "posmodernos" o adaptaram (hoje Braudillard parece-me muito mais simpático)

uma sucessão de heterónimos, desde 85 surgiu-me como consequência lógica de uma teoria instintiva da fraude - no fundo Fernando Pessoa já teorizara mais do que suficientemente sobre o filão shakespeariano das máscaras e sub-máscaras - e de uma relação que é simultaneamente retórica e instintiva (mimética) com que nos envolvemos poéticamente com o mundo

o primeiro desses heterónimos foi Jacques Pastiche no ínicio de 1985, uma espécie de Erick Satie de segunda, e depois vieram Renato Ornato, Francisco Xavier, Karl Otto, Luis Mendonça, Augusto Barata, Aldo, o Marquês de Abrantes dito Eugénio, Julio Rato, etc.

Uma teoria explicita da dissimulação aparece em Francisco Xavier:

DO DISSIMULACRO


O que pro-voca a arte, o seu instinto, é a vontade de dissimulação.


Excluem-se duas hipóteses:
a hipótese mimética (da representação)
a hipótese de uma aporia relativamente ao mimético.

A primeira hipótese diz que a arte vem de um instinto antigo, o de simular.
O de simular um «outro».
O de procurar o acesso ao estranho.
O de tornar conhecido o que ainda não é

– simulações e hipersimulações tornaram-se hoje banais:
tudo pode ser simulado (aparentemente).


A segunda hipótese tem a mesma raíz, mas diz que nada pode ser completamente simulado.

Essa irredutibilidade cria uma margem de não-simulação.
Essa fissura é uma aporia indefenivel (aporia apeiron), sem contornos precisos.
Essa imprecisão ocular é aquilo a que se chama arte.


A nossa tese vai mais longe e acredita que o instinto que está na base das duas hipóteses anteriores é «a vontade de dissimular». Dissimular toma dois sentidos

a) o de adquirir uma aparência secretista, uma estratégia de pudor ou de ocultação.
b) o de criar aparências (representações) que surgem como desvio relativamente ao simulável. Há um desejo de excesso, de estranho (de mais estranho que o estranho), de activação de aquilo que parecia ser uma aporia.


A dissimulação é uma fraude.


«REFLEXO DE SOMBRA DE SIMULACRO DE FRAUDE»



A fraude é o que é passivel de passar por
manhas
ciladas
inumeráveis astúcias


A inacessibilidade da aparência, da realidade enquanto real (inatingivel, irrepresentável) postula o império das representações.


A fotografia (mimetismo sem simulação, ausência de esquematização, ausência dos efeitos do representante) é como tal a maior fraude
- apenas postula a pose
- impõe o desaparecimento do distorsor

Ora o distorsor (representante) é o que garante o acesso à não-fraude – isto é, à Verdade (fraude de fraude).


A fraude de fraude não é um truque de linguagem, ou uma simples enunciação, mas sim o desaparecimento da linguagem, o acesso à sua exterioridade.

Toda a linguagem é fraude.
O que nos sobra para além dessa fraude?
O nada?
O vazio?
O indefenido?

Sobra-nos sobretudo o fraudar e a instancia deste verbo acopulado com o nada, o vazio e o indefenido.


Admitimos com muita facilidade a fraude.

Mas
se a fraude for o motor que acopula os fundamentos
se a fraude for o fundamento dos fundamentos
o mal-estar assoma.

Assoma a partir do momento em que o que é passivel de ser fraude é admitido como FRAUDE.

Quando tudo o que pensamos é fraude o pensamento surge-nos como
um enorme pesadelo, como a impossivel suspensão de uma esfera em eminência de catástrofe.


O «mundo como fábula» de Nietzsche é o mundo como fraude, como interminável falsificação, em que tudo é farsa, em que tudo passa por tudo.

Mas mesmo no interior da fraude há
rasteiras
pequenas fraudes
dissimulações
desvios
fingimentos
arruídos

São pequenas ilhas que legitimam a fraude, que a encobrem, que são relativamente à fraude uma fraude.

O que é que a fraude supõe?
um encobrimento
uma mentira sábiamente escondida
uma arte de (se) ocultar


Destapado o véu temos a verdade nua e crua. O artifício e as artimanhas transparecem – tudo se torna claro!

Dir-se-ia que a fraude não diz respeito à natureza, ao mundo animal, e que não passa de um laboratório de ficções. Isto é falso.

A fraude introduz-se a partir do interior do mundo animal com a simulação, com os variados tipos de mimetismo, com o imitar o Outro ou passar por um outro.

O MIMETISMO ANIMAL É A FONTE DO FRAUDAR

Simulacro de fraude é o que permanece para além do fundamento.

A diferença mais específica (linguistica) entre fraude e simulacro é que o simulacro não pressupõe o ocultamento.

Simulacro é o que se mostra.

Geralmente pensa-se o simulacro em oposição a modelo ou protótipo, a algo que é origem ou originário.

O originário é a FRAUDE, isto é, o simular na ocultação:

simular de um simulacro na ocultação


SIMULACRO E FRAUDE
APENAS SE OPÕE
COMO REFLEXO E SOMBRA


O reflexo é a excelência dos espelhos.
O que devolve a luz.
O que a esclarece.


