Sunday, December 02, 2007

ecletismo e sincretismo


A «homeostética antes da homeostética» começou por ser um brado ou um slogan contra o ecletismo através do sincretismo. Não estamos bem a ver a diferença, dirão alguns. Mas é uma questão estética essencial - aquela que traça a linha entre o consumo passivo e a digestão crítica, ou, como na fábula do Manuel João Vieira, entre o bruto Sharkey o Polvo e o Ernesto o Ornitorrinco Honesto. É um pouco o sensus communis da arte versus as teorias especiais - Anne Cauquelin chama a esse termo doxa:

La doxa pour moi, ce n'est pas quelque chose de mauvais, c'est le paquet de tradition que nous avons dans la tête, et qui se trimbale comme il peut en s'habituant aux choses, en s'accoutumant. Il est d'ailleurs très malléable, parce qu'il attrape au fur et à mesure ce qui se passe, il les enfile dans une espèce de sac qui est remué. Ce que nous pensons de l'art, c'est ça. J'appelle cela une vulgate. Ce qui n'est pas du tout un terme péjoratif. C'est le mot pour désigner ce que nous avons le plus communément dans la tête quand il s'agit de l'art. C'est ce avec quoi, devant les objets, nous réagissons. C'est extrêmement prégnant. Il est vrai que je dis: il faudrait s'en séparer. Il faudrait faire autre chose, mais moi comme vous, comme le plus savant des historiens de l'art, et le plus pointu des critiques d'art contemporain, on a toujours les mêmes réactions devant les mêmes objets, et il n'y a rien à faire. C'est quelque chose de solidement ancré, très difficile à bouger. C'est cela comprendre.

Foi neste sentido que a Homeostética se constituiu com e contra a doxa dominante, criando outras noções deste termo mais perto do «original» Parmenidiano, e contra a simplificação deste termo pelos barthesiamos e os helenistas que tomam doxa como um termo já transfigurado por Platão.

Sunday, October 28, 2007

Cancioneiro Explicadista do menino Eduardo


Numa modesta homenagem ao grande e escarafunchissimo percursor (ò mestre)na secreta (de porca) cadeia pornoecológica (refiro-me òbviamenta a E. B., a propósito do qual o Alexandre Conefrey aguarelou recentemente um «Arrgh!»).

E.B. (batarda para os inimigos, eduardo para os intímos?)introduziu o titulismo complexo de uma forma sistemática, referência obscura, marota, òbvia, piada particular, «trocalho» (años 70) - literatura que acompanha a «yarte» (como, por exemplo. em Kitaj, mas poderiamos recuar a Duchamp e outros marmanjos espirituosos). E.B. também é um extraordinário atractor de gralhas alheias, que se ajustam conspirando contra a sua boa imagem.

Neste caso trata-se de forjar uma autobiografia rápida com referências à auto-estima erótica da nação

Assim sendo aqui vai




(romance experimental em titulos de pintura)





