Saturday, November 11, 2006

«pornoecologia» segundo os italianos


O termo pornoecologia já existe pelo menos desde a publicação em 92 de um livro italiano sobre as pornochachadas da televisão (em que a itália é pródiga), e o termo, julgo, também deve ter sido usado por Braudillard (ai o safado!). Não temos nada a ver com esses gajos. A nossa perspectiva é oposta. A pornoecologia é uma ecologia dos dissimulacros e não uma submissão cínica (com orgulho teórico) à hipersimulação. A simulação é característica dos anos 80: consumo passivo. O uso que Braudillard faz é distinto, por exemplo, do de Deleuze que é neo-nietzchiano e anti-platónico. Mas há uma imprecisão em Deleuze que temos que corrigir socorrendo-nos de filosofos setecentistas como Acceto. É a mentira que se sabe mentira, e que como tal não mente que nos salva do simulacro totalitarista que implica a aceitação de qualquer versão platónica da vida - por isso a «honesta» dissimulação tem um fundo ecológico nas 3 formas típicas de mimetismo já categorizadas desde à muito por Callois: camuflagem, dissuasão e travestismo. É nesta última categoria dionisíaca/shivaísta que nos enquadramos, porque é nela que a sexualidade é evidente e se emancipa como transito, tal como Tirésias mudando serpentinamente de sexo. Não podemos separar Tirésias de Dionísio, porque ambos são versões do mesmo fundo ambivalente.

Internet will become obsolet in a near future



Internet will become obsolet in a near future? Yes!

Porém, enquanto o desconhecido não nos surpreende «tecnológicamente»

A internet já nos oferece, se a isso nos dermos trabalho, a possibilidade de organizarmos Metamuseus e Metabibliotecas (literárias e sonoras assim como cinematecas) com a maior das facilidades.

Não vale a pena queixarmo-nos dos museus, eles já aí estão, em nossas casas, misturando-se com o nosso habitat. Desde há 3 anos que concentro em apenas um DVD (para já) informação visual (doxa) e literária (paradoxa) que difícilmente encontraremos concentrada nalgum museu.



A televisão de alta defenição e a alta velocidade telemática de acesso dão-nos cada vez mais a possibilidade de dispormos de imagens e sons de alta defenição que tornam as nossas orelhas e olhar cada vez mais exigentes - ao contrário da antiga televisão que aviltava sonora e visualmentos os nossos sentidos. Isto introduz uma exigência na qualidade dos programas e das imagens que antes era bárbaramentte mascarada.

Esta melhoria de qualidade começará a alterar a nossa percepção cinemática. O perigo vem da inércia e de alguns aspectos desincarnantes resultantes da passividade e imobilidade do corpo. Por outro lado a alta defenição acentua o caracter «pornográfico» e hiperrealista das coisas (não há diferença essencial entre pornografia e hiperrealismo para mim). A maquilhagem é cada vez mais difícil de disfarçar e iremos passar de uma situação hipocritamente pornográfica (hoje os conteúdos são pornolixeira) para uma sexualização mais doce, lenta, aberta e menos ostensivamente violenta.

Estas mudanças alastram à paisagem e ao comportamento. A televisão já era parte do nosso corpo e do nosso environment. Tive uma experiência hospitalar horrivel à 12 anos atrás com uma centena internados no mesmo quarto a ouvirem simultaneamente vários canais de rádio e televisão (não, não era nenhuma peça de John Cage!).

Mas.. esta internet e tecnologias acutilantes tornar-se-ão obsoletas em breve. Qual será a próxima fronteira?

babelizando


Dever-se-iam criar novos diccionários para a produção massiva e caótica de palavras que se estão criando neste momento? Se é certo que algumas linguas vão desaparecer, estamos a flutuar num turbilhão de palavras sincréticas que são novas que não podemos absorver senão através de motores de busca ou de interesses decisivamente particulares. Há uma ecologia babelica nesta sobreabundância. Sim, porque continuamos a comunicar normalmente, apesar da net se ter finneganado - o seu todo é um pesadelo, o seu uso extremamente produtivo. A net é um environment monstruoso, cvonstiruuida sobretudo por lixo vivo e àgeis sentimentos (o bloggismo introduziu ainda mais emoções ao rubro fácilmente acessíveis). Eis o que a Times (de Londres) publicou há uns meses atrás:

The Internet “has changed English more rapidly than any invention since paper,” said Ben MacIntyre in the London Times. Literally thousands of new words are invented every month, most of them on the Web, and most by non-native speakers. Hybrid words coined by, say, Chinese or Hindi speakers are moving inexorably into the mainstream. By November of this year, the language will log its 1 millionth word. That’s 10 times the number of words in French. The last time such profusion occurred was during Shakespeare’s time, when “the rapid absorption of new terms and ideas through exploration, colonization, and science enabled a great flowering.” The Bard himself invented around 1,700 words, including “besmirch,” “anchovy,” “shudder,” and “impede.” In our own time, George Bush has given us “misunderestimate.” Even this tradition-bound newspaper has contributed: Last year, we reported that there was a Bantu word ilunga, meaning “a person who is ready to forgive any abuse for the first time, to tolerate it a second time, but never a third time.” Turns out there was no such word in Bantu. But thanks to the bloggers who discussed our article, “it exists now in English.”

from PARNASUM OBSCENUS





ecology
as theory
is really
out of control


environment
is
postponed
desire


fuck the flop


claude
lorrain
goes to
hollywood
tomorrow


fresh utopias
bring
happiness


play
the pop,
pimp!


burocracy
roars
in the
press


what we
need
is
an art
form
to an art
failure
(not
love
anymore)


we love
sexy
godesses
forever


weekend
interactionism
is good
for sex
and
religion


trust
in your dog
like god
trusts me


become
the plant
in the mind


shake
the shock
and shape
the show:
business
is
low


if you are
out
failure
is
certain,

if you are
in
sucesse
is
kin



you need
a good
nickname
in order
to be
the number
one


give me
a peace
for a chance
or change


knoweldge
is a blind
lover


fame = fake


what you
say
with the
same
is not
what i say
whith the
same


stronger
than
paradise


to have
bubs
in
the brains
is
so
beautiful


wild
as
a will


before
the Word:
the abyss
of
the kiss


become
what you
will
never
be


although
I do not
hope
to win
the Turner
prize
again


bloom
as
a metaphor


flirt
with
the
raw
chaos
forever


memory
is a blind date
with
the past


trust
in oblivion


bring
the
body
back
from
reality
to
the
boldness
of
life


calypso
reshapes
your
body
for
the next
non stop
party


the master
mind
buddha
view

cosmos
is
dirty



serenity
is
a boom


life
brings
you
back
from
the
deeds
of
the
deads


your
hand
writes
the
nakedness
of
God
beautifully



ornement
frees

Friday, November 10, 2006

1/81 = BABEL


A imagem do post anterior é significativa do Topos Budonguiano:



BABEL ou BUDONGA é quase o mesmo (confluência sincrética de anti-citações, lixeira/recicladora liberalizante de todo o lixo civilizacional)

1/81 = 0,01234567901234567901234567901234567901234567901234567901234etc.

É surpreendente o 8 estar ausente. Temos o eterno retorno dos mesmos com a sábia elisão do oito. Haverá mais números assim?

Novos passos pornoecológicos





Quartos vazios com arte «ecológica» ou «povera» e outras ambientalices permanecem uma atitude submissiva e pré-museológica. As galerias parecem hospitais que preparam os funerais das retrospectivas.

As obras de arte, sobretudo quando estão nas galerias, já são um simpático compromisso com o mundo burguês, a alta finança e a indústria museológica. Precisamos de um compromisso pornoecológico para além de qualquer simulacro de contestação ou evasão desses compromissos inevitáveis.

A abstracção é o cadáver sintonizado de uma meditação desencarnante.

As emoções são digeridas enquanto preparam as palavras que as absolvem e as domesticam num «sentido».

Há determinadas palavras que nos lançam olhares escorregadios.

Temos que pensar a ecologia e a jardianagem a partir do facto de que a natureza também é poluição – os desiquilibrios ecológicos podem provocar quert destruições quer novas possibilidades de vida.

A história de arte contenta-se com os seus factos implosivos que preparam como microrupturas as restantes convulsões e catástrofes da história.

Afundamo-nos no modo como nos pulverizamos.

O carácter essencial da natureza é o tempo – o convite permanente à degradação e a restaurações diferidas.

O desenvolvimento da arte deve ser polilético e patafísico.