A polissemia da palavra SOMBRA liga-a directamente à ideia de ausência

falta de luz
opacidade
mistério
segredo
escuridão

O que está na sombra é o que está escondido, que não vê a luz.

A sombra, em princípio, não tem reflexo. Tem tendência em absorver a luz, em guardá-la nas suas entranhas.

A luz «é o que se dá a ver sem se mostrar» (Derrida)


Flectir quer dizer «dobrar».
Re-flectir é uma inecessante flexão.
É a circularidade e o regresso através dessa dobra.
A reflexão faz circular e regressar aquilo que se dá a ver sem se mostrar.
O reflexo é exactamente aquilo que se dá a ver.
Em visão é a parcela de luz que um objecto não retem.
Não é a totalidade da luz.
Os espelhos são os que reflectem mais luz, mais parcelas de luz.
Um espelho não reflecte na sombra.
A sombra é defenível como aquilo que não é reflexo.


O reflexo de sombra parece um paradoxo.
A ideia de que tudo é simulacro ou simulação (fingimento) leva-nos a dizer que o «simulacro é aquilo em que não há fraude».

O simulacro é o reflexo de um proto-tipo.
A fraude é a sombra.
O protótipo é a fraude.
A fraude é o lugar de onde vem a luz – a luz da fraude.
A fraude é aquilo que se dá a ver sem se mostrar.
O reflexo é o que dá a ver.
A sombra é o que não se mostra.
O simulacro é o que mostra. Mostra-se, em referência narcisica e exibicionista, demonstrando o seu protótipo.
O simulacro é o ver para crer.

Quando os americanos dizem we did it, expressam o simulacro consumado.


A fraude, pelo contrário é a grande permanência.
Só regressa à sombra no momento em que é defraudada.
A fraude vive pela sombra.

MAS A SUA APARÊNCIA É O REFLEXO DESSA SOMBRA.


Assim, o reflexo de sombra é a expressão apropriada para a
APARÊNCIA DA FRAUDE


Essa aparência simulada, exibida.
Essa aparência simulada na ocultação.
O que se dá a ver sem se mostrar do que se exibe ocultando.

Saturday, January 05, 2008

vocabulário de novíssimos termos explicadistas


O explicadismo foi e é uma tendência praticada por mim e o pedro portugal desde 2003, do qual há uma quantidade enorme de obras e textos - este vocabulário é desses inícios

Anagoritmo – série de cálculos ou de enunciados que visam evitar um determinado resultado ou uma série deles (matemáticas apofáticas). Da mesma forma existe uma lógica cujos silogismos são encadeados de modo a não deduzirem ou provarem determinados factos, como por exemplo Deus, etc.

Panomia – termo empregue para designar uma multiplicidade de leis de carácter e origens distintos que apesar de por vezes entrarem em conflito em determinadas zonas o seu funcionamento local contribui e para o funcionamento global.

Metamorfisse – representação transicional de formas de procedências diversas.

Kairocronismo – fracção de tempo favorável que se determina em função das variáveis Métis e Enthousiasmos.


Synvalência – propriedade de determinados termos cujos significado além de flutuante é acossado de polivalência (vulgar).


Axiofisismo – encarnação ou adaptação de valores ou axiomas sem que estes necessitem de ser «conscientes» ou demoradamente reflectidos. Pragmatismo delirante ou inconsciente.


Descomplexidade – prática descomplexada de complexidades. Combinatória risomática de sequências stokausticas. Imprevisibilidade imanente a que corresponde uma deliberação aventurosa quer do domínio teórico quer das próprias tácticas.


Homeonética – sistema (raro) capaz de assimilar e entrar em acção nas situações post-paradoxológicas.


Abcisão – capacidade de apreender e traduzir um sistema distinto, mesmo quando estranho ou adverso, utilizando quer a Mimética , quer a análise ou a cópia.


Mimética – noção que une a mimesis à ética. Cada situação especifica exige uma atitude ética distinta. A mimética é uma percepção/absorção epidérmica das complexidades num conjunto de coordenadas espacio-multiversais.


Multicrónica – o que evolui continua ou descontinuamente ao longo de várias sequências temporais sem desaparecer completamente.


Variolética – movimento do pensamento que consiste em multiplicar opiniões, asserções ou teses distintas, algumas vezes contraditórias, outras pontualmente convergentes, sem se dar ao trabalho de demonstrar qualquer relação estrita de vínculo ou adversidade (em oposição à dialética). A Variolética funciona perante uma «tese» como um conjunto de variações musicais: invertendo a tese, alterando o ritmo, a sequência, etc, mas mantendo o «tema» subjacente como núcleo obcessivo.


Refuncionamento – retoma de funcionamento de um organismo que no estado precedente parecia condenado a uma disfunção crescente ou desaparecimento.


Afectivicácia – acção eficaz entendida como suplemento afectivo de um organismo. Regulação desses afectos através da regulação das carências e dos excessos.


Endoirogeno – Erupção erótica num corpo sem causas externas.