1. Guide to Cowture (gaudemus!)
2. Vortex Explicadista (virtús complicadista)
3. Baba de Babel (Vavá de Marcelo)
4. Mães de Manhe (Minhos de Mim)
5. Traumatic trends in tantalizing totalitarism today
6. Horror Minimalis (terror puritano)
7. Demiurgia abscondita (fusões empresariais)
8. Explicação das Massas à Arte (à putanesca (+ didactismo)
9. Decomposição de Porneia by Julian Ratón (d’aprés Julio Pontinha)
10. The Nacho Men (relleno)
11. L.C.C.Q. (hot chocolate)
12. D’aprés d’aprés quelque chose (hipernature morte)
13. Orgias Conceptuais em Alcabideche (escabeche neo-situacionista)
14. Claude Pornopop Von Lorrain & Vilhena (suite pornoecologica)
15. Boomerang Boom (representação cómica dos infernos)
16. The Return of the Turner Prize (although I do not hope to win the Turner Prize again)
17. Halt Couture (é pericoloso sporgersi)
18. Estética Hespérica (logos spermatikos)
19. Frique Fragmenta (fake folk)
20. Enragé (aux dames citoyens!)
21. Yoga para caramillos (toga para matraquilhos)
22. Terno terrorismo (remembering Torremolinos)
23. «Sempre quis ser um enfant terrible» (ora, ora!)
24. Testamentos vetero-budonguianos (eternidade vaca)
25. Hedoné (after all) and not dianoia (g’anda noia!)
26. Rise and decay of imbecility (vide Vico)
27. The remains of late conceptual art (mindscape)
28. Danos co-laterais de excursões culturais
29. Introduction to oblivion (não te escapas!)
30. La Naturaleza es muy eclética (Diós, lo mismo)
31. In The Seraglio with Confucius (chinoiserie)
32. Carrilhões no beija-mão a Carrilho (saudosa guitarra guterrista?...pfff!)
33. Elastic is better than classic (and even better than nature)
34. Cabula Rasa (Cabala de rasas)
35. Beatriz Batarda (after Dante, o pedófilo) – uma vida novinha em folha
36. Cozidinho português de artes (ou cataplana?)
37. Minotauromaquias tretatéricas (minorias beatnicas)
38. Irreversiveis (lições de pianismo isotérmico)
39. Chic cheapness (double payed)
40. Tronos & Indeterminações (traumas & turbilhões)
41. Dez puros & Pés Duros
42. Modos de ver (e foder) o freguês
43. O teu estilo é a minha forca (ton stylo c’est ma farce)
44. Never Clever (To much clever to be clever)
45. Esperteza Saloia en su salsa (com alhinho)
46. Bater a bota (abater a beta)
47. Estafado (estufado!)
48. Gaita de gota (a vida dá muitas multas)
49. O cúzinho canalha da Europa (Samora Machel no cabo Espichel)
50. Mafarrico Honesto (marafona funesta)
51. É do Branquinho (da Fonseca)
52. A mariquinhas (rua bizarra, lua bezerra)
53. Édipus Titannus (vacas loucas, trevas louras)
54. A moda do pisca-pisca e da piscanálise (Freud Pimba em 90 e tal)
55. É coiso coiso (nhec nhec nhec nhec)
56. O Calhambeque (quero buzinar)
57. Gaitas de Folhos (gatas de folias)
58. É fodido! (mas finório!)
59. Morcão babélico (papão barbélico)
60. Fisioigonomia (dar de caras com um cara)
61. Méxicu (quina barreiras)
62. O quéquinho da Bárbara (as quecas dos bárbaros)
63. Odvidovinho (tapume em Los Angeles)
64. Virtus (invitation to invention)
65. Tirar a temperature (centigrados e Celsius)
66. Supressionismo abstétrico (piruetas do piruças)
67. Lolita na sanita (2) (Nabokov na Cova da Moura)
68. Castilhão, o cortesão (Feliciano en su Castilho)
69. Gingão ( laca, juke-box e festival da canção)
70. Ólio sobre tôla (ou tóla) – pintura lambuzada em lambada
71. Pasolini ( Mamma Mia e Papa Pio)
72. Merda no Metro (renda retro)
73. Josélito Cerquera (El Bimbo!)
74. Pelos beicinhos (trazê-los sempre)
75. O Grelinho Pelado (ou grilado e peludo?)
76. Vêr pelo canudo (vir-se pelo carnudo (var.: cornudo))
77. Onde está o buzilis (what’s up doc?)
78. Descomplexado (desfiável e desconfiável)
79. Antropologia Tripeira (antologia azeiteira (estrutural III))
80. Pensamentos que te fazem artista (artes que te dizem «penso»)
81. Macaquinhos do chinês (no sotão)
82. De outro nivel (era o que faltava)
83. Abonecado (biqueira de sapatos)
84. Os prognósticos do despois (e as despesas das pensões)
85. A modos que... (panegirico de uma célebre modista)
86. O Código da Manicure (e da Madame Curie (vedantica))
87. Apitó Cumboio (o pito do regime)
88. The Devil is a Woman (a civilidade para meninas, não é, Marlene?)
89. Coup de Foudre (estribilho joyciano)
90. Anch’io son artolas (andaste a ler nos Astros ou nas Bolas?)
91. Grande vaca (de estimação)
92. Abochanado ( Mein Herr)
93. Leite-creme (como só faz a avózinha)
94. A bota com a perdigota (bater e não bater)
95. Os alhos e os bugalhos (dar ou não dar)
96. O cú com a cara (? ou não?)
97. És mesmo quadrado (a propos d’un fameaux tableau)
98. Stuzzicadenti (com pizzicatos)
99. O Ouro do Reno e os Palitos de La Reine
100. Mr. Natural na Brandoa (a quem doer!)
101. A profanada marquesa (mijo de megera indomável)
102. A esmolinha e o ceguinho ( la caja)
103. Fingerprints (The Flinstones)
104. Cosme (edições)
105. Piranhas no Pireu (picanha no pneu)
106. (classe alta em baixa) (laparoutos na lapa)
107. Legião Portuguesa (sob a sombra de Beau Geste)
108. O provincianista (e o cosmopoliteiro de Miranda)
109. A Pintora Rosa (Pink Lassie, Punk Lessing)
110. Overdrive (oldsmobile sutra)
111. Cavalcanti (onde está a prima memória?)
112. Os embaixadores (em Calavera de La Reyna?)
113. Oxfordiano nú em Cabanas de Tavira (alguns refrões wittegensteinianos e certos feijões)
