Tuesday, January 29, 2008

apontamentos para a teoria da homeostética de Doxa/Paradoxa (circa 1985/6?)



DOXA/PARADOXA

1

Considerar-se-á a teoria Doxa/Paradoxa como um campo lógico ao qual se articulam as seguintes teorias:
1. Ângulo Recto
2.6=0


DOXA EST IN PARADOXA
PARADOXA EST IN DOXA

Deveriamos começar com algumas citações de Górgias:

1. A seriedade do adversário deve-se destruir pela brincadeira e a sua brincadeira pela seriedade.


2.Nenhum retórico ou filósofo defeniu até hoje o Kairos, nem mesmo Górgias que foi o primeiro que tentou escreveu sobre esse assunto. (comentário pejorativo de D. de Halicarnasso)


3.O Ser seria invisivel se ele não fosse retomado pela Doxa, e a Doxa inconsistente se não apreende o Ser.


4.Os mitos e os acontecimentos têm Apatê, e aquele que ilude é mais justo do que o que não-ilude, e aquele que aceita a ilusão mais sábio que o que lhe resiste. Aquele que ilude é mais justo porque realiza o prometido, e o que é iludido mais sábio, porque deixar-se enredar nos prazeres do discurso (Logos?) prova que é dotado de sensibilidade.


5.Nada há(é). E se é, é desconhecido. Mas se o é é e se é conhecido não se expõe aos outros. Ou. Nada é. Mesmo que seja o homem não o apreende. Mesmo que apreenda não é comunicável nem explicavel a outrem.


A obra de Górgias é em si um programa precursor. A linguagem não repousa nas suas aporias ou num indizivel, os seus fundamentos são sempre paradoxais, logo não são verificáveis, que o diga Godel. Górgias continua o paradoxo de Epimedes aplicando-o a toda a linguagem e aplica os paradoxos de Zenão contra Zenão. Mas indirectamente, porque ao levar a Tautologia de Parménides às ultimas consequências, isto é, ao paradoxo, deslegitima Zenão legitimando os seus argumentos.

O Asco e o Compromisso (1986)


Em anexo aos textos anteriores este dilema pequeno-burguês do compromisso e incoerência Homeostéticos


Prefiro o cheiro a Snoopy que o cheiro a pseudo-Snoopy /

o exageradamente querido ao querido com pretenções intelectuais /

o ranço dos comerciantes à etiqueta das calças do galerista

– e mesmo assim /

porque não vender uns quadrinhos /

pactuar e porque não com os espiritos do esgoto /

vêr publicitado o inexistente – Me /

ufa ufá!

movimentos de arte segundo a Homeostética (1986)














DE ALGUNS MOVIMENTOS DE ARTE

Conceptualismo – simulacro da ideia enquanto ideia, hospitalização neo – platónica de uma pseudo- epistemologia de raiz artística.

Arte povera – snobismo do material enquanto materialismo snob.

Minimalismo – anacronismo da industria como arte, asneiras da diferença enquanto escala, imbecilidade da repetição enquanto contéudo.

Land-Art – piqueniques para intelectuais pequeno-burgueses.

Happeningues – saloiada

um manifesto de 1986


Encontrei mais um manifesto homeostético já passado a limpo e do qual tenho o manuscrito e que não está entre os manifestos "completos"

EX – CURSÕES HOMEOSTÉTICAS

(1986 )

Contra o neo-construrivismo: a propagação decadente de um modelo esvaziado. O último atalho da metafisica, radicado na estética da incumensurabilidade, na arké, do significante. O neo-construtivismo é um deserto nihilista, anti-artístico, baseado nos critérios do não-dispêndio, da retenção do ser interjeccional, num narcisismo sem rasuras e sem corpo – como tal é objecto como o são todas as coisas relativas á essência e ao ob-jecto.

Educação espartana – a flexibilidade e a força de uma disciplina! De uma guerra subtil a todos os artistas instalados no sue trabalho hipnótico, escasso, balofo, vivendo da indisposição para o Entusiasmo da arte. Por isso opomos o músculo, a vertigem diária de uma ginástica, o horizonte de um inimigo permanente, multiforme, qual monstro oriental que perpétuamente é atingido e que perpétuamente se transforma.

Este músculo nómada que constantemente funda (dá fundo), novo Alexandre, devastando e infligindo uma marca duradoura às Àsias artísticas – novas capitais desta purgaturial muscularização.

Não deveremos nós recusar a mais ignóbil das prostituições: a assinatura?