Exoirogeno – Clima ou pressão erótica sobre determinado corpo.


Antropia – Conceito da anti-termodinâmica (o universo está em reaquecimento e é não dispersivo, concentrando os seus espaços e as suas energias). Capacidade de um organismo se enriquecer, vitalizar e complexificar sem passar por um processo de entropia/neguentropia.


Caosmocentrismo – Noção (leibnitziana?) de que cada coisa ou «caosmos» se representa exactamente a si mesmo não deixando de representar o resto do mundo (tudo é espelho de tudo).


Alteregoísmo – Propriedade de tornar determinados egoísmo altamente proveitosos para os outros.


Antidade – O que é prévio a um ente. O clima que antecede a sua aparência e é já a sua presença.


Epistemotopias – Os lugares do conhecimento. A epistemotopia explica como é que os espaços, a sua geometria e a localização dos sujeitos determinam a apreensão dos epistemas.


Etnoperiferismo – Tendência da maior parte das sociedades actuais para a desvalorização das suas tradições e culturas locais em função de uma cultura planetária, manipulada a partir de 2 ou 3 centros. Diáspora sem sair do território.


Extraínte – Agente ou mecanismo que rouba a outro sistema as suas propriedades.


Retardação – Propriedade de um sistema se desviar dos fins a que pareceria estar configurado. Estes casos são também ditos fenómenos desteleológicos.


Porosidade – Zonas «fronteiriças» de sistemas complexos onde há permeabilidade ou contrabando, permitindo alterações de diverso tipo quer na «aparência» quer no «interior».


Alavanca – Palavra que designa uma acção forte e eficaz de poder.


Ultrabilidade – Capacidade invulgar de reacção, produção, regeneração, aprendizagem, etc. A ultrabilidade acontece em organismos que aparentam ligeireza e imaturidade. Conformação – Informação que entretém um sistema de forma a que pouco seja alterado (pan e circe).


Heterostasia – Capacidade de um organismo gerir as desordens que vêm do exterior.


Heterosteticas – Estéticas intermitentes e fragmentárias que contribuem para a reciclagem dos movimentos homeostéticos.


Fonogénese – Nascimento por vibração. Ao contrário da morfogénese que designa a cristalização em formas, as fonogéneses diluem-se em ondas cada vez mais fracas. Embora haja uma aparente tendência da fonogénese para o silêncio, ela mantém o mundo num banho sussurrante de micro-ondas. Pelo contrário, as teorias antrópicas consideram que nos inicios é o silêncio e que que os universos estão no caminho irrediável para um ruído ensurdecedor.


Multinstabilidades – É o caso (assaz vulgar) de uma relativa estabilidade ameaçada por várias instabilidade de procedência e tipo distinto. Toda a estabilidade vive e é reciclada de multinstabilidades.


Co-dramatização – Surge quando vários agentes co-organizam/desorganizam um acto de tal forma que esse sistema se consolida e a cooperação é alargada a outros sistemas.


Interdisparidade – Acção em que o heterógeneo é concertado em determinados movimentos.


Retroinacção – propriedade de bloquear ou suspender determinadas retroacções.


Desrepresentação – situação em que os representantes teatralizam metalinguisticamente (e comicamente) a sua própria teatralidade.


Samântica – Ramo da semântica que investiga os sinais premonitórios (advinhação).


Liberomecanismo – Mecanismo de um mecanismo cujas propriedades permitem que se livre do organismo dominador deixando em aberto a possibilidade de uma relativa autonomia ou de associação (ou integração) com outro organismo.


Interarquia – Conexões e alterações de co-relações entre diversos poderes.


Alearquia – sociedade em que as interarquias são extremamente frequentes.


Patática – Táticas com características irrisórias nas quais os adversários são facilmente derrotados graças uma redução ao ridículo.


Vagabilidade – Diz-se de um sistema cujos dispositivos comunicativos não são aparentemente precisos. A vagabilidade tem também um sentido estratégico que designa a propriedade de transmissão aos aos sistemas adversos do menor número de informações fiáveis

Zigurástica – Todos o tipo de cómico-simbolismo proveniente da obcessão por zigurats.


Negantropia – Possibilidade de uma antropia se entropisar, com ou sem neguentropias.


Toleologia – Lógica que permite notáveis avanços graças ao recurso à tolice.


Transindisciplinariedade – Interacção de várias indisciplinas ou de sistemas indisciplinados. A transindisciplinariedade não pretende comprometer-se com nenhuma «compreensão do mundo» seja em que estado for, mas apenas desfrutar poeticamente as complexidades simultâneas que as indisciplinas permitem.


9=0 - Teoria rival e idêntica à de 6=0. Ao contrário desta última, que parte do pressuposto da Doxa do Ângulo Recto ( definindo o universo como cúbico, e utilizando analogias com o I Ching sobretudo na categorização em 64 mutações), o 9=0 parte do pressuposto que o universo é estruturado a partir de estruturas ternárias (o universo equilátero?): é a chamada Doxa do Triângulo Equitativo. Há para esta Doxa analogias com os nove rasas hindus ou com o Tai Hsuang Xing (livro obscuro do sec II a.c. mas só recentemente editado (1995) que estava previsto geometricamente no primeiro dos cadernos doxa e foi desenvolvido por Proença no inicio da década de 90). Existe também o bolismo (a Doxa da Curva Perfeita, desenvolvida por Brito e Vieira) cuja equação é 0=0. Segundo a lógica post-paradoxológica, a estas 3 doxas corresponde a expressão rigorosa 6=9=0.