As categorias fraudulentas tornam os artistas mais comerciais e puros. Só uma categoria qure seja assumidamente fraudulenta devolve o artista às categorizações fluidas da natura.

A emotividade de um artista afina a sua perceptividade e vice-versa, quer ele se deleite no horror das micro-catástrofes em que se deleita a sua actividade, quer ele seja um criador projectual embrenhado em literatura de divulgação científica.

Os artistas não se limitam a pastar no seu território, mas também não conseguem ir muito mais além.

Cada homem ociedentalizado está condenado a transformar-se numa obra de arte auto-reciclável. Mesmo depois de morto.

As palavras mais banais tornam-se febris em contextos mais pretenciosos e abanam preciosamente os caudais dos sentidos.

Os curators são apenas domesticadores que se aproveitam da inércia organizacional dos artistas.

A nossa substituição da experiencia do tempo e do espaço baseia-se numa noção da matéria enquanto mantra progressivo.

A História hoje é um fortuito palimpsesto de residuos biográficos manipulados por lacaios académicos de um poder que cada vez é mais eco dos imperativos da comunicação social.

A história é «representativa», e nisso pouco difere do tempo. São os museus que introduzem a «abstracção» ao oporem uma pseudo-eternidade aos avatares temporais.

Somos por uma arte que faz confluir em si o quatidiano, mas numa prespectiva imanentista e relutante em abstrair-se.

A monumentalização é inevitável, mesmo nos casos que a contestam radicalmente – temos que aceitar a monumentalização como uma prega que nos devolve através do passado nacos do futuro.

A linguagem nunca é literal e procura biológicamente a polissemia para sobreviver – para isso recorre às errâncias metafóricas.

A linguagem ocorre sempre que nela ocorremos embriagadamente.

As linguagens atravessam-nos as cabecinhas e transpiram demasiado, sobretudo quando julgamos que as temos cá dentro bem fechadas.

As mutações inerentes à publicidade e às redes de comunicação mudaram a escala dos nossos pensamentos mais tímidos – agora procuram ecos planetários.

Os erros são muitas vezes uma intromissão bio-processual que nos convidam a reformar o resto e a mudar de rumo.

Uma vez que tudo está em estado de devir museu, estes deviam ser desdomesticados rápidamente, como uma selva em festa.

Os procedimentos da natureza não seguem padrões razoáveis – podem ser prudentes ou imprudentes. A natureza costuma ter alguma «razão», mas nem sempre.

O caracter inacabante da natureza faz com que tudo o que nos entregamos seja uma forma de art in progress.

Os jardins são como os jardins zoológicos, só quer sem animais – domesticação vegetal.

Todos as obras de arte são consumíveis pela sociedade. A natureza não nega em si o caracter mercantil da artephysis. Ao natural comércio da natureza e das coisas não se pode contrapor um caracter anti-mercantil porque este é anti-ecológico.
Os parques são residuos simpáticos (embora leofilizados) de natureza que nos dão vontade de fornicar com ela mais plenamente.

As questões de forma e intencionalidade são apenas condimentos para o entusiasmo pornoecológico.

A escrita é um espectro das representações que se deleita em negá-las.

Há nos dogmas e no non-sense algo apetecível e demente que nos dá vontade de divertir, para além de um poensamento prudente e infectado de hipercomplexidade.

Temos medo de ser controlados, quer artisticamente, quer de outras formas supostamente conscientes. Na verdade a vida é sempre intoxicação, e como tal há um controlo divino ou burocrático. Mesmo o Nada é intoxicante. Por isso preferimos uma predação delirante o mais plural possível, passando pelas monomanias e vivendo-as a alta velocidade.

Os curators tentam apropriar-se ingénuamente das obras de arte como se estas fossem dotadas de intencionalidades particulares e especiais e se destinassem a servir de polémicas em sociedades secretas. As obras de arte apenas são fábulas ruminantes.

Os museus são pálidos escravos das suas ardentes intenções.

As palavras tornam-se inadequadas sempre que os contextos são relutantes em aceitá-las.

A natureza só acalma parcialmente e acende germanicas nostalgias onde é fria – a natureza tem as suas estações e revela-se temível nas efevrescências tropicais e primaveris.

Suburbanizamo-nos galopantemente. Mas da entropia dos suburbios está a nascer uma neguentropia que pode por as paisagens em estado de erecção.