O estilo – se o estilo é essa excessiva proeminência das saliências e das pregnâncias então sou um idolatra do estilo, um praticante dos seus mistérios, um cultor dos seus segredos. Porém há que levar mais longe o estilo como sua dissolução acentuando ainda mais as suas convexidades e concavidades, aumentando o delirio das diferenças, retendo as guerras e os impetos. Esse estado explosivo e cruel é porém uma criatura minuciosa, apta às vezes para as mais espetaculares economias assim como para os faustosos dispendios.


Contra o estilo – contra os cultores monológicos, o emprobrecimento, a redução ao minimo. O estilo é positivo porque reduz ao máximo as interjeicções. O estilo como o hábito é a pior das domesticações: há um tempo para o estilo, mas toda a perpetuação para a eternidade é um nojo. Só chegam à posteridade os estilos que a recusam.


A posteridade – se somos inevitavélmente proféticos isso não resulta de um desejo de assentarmos nessa futuração: pistas são pistas e o que vem é sempre outro. Eis uma das razões para essa in-disposição do futuro. A nossa disponibilidade para o futuro é o ser contra a posteridade, isto é, o sabermos a radical não posse que é o devir.

Quem teme enfrentar os problemas modernos? Os artistas modernos nas suas luxuosas colmeias vivem a letargia do trabalho de abelhas que não conhecem a luz do dia, nem o pólen. Como não trabalham nesta uraniana paz a ruina das flores vai sendo inevitável. Detêm-se hipnotizados pela compactidão do conforto. O homeóstético sai para as clereiras, dorme ao relento, constrói pequenos abrigos – não teme a doença, a fome, as catástrofes, porque kairos o conduz.

Ainda o estilo – A radicalidade da desmesura entendida como obsessão: o grande compasso estílistico homeostético. Desmesura nas mais infimas orquestrações.

O estilo não é a interjeição domesticada por um código, mas o “polemos” entre interjeição e os códigos. (oposição entre a noção clássica de estilo e a homeostética)

Não temos pressa do Novo, nenhuma ansiedade: somos vagarosos – o Novo encontra-se apenas nessas minuncias temporais.

Que idealismos! Que canduras! Que friquismos! – exclamam os maquínicos detractores da homeostética, palitando os dentes. Mas de que necessitam os nossos daimones mais que esses dinamismos, essas canduras impetuosas, essa errância despreocupada. Os deuses favorecem esta nossa aventura, só fora dela estaremos expostos à suas inclemências. Perante a sua consumada impotência os espectadores retorcem os seus tediosos grunhidos.

O erro – é fugindo que nos encontramos (sic): não é o equivoco um dos nossos principais motores?

Monday, January 28, 2008

was ist artephysis?


artephysis é o «segundo» termo homeostético, indissociável da palavra homeostética -

regra geral pensava-se a arte na sua relação de «imitadora» da natureza, ou, na perspectiva mais esteticista e paródica de oscar wilde, como uma percursora do que é possível vislumbrar na natureza - segundo o canudo heideggeriano ou braudillardiano, a velha tékné torna-se incontornável e o seu incontrolável poder hiperrealiza-nos, tornando-nos um dejecto do seu assombroso poder - mas o troglodita, apesar das próteses, continua a fazer das suas (mesmo quando o planeta encena o seu HARA-KIRI!)

na perspectiva homeostética a coisa é diferente - a physis (traduzível ou «intraduzível» pela mais acessivel noção de natureza) é já arte, no sentido vasto em que esta é uma pulsão-produção poética e também um modus operandi - de certa forma os nossos terríveis recursos tecnológicos são mais uma manha que a physis encontrou de explorar potencialidades de um modo mais directo, ou se preferirem, mais perverso.

A homeostética surgira assim como algo que instiga essa caracter exploratório presente na artephysis introduzindo equilibrios e desiquilibrios, simplificações e complicações - no fundo trata-se de gerir um apetite metamorfico, de abraçar a diversidade e a complexidade com alguma economia e funcionalidade.

Por isso mesmo a Homeostética procura multiplicar os pontos de vista sem se reduzir a um ecletismo - serialização pluralista (e sincretista-eristica), como em Fernando Pessoa? Claro. Mas também algo como uma arte homeopática, não apenas no sentido em que a arte, como boa vigarista ou vulgar terapeta (feiticeiro ou médico encartado), curaria «você», mas um passo mais à frente de uma consoladora beleza, ou saúde, ou felicidade. Não se trata de aperfeiçoar, nem de melhorar, nem de superar, mas de levar o caracter lúdico da artephysis a intensificar mais e mais as suas possibilidades.