The Portuguese (segundo Pessoa)









The Portuguese are always making revolutions. When a Portuguese goes to bed he makes a revolution, because the Portuguese who awakes up the nex day is quite different. He is precisely a day older. Other people wake up every morning yesterday. Tomorrow is always several year away.

They go so quick that they leave everything undone, including going quick.


Há algo de anedótico no pensar a cada vez mais irrelevante «sensação» de ser português (de ter nascido por aqui e continuar ainda por cá). Há nestes textos de Pessoa um ar de manifesto, que com ligeiros cortes lhe retirariam aquela enfadonha armadura pseudo-lógica que lhe estrutura processualmente o raciocinio. Vou experimentar aqui um exemplo a partir de uma carta.

What the movement called sensationism is?

We descend from three older movements : French «symbolism», Portuguese transcendentalist pantheism, and the jumble of senseless and contradictory things of wich futurism, cubism and the like are occasional expressions, though, to be exact, we descend more from the spirit then from the letter of these.

a) From French symbolism we derive our fundamental attitude of excessive attention to our sensations, our frequent dealing in
ennui, in apathy, in renouncement before the simple and the sanest things of life.

b) From the Portuguese transcendentalist pantheism we owe the fact that in our work spirit and matter are interpenetreted and inter-transcended.

c) As to our influences from the modern movement that embraces cubism and futurism we have intellectualized their processes. The decomposition of the model they realise we have carriede into what we believe to be the proper sphere of that decomposition - not things, but our sensation of things.

WHAT IS THE CENTRAL ATTITUDE OF SENSATIONISM?

1. The only reality in life is sensation. The only reality in art is consciousness of sensation.

2.There is no philosophy, no ethics and no asthetics even in art, whatever there may be in life. Ideas are sensations. No artist can believe or desbelieve ideas. When he works he either believes and desbelieves, according to the thought that best enables him to obtain consciousness and give expression to his sensation of the moment.

3. Art, fully defined, is the harmonic expression of our consciousness of sensations; that is to say, our sensations must be so expressed that they create an object wich will be a sensation to the others. Art is sensation multiplied by consciousness - multiplied, be it well noted.

4. The principles of art are:


a) every sensation should be expressed to the full, that is, the consciousness of every sensation should be shifted to the bottom;


b) the sensation should be so expressed that it has the possibility of evoking the greatest possible number of other sensations;


c) the whole thus produced should have the greatest possible ressemblance to an organized being, because that is the condition of vitality.

I am no longer what I was in the paragraphs above as I write this.

If I am ever coherent, it is only as an incoherence from incoherence.

Friday, January 04, 2008

note on homeoasthetics


6 = 0 was an exhibition that showed the attitude and the works of a bunch of 6 portuguese artists (Ivo, Fernando Brito, Pedro Portugal, Pedro Proença, Manuel Vieira e Xana) that used to work together in the beginning of the eighties under the denomination of Homeoasthetic Movement – the group was characterized by an assumed old-fashioned and consciously peripheric neo-neo-dadaist spirit, with lots of half-folkloric and fake-revolutionary manifestos, giving unending performances of bad-pop-music or cagean concerts to wash-machines and castagnols, making more or less oniric super 8 movies, publishing ugly ironic magazines and painting also super-large-scale paintings. The notion of Homeoasthetics, if there is such a thing, is an aesthetic of Complexity, which integrates the ambivalences and the incongruence of life, in a dynamic process that tends to a revolucionary/reaccionary equilibrium (what a hell is that?). 6 = 0 means that the universe is perhaps a square and that the sum of all the 6 members of the group annihilates the unity. Their theatrical and ironic way of behaving was not suitable to the very serious local art world, and great part of their works, photos and theoretical statements was not available before. In the opening of the show there was a war tank and authentic soldiers from the period of the Portuguese Revolution at the entrance of Serralves Foundation, megaphones screaming slogans and manifestos in the gardens, a big cow was barbecued, and so on.

Sunday, December 02, 2007

ecletismo e sincretismo


A «homeostética antes da homeostética» começou por ser um brado ou um slogan contra o ecletismo através do sincretismo. Não estamos bem a ver a diferença, dirão alguns. Mas é uma questão estética essencial - aquela que traça a linha entre o consumo passivo e a digestão crítica, ou, como na fábula do Manuel João Vieira, entre o bruto Sharkey o Polvo e o Ernesto o Ornitorrinco Honesto. É um pouco o sensus communis da arte versus as teorias especiais - Anne Cauquelin chama a esse termo doxa:

La doxa pour moi, ce n'est pas quelque chose de mauvais, c'est le paquet de tradition que nous avons dans la tête, et qui se trimbale comme il peut en s'habituant aux choses, en s'accoutumant. Il est d'ailleurs très malléable, parce qu'il attrape au fur et à mesure ce qui se passe, il les enfile dans une espèce de sac qui est remué. Ce que nous pensons de l'art, c'est ça. J'appelle cela une vulgate. Ce qui n'est pas du tout un terme péjoratif. C'est le mot pour désigner ce que nous avons le plus communément dans la tête quand il s'agit de l'art. C'est ce avec quoi, devant les objets, nous réagissons. C'est extrêmement prégnant. Il est vrai que je dis: il faudrait s'en séparer. Il faudrait faire autre chose, mais moi comme vous, comme le plus savant des historiens de l'art, et le plus pointu des critiques d'art contemporain, on a toujours les mêmes réactions devant les mêmes objets, et il n'y a rien à faire. C'est quelque chose de solidement ancré, très difficile à bouger. C'est cela comprendre.

Foi neste sentido que a Homeostética se constituiu com e contra a doxa dominante, criando outras noções deste termo mais perto do «original» Parmenidiano, e contra a simplificação deste termo pelos barthesiamos e os helenistas que tomam doxa como um termo já transfigurado por Platão.

Sunday, October 28, 2007

Cancioneiro Explicadista do menino Eduardo


Numa modesta homenagem ao grande e escarafunchissimo percursor (ò mestre)na secreta (de porca) cadeia pornoecológica (refiro-me òbviamenta a E. B., a propósito do qual o Alexandre Conefrey aguarelou recentemente um «Arrgh!»).

E.B. (batarda para os inimigos, eduardo para os intímos?)introduziu o titulismo complexo de uma forma sistemática, referência obscura, marota, òbvia, piada particular, «trocalho» (años 70) - literatura que acompanha a «yarte» (como, por exemplo. em Kitaj, mas poderiamos recuar a Duchamp e outros marmanjos espirituosos). E.B. também é um extraordinário atractor de gralhas alheias, que se ajustam conspirando contra a sua boa imagem.

Neste caso trata-se de forjar uma autobiografia rápida com referências à auto-estima erótica da nação

Assim sendo aqui vai




(romance experimental em titulos de pintura)