Os museus são filhos dos minimalismos – afastaram-nos puritanamente da versão sexualizada onde a arte gostava de cohabitar que era o palácio.

As coisas são processos hibridamente mentais, e as mentalidades tamvbém são comparticipadas por uma lixeira de coisas que se querem encarnar em novas coisas.

Não há metáforas radicais, custe o que custar – a radicalidade é apenas a ilusão de uma hiper-excitabilidade metafórica.

Thursday, November 09, 2006

pornoecological steps to a world wild pornoecology




Passo a passo. Para uma mundialíssima e selvagem pornoecologia. Selvagem como des-domesticada. Sélvaticamente culta.

A pornoecologia tem na arte portuguesa alguns percursores:

1) Lapa, nos seus Campésticos, no seu híbridismo assumidamente joyciano, no gosto pelo rasca dos bas-fons, no assumir a desordem rimbaldiana do espirito («Barulheira») - sexualidade com «campo» & complexidade. Alegorismo : interface sexualizada dos textos com as imagens.

2) Batarda, como pornografo assumido(anglo-latino), como exageta radical e pasrodista autofágico - um caso exemplar de como povoar a arte mais subtil, requinta, eliptíca, hiperintertextual com as mais desconcertantes «caralhices» (ai credo!). É a pornoexcelência (mas sem cacas campestres - o drama batardiano é uma espécie de sindroma esquizoanal). Mas,ò Batarda, quanto te admiro!

3)Ecologismo tantrico de Alberto Carneiro, também com excursões já «pornoecológicas» (fornicar tantricamente com uma pedra!). Carneiro é lírico e é visceral, quase préhistórico.

4)Pseudo-ecologismo de Joaquim Rodrigo. Não sei porque incluo o Rodrigo. Será por causa de uma suposta «ecologia» mental e dos materiais? Apetece-me incluir o Rodrigo. Pronto!



Há belos textos sobre a tradição «pornográfica» na pintura, como o do Sexo e o Pavor do Pascal Quignard. É um texto um pouco melâncólico. A edição ilustrada é bela. Mas as imagens seriam melhor introduzidas por um filme fracote de Fellino que é o Satiricon, ou pelos textos greco-latinos de Petronio, Apuleio, Luciano, Catulo, etc.

E há uma tradição de arte «environmental» ou de «gardening». Robert Smithson é o nome maior, mas há toneladas de gajos a fazer disto, desde os walking artists como o Richard Long aos tipos mais sonsos da Arte Povera.

Pedro Portugal é outro dos exemplos de uma «environmental art», mas o críticos e historiadores tugas andam demasiadamente destraídos.

Wednesday, November 08, 2006

a arte é loura, a vida é bera




A arte é loura, a vida é bera.

Como Deus não pode estar em toda a parte criou a merda para que a gente se farte.

O macaco não se masturba de fraque.

Aquele que rema no sentido contrário tem que inventar o seu próprio diccionário.

Gargalhada de crocodilo provoca cheia no Nilo.

Os homens criaram os deuses para serem seus criados.

Somos esboços do que tememos ser.

Os erros resultam do excesso de esforços.

Língua de forcado faz pegas idiotas.

Noite de discussão deixa quieto o ladrão.

A perseverança também dá cambalhotas.

Quem tem mais de quatro patas consegue percorrer caminhos por onde não anda.

O coaxar das rãs não deixa dormir as mamãs.

Um elefante que ponha ovo é lacaio de Moscovo.

Se queres beber a beleza come-me primeiro.

As marcas do chicote desaparecem no bigode do filosofo.

Os vestígio das ofensas fazem tendas nos desertos do sentimento.

O camelo também engana a caravana.

As crianças crescem como uma conspiração secreta.

Quando o faquir tropeça pode cortar a garganta.

Um animal que mente fala mais que uma sogra doente.

Todos os relógios têm brancos broncos para os consultar.

Quem tem tempo de sobra tem mais margem de manobra.

Um lobo do mar tem litros de lar.

Temos demasiada instrução para a nossa impaciência.

Quem se priva de prazeres parva-se de afazeres.

O que nunca urra depressa emburra.

O que esquece no alterne não altera infortunios.

Um homem é mais saboroso que uma hiena.

O amor e o ódio são maus padrastos dos cinicos.

Quem é avaro gosta de percorrer demasiadas vezes o mesmo caminho.