114. Alcuíno (Aleluias)
115. Pinto da Bota (Tinto da bosta)
116. Olheirismo (caneladas e outras farras)
117. Desvestimentos (majas desnudas, baja las bermudas)
118. O que dá na veneta (e o que doi na venta)
119. Romy, a Mulher-Leoparda (beurk! No comments!)
120. Kaúlza (arriaga de porrada)
121. Eduardo, Lapa ed io (sonetofilia 7)
122. Broncó Bili (branca de neve e as sete citações)
123. Ezra na prisa (maningancias malatestinas)
124. Batatinhas fritas (baratinhas belgas)
125. Os tempos que correm (e os espaços que desistem)
126. Folias pastora (Cyrano e o sicrano)
127. Palestrina na latrina (oleo jacto est)
128. Bera Ibéria (e tola Itália)
129. Esquentamento & espancamento (casuística)
130. Bairro Alto (e pára o baile)
131. O prepucio de Propécio (o catarro de Catulo)
132. Resguardos próprios de um cavaleiro inducado como deve ser (disciplina sentimental)
133. Imperial (mais uma...)
134. Nhanhosa (nojenta)
135. Saleros de Salieris (fandangos de fancaria)
136. Os cão-pichas ( e as ratas de poche)
137. Um Valium para messieur Voltaire (um supositório para a Madame Lacontesse)
138. Maçonaria do tabaco (opus dei do tintol)
139. Campeonato nacional de yo-yo (mau)
140. Balada do homem-rã (de Brito, o Profeta)
141. Colosso de Rodão (caliça de Rodin)
142. Cadência perpétua (wagnerianismo minimalista)
143. Camonismo, camionismo e comunismo (g’anda Camões!)
144. O que é vital em Ravena (o que é fatal na faena)
145. Burrito (ai burrito!)
146. Saúdinha é que é preciso (plagios medicinais Couto)
147. A arte de bem passar depressa a ferro (a mamã é que sabe!)
148. Torresmos (a rodos)
149. Merendinha (é de vómitos!)
150. Roma, cidade aborto! (ou Pavia, em nenhum dia)
151. Rafeirismo desobriga (nobreza desbraga)
152. Pinga e apeneia (respiração assistida)
153. Praceta da treta (virginia victorino)
154. Suicidios por interpostas pessoas (ad hoc)
155. Panqueca pateta (gofre)
156. Marajás, marujos, maracujás (Cezarini no Santini)
157. Vasos gagos (visas gagás)
158. Absprexionism (autorretrato politonal em cancioneiro policial)
159. Lisbon School (p’ra inglês ver)
160. Trapalhadas sexuais (o bombeiro e o taberneiro)
161. Figura de urso (factura de asno)
162. Arenque furtado (ilhas Faroé)
163. Lanchonete (garota junto a estádio)
164. Ford Capri (c’est fini)
165. Fox a trote ou a galope (Samantha meats Kosuth)
166. Tangoso (Carlos Gardel sem gardol)
167. Paneleirice (francesinha especial)
168. Vilipendência (dependência bancária)
169. Horta de arte (coscovilhices ajardinadas)
170. Marmanjo, um tal (que conheci em tempos)
171. Retrato na retrete (com paisagem ao fundo)
172. As sisters da Cister (e o papá surrealista)
173. Dar bandeira (rir a despregadas para as empregadas)
174. Pepineira peninsular (um pepino breve)
175. Propinas e propaganda (Agit Pop)
176. Esquinas (equinócios)
177. Primavera marcelista (mandrágora marxista)
178. As ovas de Colombo (os ovários de uma ova)
179. O chunga do ventoso (teoria do romance japonês)
180. Tortilha schubertiana para mr. Rossini (truta com trufas)
181. Sapateado (da turma da Mónica)
182. Calçada portuguesa com calçado português (campeão nos pés)
183. El (Buñuel e Lissitsky)
184. Tropa fandanga (a marchar é que a gente se entende!)
185. Golpe de Sartre (enchidos «enxistencialistas«)
186. Solitária (bicha)
187. Cavalaria Rusticana (fanhosa)
188. Higinus e descreminação (racismo?)
189. Pés de atleleta (pús de aletheia)
190. Escadarias de Odessa (em picadilho)
191. Saldanha Sanches (o mártir maoísta)
192. Tocar a finados (traques de finórios)
193. Cara de um cú (os bifes, ça existe?)
194. Sanjo (sapatilhas)
195. Coelheira anti-modernista (arf! arf!)
196. Shakira em Vila Franca de Xira (camp e campinos)
197. Carmo y Trinidad (sempre a cair)
198. Amor de Perdigão ( Madalena a seus pés)
199. Amor de Salvação (grande barrete!)
200. Curadorias (champô Duchamp anti-arte)
201. Echarpe (de escape)
202. De Arroios aos Anjos (ataque de nervos!)
203. Réguas Molin (Edgar Morin)
204. Respiração boca a boca (deixa-te de bocas!)
205. Oligarquia na autarquia (de Antioquia a Antuérpia)
206. O catano e o caneco (Fred Astaire)
207. Estaline gorado (goraz estufado)
208. Golpes baixos (altas cavalgadas)
209. De profundis (perfume escatológico)
210. A Madona da Madragoa (a mandona da Mouraria)
211. Marraquexe e Massamá (Mallarmée e a missa de L’Homme Armé)
212. Periferias artistica (patifarias autistas)
213. Comédia de Deus (avé Cesar!)
214. Marinheiros de garra (comandos de gorro)
215. Luis Euripo (levar uma pêra e depois ir à rede)
216. Os pastorinhos e o lontra (itenerário oitentão)
217. Jaime Neves (obrigadinha p’lo brigadeiro!)
218. Balada de Gil Paixão (el cheiroso)
219. As ilusões aparecem (as parideiras aludem)
220. Xissa penico (chapéu de Chanel)
221. Green Acre (viver na campa)
222. Estado do relvado (futebois em Fátima)
223. A luneta de Tesauro (as barbas do barroco)
224. Apre, òpera! (los hermanos Marx)
225. O alienista (loucura no prego)
226. A Santola satânica («também há pica-pau»)
227. «É o bicho, é o bicho» («vou-te devorar, crocodilo eu sou!»)
228. A bagunça dos braganças (restaurações)
229. Os arrozes que te dou (e as arrofadas que te roubo)
230. Os benefícios das dúvidas (e os malefícios das dívidas)