1. Guide to Cowture (gaudemus!)
2. Vortex Explicadista (virtús complicadista)
3. Baba de Babel (Vavá de Marcelo)
4. Mães de Manhe (Minhos de Mim)
5. Traumatic trends in tantalizing totalitarism today
6. Horror Minimalis (terror puritano)
7. Demiurgia abscondita (fusões empresariais)
8. Explicação das Massas à Arte (à putanesca (+ didactismo)
9. Decomposição de Porneia by Julian Ratón (d’aprés Julio Pontinha)
10. The Nacho Men (relleno)
11. L.C.C.Q. (hot chocolate)
12. D’aprés d’aprés quelque chose (hipernature morte)
13. Orgias Conceptuais em Alcabideche (escabeche neo-situacionista)
14. Claude Pornopop Von Lorrain & Vilhena (suite pornoecologica)
15. Boomerang Boom (representação cómica dos infernos)
16. The Return of the Turner Prize (although I do not hope to win the Turner Prize again)
17. Halt Couture (é pericoloso sporgersi)
18. Estética Hespérica (logos spermatikos)
19. Frique Fragmenta (fake folk)
20. Enragé (aux dames citoyens!)
21. Yoga para caramillos (toga para matraquilhos)
22. Terno terrorismo (remembering Torremolinos)
23. «Sempre quis ser um enfant terrible» (ora, ora!)
24. Testamentos vetero-budonguianos (eternidade vaca)
25. Hedoné (after all) and not dianoia (g’anda noia!)
26. Rise and decay of imbecility (vide Vico)
27. The remains of late conceptual art (mindscape)
28. Danos co-laterais de excursões culturais
29. Introduction to oblivion (não te escapas!)
30. La Naturaleza es muy eclética (Diós, lo mismo)
31. In The Seraglio with Confucius (chinoiserie)
32. Carrilhões no beija-mão a Carrilho (saudosa guitarra guterrista?...pfff!)
33. Elastic is better than classic (and even better than nature)
34. Cabula Rasa (Cabala de rasas)
35. Beatriz Batarda (after Dante, o pedófilo) – uma vida novinha em folha
36. Cozidinho português de artes (ou cataplana?)
37. Minotauromaquias tretatéricas (minorias beatnicas)
38. Irreversiveis (lições de pianismo isotérmico)
39. Chic cheapness (double payed)
40. Tronos & Indeterminações (traumas & turbilhões)
41. Dez puros & Pés Duros
42. Modos de ver (e foder) o freguês
43. O teu estilo é a minha forca (ton stylo c’est ma farce)
44. Never Clever (To much clever to be clever)
45. Esperteza Saloia en su salsa (com alhinho)
46. Bater a bota (abater a beta)
47. Estafado (estufado!)
48. Gaita de gota (a vida dá muitas multas)
49. O cúzinho canalha da Europa (Samora Machel no cabo Espichel)
50. Mafarrico Honesto (marafona funesta)
51. É do Branquinho (da Fonseca)
52. A mariquinhas (rua bizarra, lua bezerra)
53. Édipus Titannus (vacas loucas, trevas louras)
54. A moda do pisca-pisca e da piscanálise (Freud Pimba em 90 e tal)
55. É coiso coiso (nhec nhec nhec nhec)
56. O Calhambeque (quero buzinar)
57. Gaitas de Folhos (gatas de folias)
58. É fodido! (mas finório!)
59. Morcão babélico (papão barbélico)
60. Fisioigonomia (dar de caras com um cara)
61. Méxicu (quina barreiras)
62. O quéquinho da Bárbara (as quecas dos bárbaros)
63. Odvidovinho (tapume em Los Angeles)
64. Virtus (invitation to invention)
65. Tirar a temperature (centigrados e Celsius)
66. Supressionismo abstétrico (piruetas do piruças)
67. Lolita na sanita (2) (Nabokov na Cova da Moura)
68. Castilhão, o cortesão (Feliciano en su Castilho)
69. Gingão ( laca, juke-box e festival da canção)
70. Ólio sobre tôla (ou tóla) – pintura lambuzada em lambada
71. Pasolini ( Mamma Mia e Papa Pio)
72. Merda no Metro (renda retro)
73. Josélito Cerquera (El Bimbo!)
74. Pelos beicinhos (trazê-los sempre)
75. O Grelinho Pelado (ou grilado e peludo?)
76. Vêr pelo canudo (vir-se pelo carnudo (var.: cornudo))
77. Onde está o buzilis (what’s up doc?)
78. Descomplexado (desfiável e desconfiável)
79. Antropologia Tripeira (antologia azeiteira (estrutural III))
80. Pensamentos que te fazem artista (artes que te dizem «penso»)
81. Macaquinhos do chinês (no sotão)
82. De outro nivel (era o que faltava)
83. Abonecado (biqueira de sapatos)
84. Os prognósticos do despois (e as despesas das pensões)
85. A modos que... (panegirico de uma célebre modista)
86. O Código da Manicure (e da Madame Curie (vedantica))
87. Apitó Cumboio (o pito do regime)
88. The Devil is a Woman (a civilidade para meninas, não é, Marlene?)
89. Coup de Foudre (estribilho joyciano)
90. Anch’io son artolas (andaste a ler nos Astros ou nas Bolas?)
91. Grande vaca (de estimação)
92. Abochanado ( Mein Herr)
93. Leite-creme (como só faz a avózinha)
94. A bota com a perdigota (bater e não bater)
95. Os alhos e os bugalhos (dar ou não dar)
96. O cú com a cara (? ou não?)
97. És mesmo quadrado (a propos d’un fameaux tableau)
98. Stuzzicadenti (com pizzicatos)
99. O Ouro do Reno e os Palitos de La Reine
100. Mr. Natural na Brandoa (a quem doer!)
101. A profanada marquesa (mijo de megera indomável)
102. A esmolinha e o ceguinho ( la caja)
103. Fingerprints (The Flinstones)
104. Cosme (edições)
105. Piranhas no Pireu (picanha no pneu)
106. (classe alta em baixa) (laparoutos na lapa)
107. Legião Portuguesa (sob a sombra de Beau Geste)
108. O provincianista (e o cosmopoliteiro de Miranda)
109. A Pintora Rosa (Pink Lassie, Punk Lessing)
110. Overdrive (oldsmobile sutra)
111. Cavalcanti (onde está a prima memória?)
112. Os embaixadores (em Calavera de La Reyna?)
113. Oxfordiano nú em Cabanas de Tavira (alguns refrões wittegensteinianos e certos feijões)