Espreme-se uma esponja, mas não se exprime uma monja.

A mulher é um empréstimo, a prestações, da Lua.

A imprudência da juventude cria demasiados calos na maturidade.

Quando os pensamentos caiem na sopa há sempre um fiscal fatal que lhe mete a colher.

Boca que não prova prefere ao beijo a sova.

Quando Deus endurece amolecem-nos os dentes.

Se bebes vinho, dormirás quentinho.

Quem veste a justiça não é chique a valer e ao banquete prefere a missa.

Aprender a esquecer é mais dificil do esquecer de aprender.

A beleza das mulheres regressa sempre...noutras.

Um sofrimento partilhado não multiplica alegrias em cima do telhado.

O agradecimento é uma humilhação cínica.

Elogios de amigo são ecos que só fazem festas no ouvido.

Formar um casal é unir divergências eternas numa guerrilha desigual.

Marido cornudo come pudins no entrudo.

Quem guarda a lingua no sotão tem orelhas de sultão.

Coração de canário está na idade do armário.

Mulher de cirurgião esconde pérolas sob o roupão.

O silêncio de uma mulher não nos deixa ver-lhe os dentes.

Os negócios só se misturam com putas e vinho.

Belas palavras até oleiam espingardas.

Dar manteiga não a torna mais meiga.

A criança prefere a atenção à consolação.

Quem engana uma vez, só engana mais duas ou três.

Raposa não aprecia ranso.

Perdoar ofensas é preterir vinganças.

Um dia qualquer não é um dia qualquer nem qualquer dia.

Ver, é crer, mas com algumas reservas.

Um conceito é provérbio desfeito.

O último amor ainda é mais cego que o primeiro.

Um amor cego tem muito tacto?

O que dissimula alimenta-se de contrariedades.

Mãos frias, luvas geladas.

Amor e pobreza? nem boa cama, nem sobremesa.

Tuesday, November 07, 2006

dirty nature


estudar-praticar a natureza é ir para a cama com o corpo de uma grande mente

Nature is what she is - amoral and persistent (Stephen Jay Gould)

Os impressionistas iam para o campo - dizia com pronuncia nortenha um meu professor atrazado mental. Não precisamos de ressuscitar o «bom selvagem», nem temos que ir militantemente para o campo à procura de algo verdadeiramente genuino, desconspurcado, natural e banalmente verde. Praticamos a artephysis como um fluxo que gosta das singularidades e das multiplicidades, mais e mais e mais.

In order for something to become clean, something else must become dirty (Imbesi's Conservation of Filth Law)

Limpa é a morte. E mesmo o fogo que os sacrificadores antigos tanto veneravam como elemento purificador (ò etimologias boas para tias!) apenas faz chegar ao faro das divindades a nojeira que eles se comprazem a devorar através do fumo.

Por isso, adeus ò mito da pureza campestre - é através de um compromisso cada vez mais persistente com a boa natura que nos apercebemos que o devir é, e sempre foi, pornoecológico.

Monday, August 07, 2006

primeira página


Budonga foi escrito de jacto, como uma má prosa surrealista ou beat. Esta primeira página foi glosada e variada por mim em meia dúzia de versões seguintes ao longo de vários anos. Budonga é o trajecto que nos leva da vida tediosa para uma harmonia selvagem. Variante do Heart of Darkness de Conrad e da Alice no País das Maravilhas, diria um critico banalis. Pois claro! É certo que este é um esforço narcísico de reeditar a experiência de escrita de Budonga. Primitivismo histérico? Desejo de evasão? Patétice alucinogénia? Ou cartografia xamânica de um imaginário feito de palimpsestos?

pantanos aéreos

Esta é uma imagem de tipo budonguiano retratando os pantanos aéreos feita em 1985.

de budonga ao explicadismo

Budonga iniciou conscientemente o já referido filão Pornoecológico. Mais tarde esse filão ficou consolidado através da «Teoria Babel» e do triângulo MÉTIS/KAIROS/ENTHOUSIASMOS, de que em breve falaremos. Vale a pena consultar o catálogo 6=0 que acompanhou a exposição sobre a Homeostética na Fundação de Serralves. É na sequência dessa exposição que há uma tentativa de voltar a reunir os homeostéticos num projecto chamado HOMEOSTÉTICA TROPICAL, cuja dominante é o TRETATERISMO. Pedro Portugal desenvolveu alguns destes príncipios em artigos publicados no diário económico, no período politico de treta que foi o «consulado» Santana Lopes. Hoje EXPLICADISMO/TRETATERISMO/PORNOECOLOGIA são um triângulo de pesquisas que desenvolvem por conta própria os príncipios estonteantes da moribunda homeostética.