Thursday, September 13, 2007

Paradoxo do cretense (variações)


todos os cretenses são mentirosos (diz o filósofo cretense)

todos os cretenses são mentirosos (diz o estrangeiro)

nem todos os cretenses são mentirosos

alguns cretenses são mentirosos

só são mentirosos os cretenses que dizem que são mentirosos

só não são mentirosos os cretenses que dizem que são mentirosos

eu sou mentiroso

todos os homens são mentirosos

alguns homens são mentirosos

a linguagem mente

a linguagem mente sempre

a linguagem mente às vezes

a linguagem é uma mentira que serve para comunicar uma não-mentira

a linguagem não mente sempre

a linguagem não é uma mentira nem uma verdade

a linguagem mente e não mente, quer (por vezes) dizer a verdade, embora não consiga dizer a verdade

eu sou e não sou mentiroso

eu só sou mentiroso quando escrevo

eu posso mentir no que digo mas o meu corpo não mente no que faz

mentir sem mentir é fingir

a linguagem não mente, finge

não há hipotese da linguagem não ser mentirosa a hnão ser que se parta do proincipio que a linguagem é fingidora

o poeta é um fingidor (Pessoa)

a poesia é um fingimento

a poética é a teoria das ficções

toda a teoria é uma ficção

logo: a poética é a ficção das ficções

ars sine sciencia nihil

sciencia sine ars nihil

a aletheia sem o pseudos é nada

aletheia me pseudos tipote estin (faltam as declinações)

truth without liying is nothing

Sunday, June 17, 2007

o paradoxo de inês toste proença


continuando as arrumações, encontrei um maço de poemas, meus, ou de «Alcino, o Alexandrino» - um livro de tricas e considerações morais, estilo «antologia grega», escrito entre 88-92 com muita maldicência e filosofia de permeio - sendo um livro «pseudomínico» é o mais biográfico nos pormenores de vidas, minhas e alheias. Dou um exemplo, fracote, se bem que Creon nuns casos seja um e noutros seja outro. Quem é (neste caso) Créon?