114. Alcuíno (Aleluias)
115. Pinto da Bota (Tinto da bosta)
116. Olheirismo (caneladas e outras farras)
117. Desvestimentos (majas desnudas, baja las bermudas)
118. O que dá na veneta (e o que doi na venta)
119. Romy, a Mulher-Leoparda (beurk! No comments!)
120. Kaúlza (arriaga de porrada)
121. Eduardo, Lapa ed io (sonetofilia 7)
122. Broncó Bili (branca de neve e as sete citações)
123. Ezra na prisa (maningancias malatestinas)
124. Batatinhas fritas (baratinhas belgas)
125. Os tempos que correm (e os espaços que desistem)
126. Folias pastora (Cyrano e o sicrano)
127. Palestrina na latrina (oleo jacto est)
128. Bera Ibéria (e tola Itália)
129. Esquentamento & espancamento (casuística)
130. Bairro Alto (e pára o baile)
131. O prepucio de Propécio (o catarro de Catulo)
132. Resguardos próprios de um cavaleiro inducado como deve ser (disciplina sentimental)
133. Imperial (mais uma...)
134. Nhanhosa (nojenta)
135. Saleros de Salieris (fandangos de fancaria)
136. Os cão-pichas ( e as ratas de poche)
137. Um Valium para messieur Voltaire (um supositório para a Madame Lacontesse)
138. Maçonaria do tabaco (opus dei do tintol)
139. Campeonato nacional de yo-yo (mau)
140. Balada do homem-rã (de Brito, o Profeta)
141. Colosso de Rodão (caliça de Rodin)
142. Cadência perpétua (wagnerianismo minimalista)
143. Camonismo, camionismo e comunismo (g’anda Camões!)
144. O que é vital em Ravena (o que é fatal na faena)
145. Burrito (ai burrito!)
146. Saúdinha é que é preciso (plagios medicinais Couto)
147. A arte de bem passar depressa a ferro (a mamã é que sabe!)
148. Torresmos (a rodos)
149. Merendinha (é de vómitos!)
150. Roma, cidade aborto! (ou Pavia, em nenhum dia)
151. Rafeirismo desobriga (nobreza desbraga)
152. Pinga e apeneia (respiração assistida)
153. Praceta da treta (virginia victorino)
154. Suicidios por interpostas pessoas (ad hoc)
155. Panqueca pateta (gofre)
156. Marajás, marujos, maracujás (Cezarini no Santini)
157. Vasos gagos (visas gagás)
158. Absprexionism (autorretrato politonal em cancioneiro policial)
159. Lisbon School (p’ra inglês ver)
160. Trapalhadas sexuais (o bombeiro e o taberneiro)
161. Figura de urso (factura de asno)
162. Arenque furtado (ilhas Faroé)
163. Lanchonete (garota junto a estádio)
164. Ford Capri (c’est fini)
165. Fox a trote ou a galope (Samantha meats Kosuth)
166. Tangoso (Carlos Gardel sem gardol)
167. Paneleirice (francesinha especial)
168. Vilipendência (dependência bancária)
169. Horta de arte (coscovilhices ajardinadas)
170. Marmanjo, um tal (que conheci em tempos)
171. Retrato na retrete (com paisagem ao fundo)
172. As sisters da Cister (e o papá surrealista)
173. Dar bandeira (rir a despregadas para as empregadas)
174. Pepineira peninsular (um pepino breve)
175. Propinas e propaganda (Agit Pop)
176. Esquinas (equinócios)
177. Primavera marcelista (mandrágora marxista)
178. As ovas de Colombo (os ovários de uma ova)
179. O chunga do ventoso (teoria do romance japonês)
180. Tortilha schubertiana para mr. Rossini (truta com trufas)
181. Sapateado (da turma da Mónica)
182. Calçada portuguesa com calçado português (campeão nos pés)
183. El (Buñuel e Lissitsky)
184. Tropa fandanga (a marchar é que a gente se entende!)
185. Golpe de Sartre (enchidos «enxistencialistas«)
186. Solitária (bicha)
187. Cavalaria Rusticana (fanhosa)
188. Higinus e descreminação (racismo?)
189. Pés de atleleta (pús de aletheia)
190. Escadarias de Odessa (em picadilho)
191. Saldanha Sanches (o mártir maoísta)
192. Tocar a finados (traques de finórios)
193. Cara de um cú (os bifes, ça existe?)
194. Sanjo (sapatilhas)
195. Coelheira anti-modernista (arf! arf!)
196. Shakira em Vila Franca de Xira (camp e campinos)
197. Carmo y Trinidad (sempre a cair)
198. Amor de Perdigão ( Madalena a seus pés)
199. Amor de Salvação (grande barrete!)
200. Curadorias (champô Duchamp anti-arte)
201. Echarpe (de escape)
202. De Arroios aos Anjos (ataque de nervos!)
203. Réguas Molin (Edgar Morin)
204. Respiração boca a boca (deixa-te de bocas!)
205. Oligarquia na autarquia (de Antioquia a Antuérpia)
206. O catano e o caneco (Fred Astaire)
207. Estaline gorado (goraz estufado)
208. Golpes baixos (altas cavalgadas)
209. De profundis (perfume escatológico)
210. A Madona da Madragoa (a mandona da Mouraria)
211. Marraquexe e Massamá (Mallarmée e a missa de L’Homme Armé)
212. Periferias artistica (patifarias autistas)
213. Comédia de Deus (avé Cesar!)
214. Marinheiros de garra (comandos de gorro)
215. Luis Euripo (levar uma pêra e depois ir à rede)
216. Os pastorinhos e o lontra (itenerário oitentão)
217. Jaime Neves (obrigadinha p’lo brigadeiro!)
218. Balada de Gil Paixão (el cheiroso)
219. As ilusões aparecem (as parideiras aludem)
220. Xissa penico (chapéu de Chanel)
221. Green Acre (viver na campa)
222. Estado do relvado (futebois em Fátima)
223. A luneta de Tesauro (as barbas do barroco)
224. Apre, òpera! (los hermanos Marx)
225. O alienista (loucura no prego)
226. A Santola satânica («também há pica-pau»)
227. «É o bicho, é o bicho» («vou-te devorar, crocodilo eu sou!»)
228. A bagunça dos braganças (restaurações)
229. Os arrozes que te dou (e as arrofadas que te roubo)
230. Os benefícios das dúvidas (e os malefícios das dívidas)

