Thursday, March 05, 2009

re-pré-homoios (3)


A Artephysis (notas)

1) O velho metamórfico principio de Lavoisier - «nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma»... e arrefece... e se degrada... e se complexifica... e se fragmenta... e se suja... principio metamórfico... (reformismo? transreformismo?)

2) Entropia – catastrofismo, decadentismo, conformismo, cepticismo, niilismo (desperdício da potência).

3) Neguentropia – há porém casos em que a degradação se transforma e se organiza em informação e em vida nova – é o estranho progresso da complexidade como situação local, elitista, intensa, hipersensível – tímidas excepções no deserto tenebroso daquilo que imaginamos que é o universo?

4) Metacatástrofe (ou Anacatástrofe) – maximizar a complexidade dos universos como um processo inesperado e natural – levar a criatividade a um paroxismo consciente em todas as coisas.

5) Se tudo se tornou um ready-made, e se os ready-mades foram amestrados e transformados de anti-arte em arte, então o allready-made que é o mundo dissolve a antiga lógica que separava (e opunha?) tekné e physis. A “arte” já é na sua auto-determinação natureza, e a natureza, na sua inter-determinação já não se deixa de pensar e re-produzir senão como arte, como capacidade de se expandir (e poluir? e reciclar?) tecno-poéticamente.

Na antiga noção de physis está intimamente tecida a noção de pharmakon (em Homero) – por um lado veneno/remédio, por outro (como o disse Empédocles) côr – a explicação da artephysis (e a artephysis da explicação) é uma chromopaideia!


A arte pode não ser, como para Hegel, «a exigência suprema do espírito» (o gajo curtia mais umas cenas conceptuais!), mas é a exigência suprema da imanência maximizada (se quisermos podemos incluir o Absoluto e suas caricaturas neste saco) – e neste domínio a filosofia tem sido francamente impotente!

O Labiríntico? A emanação selvagem que faz desaparecer a miragem onanística da totalidade graças ao jogo de espelhos que «infinitiza».




O «Absoluto» é o maximo de teatralidade e de complexidade. Se este fosse simples seria mais pobre e a-teatral. Mas como inclui em si mesmo tudo (incluindo o que a cada momento excluí) é necessariamente excessivo e teatral (e como tal, carnavalesco). De certa forma está sempre condenado a dar-se, isto é, a dissipar-se em inumeráveis singularidades.

A arte des-intimiza a consciencia do artista, não no modo de divulgação (e propaganda) das comezinhas intenções, mas no do ludicamente multideterminado espairecimento poético.

A arte é um jogo inter-heteronomico que emprenha determinadas formas substancializando-as (exceptuando a arte «digital»?).

Uma forma é a aparência de uma singularidade da metamorfose generalizada. O que chamamos criatividade nada mais é do que a interacção metamórfica ou a sequela de uma série naturalmente ou artificialmente programada.

O “artista” é o produtor do que transborda aos conteúdos (a espuma de muitos outros hipotéticos conteúdos) – ele submerge a expressão encenando distâncias diversas entre o (que muitos abusivamente chamam) Ser e o Nada (ou se preferirem o não-ser, ou, de um modo mais aristotélico, o que é anterior às emergências na sua in-potência), sabendo de antemão que na lareira da terminologia hegeliana estes são a mesma coisa.

A esquizobscuridade? Nem por isso – a multiplicidade de representações entrelaçando-se umas com as outras é apenas um sinónimo de mais, um pouquinho mais de luz – desde que se veja bué da bem.

A Arte não é um «nulo que se autonega» (como dizem Hegel/Agenbem), mas algo que se dissimula nessa paradoxal autonegação do nada – é algo que sobra post-paradoxalmente aos mecanismo de negação/nihilificação – a Arte é antes uma afirmação «pura» (embora conspurcada-conspurcante) que sobra ou sabota essa máquina de guerra lógica – por isso os paradoxos fazem parte de um jogo preliminar que parecendo uma laceração aos olhos voyeristas dos filósofos é no entanto uma manifestação erótica delicada.



O vazio do vazio. O vazio é a expressão negada de uma essencialização. Mascara a essência (caso esta existisse) no que através das manhas da lógica a nega. Trata-se de um jogo exclusivo da linguagem... e tardio! A dialéctica que se auto-determina em dissoluções... virtuais?

A “arte” (como algo que se parece consigo mesmo, mas que se recusa a enraizar em conceitos os disciplinas) morre perpetuamente, mas renasce e sobrevive a esse apetite endocanibal pela auto-dissolução – ao contrário da filosofia que teme a sua morte austera, a arte é um encontro jubilante e mortal-fenixologico com o pensamento (e a filosofia sabe-o), porque se dá como imergência-emergência, isto é, satisfaz-se com ser da mesma substância metamórfica da artephysis, sem se render a um programa desencarnante.

A arte desembaraça-nos das consciências infelizes – por isso a «morte de Deus» da Gaia Ciência é uma paródia – é um atributo de algo que precede qualquer deus - «o riso divino». O riso-choro, o choriso (laughtears joyceano) como o acto caosmogónico por insolência/excelência.

1 comment:

v said...

choriso... nunca o figurei como Joyce. sou egocêntrica. Sempre o vi como meu. Eu. E discordo do desembaraço.