Lembram-se de um tal Creon

miserável na vida e mau poeta

e para o qual o objectivo verdadeiro

era ter fama, fêmas e dinheiro?

Hábil parasita, mudou-se de ramo,

é hoje actor e tem outro amo

ao qual suga todo o ouro e comida

enquanto aguarda a glória em vida.

Tem «conhecimento muito» e estratégias,

está quasde a alcançar uns louros tais

que ele não os tendo, nos dá invejas -

mas o de amanhã fácil triunfo

é ao milimetro adiado. Que fado!

Que mais fará Creon? Que mecenas

voltará, candido, a enganart?

E de actor em que é que se irá metamorfosear?

Como suportará novas penas?


a minha intenção era, porém, trasnscrever apenas este paradoxo infantil (da inês, minha filha)datado de 1 de Janeiro de 2004 que está transcrito a lápis no fim da folha:


o que eu quero

é aquilo que eu ainda

não decedi

Saturday, June 16, 2007

translating vieira


it's quite modern

it's old tune

it's balalaika (are we late?)

it's barbecue (not so soon!)


encontrei isto na capa de um velho dossier - está longe de ser brilhante


é a versão «bifana» do poema emblemático de Manuel Vieira


é moderno

é desusado

é pandeireta

é pato assado

Saturday, March 24, 2007

samadhi samba




I am from the days when one valued that cliché of semiotics that we called, what a lark,“floating meaning” (taken from Barthes and other such sneaky rascals!).

I like to keep my distance, without an aestheticising elegance either of an intentional art (O, realm of the obvious and the coded!) that stands on tiptoe in supposedly “political” or “poetic” explanations (note the inverted commas!), or of those inebriated by the ineffable and the roast sardines of the sublime (as art, the sublime has been bluff and rhetoric, from Caspar David Frederich to Rothko, and if possible beyond the latter).

I prefer warmer, less gloomy and more tantric versions.

The exhibition is not thematic (to Hell with half-baked themes!), but is climactic. It is called Samadhi Samba because I am a devoted practiser of yoga (practice above all else, the rest is idle chat, or just idle!) and also because the imaginary Indies have been beating (drumming?) in my blood since my tender childhood days.

Large scale drawings, paintings(I would not go without this experience!) and somewhat sculptural installation counterbalance my previous exhibition at Lisboa 20, in which I scratched away at more immaterial and chaotic situations (via scanner) with a photographic appearance.

The problems of the spaces are smuggled from medium to medium, but their fleeting coupling is diverse, and the nuptial spume is what is seen here. Chattering, emotion, backchat,murmurings, or as might be said by (see below) A. L., “apathy, trance, euphoria, revolt,anguish, serenity, etc.”

I feel like calling up some travellers – Álvaro Lapa because the body, life, literature (and theory, even pretending that it isn’t) and other things are inseparable from that which we stubbornly call art (with a post-Nietzschean joy that is stronger and more aware that that of the Greeks); Marcel Broodthaers because he waves to me with an experience within an irony beyond irony; James Lee Byars and his occasionally performing and then sculptural pythagorism (but corrected in an ultra-profound version (sod transgression, it is an adolescent thing!), more and more deepening a “porno-ecology” in complexity (what is this?)); and also Richard Tuttle, for his kindness and captivating scruffiness.

Wednesday, March 07, 2007

«o improfanável?»


Agamben remata, com o lirismo habitual que herdou de Heidegger, uma afirmação que não pode deixar de ser célebre: «a profanação do improfanável é a tarefa politica da geração que vem» - Agamben esquece-se que a «profanação» faz parte da estrutura do sagrado, e que é um acto cúmplice que o reforça. Não se percebe onde é que Agamben quer chegar. Julgo tratar-se de um combate «contra» a pornografia como se esta fosse um limite vazio do profano. A pornografia é muito mais a imagem do que os heideggerianos chamam o Ser, do que um fantasma maldito ou um esvaziamento gnóstico. O Ser, ou outros substitutos adequados ou inadequados como Deus, os deuses, o brahman e outras tretas verbais são, enquanto experiência do dominio da porneia - são experiência-essência, como diz o termo sânscrito rasa. Raso vai sah. «O (absoluto) é sensação» (traduz Danielou). Mesmo quando é decepção. Mas a decepção, que na sexualidade é mais òbvia porque mais contrastante, resulta da imensa intensidade, não sei se profana ou sagrada... A nossa tarefa (o que vem, e o que se vem), e não a das gerações futuras (as que messianicamente hão-de vir não vindo nem deixando de (se) vir), é apenas o aprofundamento de uma pornoecologia - mais e melhor rasa.