Thursday, September 13, 2007

Paradoxo do cretense (variações)


todos os cretenses são mentirosos (diz o filósofo cretense)

todos os cretenses são mentirosos (diz o estrangeiro)

nem todos os cretenses são mentirosos

alguns cretenses são mentirosos

só são mentirosos os cretenses que dizem que são mentirosos

só não são mentirosos os cretenses que dizem que são mentirosos

eu sou mentiroso

todos os homens são mentirosos

alguns homens são mentirosos

a linguagem mente

a linguagem mente sempre

a linguagem mente às vezes

a linguagem é uma mentira que serve para comunicar uma não-mentira

a linguagem não mente sempre

a linguagem não é uma mentira nem uma verdade

a linguagem mente e não mente, quer (por vezes) dizer a verdade, embora não consiga dizer a verdade

eu sou e não sou mentiroso

eu só sou mentiroso quando escrevo

eu posso mentir no que digo mas o meu corpo não mente no que faz

mentir sem mentir é fingir

a linguagem não mente, finge

não há hipotese da linguagem não ser mentirosa a hnão ser que se parta do proincipio que a linguagem é fingidora

o poeta é um fingidor (Pessoa)

a poesia é um fingimento

a poética é a teoria das ficções

toda a teoria é uma ficção

logo: a poética é a ficção das ficções

ars sine sciencia nihil

sciencia sine ars nihil

a aletheia sem o pseudos é nada

aletheia me pseudos tipote estin (faltam as declinações)

truth without liying is nothing

Sunday, June 17, 2007

o paradoxo de inês toste proença


continuando as arrumações, encontrei um maço de poemas, meus, ou de «Alcino, o Alexandrino» - um livro de tricas e considerações morais, estilo «antologia grega», escrito entre 88-92 com muita maldicência e filosofia de permeio - sendo um livro «pseudomínico» é o mais biográfico nos pormenores de vidas, minhas e alheias. Dou um exemplo, fracote, se bem que Creon nuns casos seja um e noutros seja outro. Quem é (neste caso) Créon?


Lembram-se de um tal Creon

miserável na vida e mau poeta

e para o qual o objectivo verdadeiro

era ter fama, fêmas e dinheiro?

Hábil parasita, mudou-se de ramo,

é hoje actor e tem outro amo

ao qual suga todo o ouro e comida

enquanto aguarda a glória em vida.

Tem «conhecimento muito» e estratégias,

está quasde a alcançar uns louros tais

que ele não os tendo, nos dá invejas -

mas o de amanhã fácil triunfo

é ao milimetro adiado. Que fado!

Que mais fará Creon? Que mecenas

voltará, candido, a enganart?

E de actor em que é que se irá metamorfosear?

Como suportará novas penas?


a minha intenção era, porém, trasnscrever apenas este paradoxo infantil (da inês, minha filha)datado de 1 de Janeiro de 2004 que está transcrito a lápis no fim da folha:


o que eu quero

é aquilo que eu ainda

não decedi

Saturday, June 16, 2007

translating vieira


it's quite modern

it's old tune

it's balalaika (are we late?)

it's barbecue (not so soon!)


encontrei isto na capa de um velho dossier - está longe de ser brilhante


é a versão «bifana» do poema emblemático de Manuel Vieira


é moderno

é desusado

é pandeireta

é pato assado

Saturday, March 24, 2007

samadhi samba




I am from the days when one valued that cliché of semiotics that we called, what a lark,“floating meaning” (taken from Barthes and other such sneaky rascals!).

I like to keep my distance, without an aestheticising elegance either of an intentional art (O, realm of the obvious and the coded!) that stands on tiptoe in supposedly “political” or “poetic” explanations (note the inverted commas!), or of those inebriated by the ineffable and the roast sardines of the sublime (as art, the sublime has been bluff and rhetoric, from Caspar David Frederich to Rothko, and if possible beyond the latter).

I prefer warmer, less gloomy and more tantric versions.

The exhibition is not thematic (to Hell with half-baked themes!), but is climactic. It is called Samadhi Samba because I am a devoted practiser of yoga (practice above all else, the rest is idle chat, or just idle!) and also because the imaginary Indies have been beating (drumming?) in my blood since my tender childhood days.

Large scale drawings, paintings(I would not go without this experience!) and somewhat sculptural installation counterbalance my previous exhibition at Lisboa 20, in which I scratched away at more immaterial and chaotic situations (via scanner) with a photographic appearance.

The problems of the spaces are smuggled from medium to medium, but their fleeting coupling is diverse, and the nuptial spume is what is seen here. Chattering, emotion, backchat,murmurings, or as might be said by (see below) A. L., “apathy, trance, euphoria, revolt,anguish, serenity, etc.”

I feel like calling up some travellers – Álvaro Lapa because the body, life, literature (and theory, even pretending that it isn’t) and other things are inseparable from that which we stubbornly call art (with a post-Nietzschean joy that is stronger and more aware that that of the Greeks); Marcel Broodthaers because he waves to me with an experience within an irony beyond irony; James Lee Byars and his occasionally performing and then sculptural pythagorism (but corrected in an ultra-profound version (sod transgression, it is an adolescent thing!), more and more deepening a “porno-ecology” in complexity (what is this?)); and also Richard Tuttle, for his kindness and captivating scruffiness.