Saturday, August 05, 2006

neo-canibalismo


Budonga é de 1984. Knossos é de 1983. No entanto tudo começou com o neo-canibalismo em finais de 1981, inicios de 1982. A Homeostética, designação de um grupo de artistas e movimento que integra e desintegra os amigos adjacentes, nasceu como eventual publicação neo-canibal («o orgão genital do movimento neo-canibal») e tornou-se a face histórica desta pulsão primaveril, artistica e outras estupidezes semelhantes.

doçura ascética

A frase de abertura da novela Budonga diz algo assim «entrou em mim uma doçura ascética». A doçura ascética contrapõe-se à eternidade-vaca. A história de Budonga abre o caminho para algumas tentativas de PORNOECOLOGIA. Mas há uma história de Manuel João Vieira que precede, como clima de inspiração, Budonga. O texto não tem título. KNOSSOS? O texto de M.V. é um texto terrivelmente pornoecologico. Eu vi Vieira escrevê-lo numa espécie de transe em casa da minha mãe. Os olhos reviravam-se e o escritor babava-se. O texto é «adolescente», fragmentário, descontínuo. Entre o Decameron, o Mickey Spilane e um texto surrealista. A vegetarianização do pensamento (ou o desejo de nomadização dos vegetais) está aí presente num diálogo:

Enquanto uns fazem a sesta, outros filosofam:

– “És um velho imbecil, Heraklion!És um recalcado, um egomaníaco depressivo, a tua sisudez é feita de sacrifícios estéreis, és estéril, chato, saem-te arbustos das costas, e folhas do nariz. Além disso, és verde. Estás cada vez mais vegetal e as tuas teorias criam caruncho. Hão-de apodrecer ao sol brilhante de uma nova era em que as borboletas voem sem cinto de segurança.”

– “Podes falar, eucalipto, mas não podes negar que a tua aparente volúpia é feita de tijolos de concreto. És desleal, pois eu fui o teu mestre e um bom pupilo não se revolta contra o seu professor. Sou bem mais douto do que tu. Rio-me das tuas transmutações alquímicas, que só conseguem excitar as mentes de uns escassos mentecaptos de luxo, que não tiveram suficiente carinho na infância. É verdade que sou verde mas tu és castanho e, como eu, estás pegado ao chão por bifurcadas raízes. Do teu cabelo, que parece um emaranhado de lentilhas, surgem setas de várias cores, mas cada um aponta para um lado. És feio, Eucalipto.”


Nisto surge Gabriela. Ouvindo a discussão começa a despir-se.

– “Que é isto?!” – dizem os filósofos em uníssono.

Gabriela brinca com os seus opulentos seios e exibe escandalosamente o seu entre as pernas.

– “Raios!” – diz Heraklion (ou Hetaklion?) – “Tenho de fazer qualquer coisa!”

– “Mas o quê?” – diz Eucalipto – “Estamos presos pelas raízes da nossa própria sabedoria.”

– “Porque é uma sabedoria cretina.” – diz Gabriela – “Apesar de todo o vosso saber, não podem sair daí e vir cumprir o vosso papel natural.”

– “Bolas, Heraklion! Arranquemos estas raízes que nos prendem!”

– “Impossível, meu colega. Estamos deveras presos.”

O coro: – “Amo esta mulher. O seu corpo de curvas subtis esvoaça com leveza e o seu cabelo tem ondas como o mar. Navego. Navego no seu olhar de uma luz infinita e sinto cada vez mais perto a eclosão do caos. As suas apetecíveis coxas brilham ao sol e reflectem o meu rosto deleitado de tanto respirar e cheirar essa mulher.

O que é budonga?

Budonga é uma piada, uma «novela», uma cadeia de montanhas no oeste/sudoeste doUganda, uma povoação no Malawi (Karonga Central), uma região administrativa no Quénia (em Kakanega?), um grito de guerra homeostético, um projecto de filme de F. Brito, um mantra eficaz (comprovado por mim) e pouco mais.