o cadáver de baudrillard



Provávelmente Baudrillard era apenas um simulacro que pastava cinicamente no jogo sujo das hipersimulações que tudo devoram. A morte de Baudrillard é tão fria quanto a de Sade - não dá para verter lágrimas. É um dos pensadoes mais anti-sentimentais de sempre, e nesse sentido é francês até à nausea, com uma elegância demasiado chique e irritante. Nunca senti simpatia pelo Baudrillard. Ele foi fundamental no mundo da arte em meados dos anos 80 - o seu mais conhecido divulgador foi Peter Haley que conseguiu conciliar o Baudrillard com o Foucault que este odiava. Sim, para J.B. a arte de agora (e talvez a de sempre) era nula, no que tem alguma razão. Mas o fantasma de Baudrillard, menos americanizado, acabará por me visitar muitas vezes. A sua figurinha atarracada e algo ridicula é mesmo a de alguém em busca de um enigmático agigantamento. Apesar de tudo, Baudrillard como estereotipo, amigável adversário e personagem de banda desenhada teórica acabará por me inspirar, como já o fez no passado. Da bomba que ele gostaria de ser, vamos poassar a recordá-lo como traques. Il faut bander, sourtout aprés et sans Baudrillard!

Sunday, March 04, 2007

el provincianismo homeosestético


Pois o grande e «cosmopolita» Cerveira Pinto, em debate transcrito no catálogo da exposição de Serralves sobre os anos 80 faz a sintomática referência aos Homeostéticos, que até acaba por ser simpática, referindo-nos como algo que foi provinciano até ao fim.
Embora tenhamos sido, quanto ao ideal provinciano das «internacionalizações» (em busca de um lugarzito no ranking entre os quase 500 primeiros do mundo), menos significativos do que outros tímidos heróis nacionais, também fomos a versão mais conscientemente crítica do «fenómeno» buscando alternativas internacionalisticamente nativas.
O importante é perceber em que medida a questão do «provincianismo» é significativa na forma de nos distanciarmos deste ideal «estrangeirado» tão enraízado nas elites portuguesas há pelo menos 500 anos.
Sintomáticamente a 2ª exposição homeostética chamava-se «um labrego em Nova Iorque», e a última significativa, Continentes, jogando com estereotipos do imaginário tuga. Uma exposição mostrava a envergonhada aculturação e o flirt labrego com a lógica da galáxia espampanante do art world (tilt!), a outra reencenava atrevidamente o mundo com um filtro paródico aos mitos expansionistas (ò ingénuos quintos-impérios) e ao decrépito legado das mitologias salazaristas.
Numa perspectiva miserabilista, à la Batarda, diria que somos um país muito pequenino, com um mercado de arte francamente ridículo. Falar de boom de mercado nos anos 80 só se foi no Porto, aqui por Lisboa praticamente não pingou – trata-se de invenção de historiadores dos anos 90(com um habitual ressentimento e nostalgia de não ter curtido «la movida»). Houve foi um boom de divulgação na imprensa escrita, coisa que hoje escasseia para quem quer que seja.
Porém colocamos a questão do provincianismo e da «falta» de identidade desta nossa comunidadedezinha em termos muito semelhantes a que a fez notávelmente o Caetano Veloso (entre outros?). Não falar do que somos e fomos é ignorar uma situação sociológica e antropológica que existiu (e existe) e que nalguns aspectos mudou muitíssimo, mas noutros permanece com os seus estigmas e mentalidades.
É certo que também fomos e somos internacionais, internacionalistas (o mais possivel) e internacionalizados (um bom bocado) ou internacionalizáveis (será?). Não estamos entre os 500 primeiros, mas também não fizemos por isso. Deu-nos para outras coisas, ou então não tivemos pedalada... o que é o mais provável!
Mas registe-se a incapacidade de o meio que nos está mais «aqui» ser pouco mais do que ecos de modas dominantes. É certo que nos repugna o lado exibicionista dos espanholismos da arte que nos é mais próxima geográficamente. Por isso o que se vai produzindo por cá parece cada vez mais germânico e timidamente americano (apesar das internetes que nos oferecem o resto do mundo e mil e uma oportunidades de sermos bem mais «diferentes»), depois de enterrado o figurino francês. Sim, assumimos o provincianismo, na mais cosmopolita das perspectivas.
Ailariloléla!