Os primeiros apontamentos sobre a artephysis não passavam de pretenciosos apontamentos que foram reconvertidos 20 depois. Damos aqui em excerto (longo!):




Le soi-disant orgão genital do movimento neo-canibal
(1982)
mais tarde
(1983)
convertido no dito cujo Movimento Homeostético



Irmãos inumanos: a grande saída do já velho impasse estético-ténico-artístico repousa (graças à sua dulcíssima agitação secreta) na physis (vulgo natura), esse espectro da fecalidade ( dejectísmo-abjeccionismo) que as leis da termodinâmica põe em ebulição como pastel em arrefecimento nos arredores dos arredores.

E o que é a physis ((a natura desnaturata)) ?

Dirão: é a balbúrdia na classificação e a categorização das excepções, isto é, o movimento sob o qual Heráclito dorme no seu sono de estrume heroico!

Não defenirei (isso jamais!) a arte senão como variante de defenições poltronas que nos temeram preceder. Ousemos criar os nossos tímidos percursores colocando bombas debaixo das suas doces estátuas!

Por isso passo a bola à artephysis! (?)

E o que é a artephysis?

A zona erógeno-vegetal-animal do pensamento onde se processa toda a criação (na sua vastidão gloriosa digna de ser filmada por mr. De Mile)?

A glândula onde a complexidade encontra a sua imagem genésica ou primordial com parra a esconder o exibicionismo adamico já que a Eva nada tem para esconder?

E esse primordial é neo-complexo? É uma reorganização? É uma fraude? É uma conspiração vagamente neo-nazi? Ou uma boa intenção franciscana com pulgas e tudo?

Alguns dirão: ficção[1]! E porque não? A artephysis é uma concretização da arteficção, uma metáfora cuja imagem é o socialismo estético (em versão de falanstério filosófico-ecologista!)

; é pois pela sua mudança que ele alcança o repouso (Heráclito again and again and again).

A artephysis é o fruto bem maduro do mais cabotino pretenciosismo que acabará por se tornar simpático e digerível com a adaptação perfeita a uma sociedade de inadaptados.

Ela implode em metacatástrofes poligenésicas, caosgenéticas e totoloticogenéticas,

É, quiçá, a superestrutura (juras?) que cede o lugar à poliestrutura (ora méssa!)!

É a Civilização (com a sua propensão para a denegação) que se desagrega em focos civilizacionais interactuantes e bué da afirmativos (Amén!)!

É a individualização colectiva (fim da moda?) processada a um nivel multiforme e hiper-complexo (renascimento de cómicas cloacas locais em diálogo delirante umas com as outras?), e não a individualização uniformizadora de consumidor passivo na era da globalização niveladora (bof!).


Ou ainda a inflação da inflexão (crescendo de pontos de ruptura e de manobras de diversão com comício e carrinhas a vender sandes!)?

Uma verdadeira artephysis (natureza homeosteticada e desdomesticada) é filha destes dois casos clínicos que passamos a explicitar:

a)A crueldade : a crueldade é a intuição (bolchevico-kantiana) no seu estado de máquina de guerra produtiva. Criar implica transformar, logo, implica destruír, sem condescendência, todas as formas panhonhas que atropelam o expansionismo vitalista! (Heil Hitler!)

b)A fraternidade: a fraternidade é a partilha instrumental dos fluxos criativos. No fundo, no fundo, somos todos filhos de um Demiurgo (falhado? morto? falso?), seja de que tipo fôr. Irmãos, como já disse (parafraseando Villon) inumanos, ma non troppo!


Tudo isto devia ser mais explicadinho ainda...

escrever "sobre" arte



a maioria dos textos sobre arte contemporanea, sobretudo escritos pelos seus protagonistas mais esclarecidos, fazem-no no mais inadequado dos modos, como se nunca tivesse existido uma prática de escrita de "vanguarda" que atravessou ao longo do século XX as artes e que lhe esteve intimamente associado - tenho saudades desses velhos críticos e teóricos

hoje, a maioria dos discursos em torno da arte continua a ser feita na mais burocrática e repressiva das formas estilisticas, e a forma de apresentação dos catálogos e outros objectos afins é aborrecida, convencional, etc.

o clichê de que alguém que teoriza empenhadamente sobre arte só o pode fazer hoje (desde há algumas décadas) honestamente tornando-se artista encontra resistência nos profissionais da escrita que ainda julgam que a escrita é um espaço meta-artistico (ou então esqueceram-se disso)

quando leio velhos e "ultrapassados" teóricos (como o Buchloh, a Krauss, o Foster, etc.) falarem do "retorno do reprimido" a propósito de Picasso, Picabia e De Chirico (que na escrita foram suficientemente radicais os três), ou invocarem Bataille como um dessublimador (Bataille que também é precorrido pelo uma pulsão destrutiva que herda de Sade e que é em boa parte um fluxo tanático de total desinibição(/destruiçãlo presente no fascismo)

confesso que tenho saudades do estilo displicente do Cage e do Ernesto, da literatura experimental, da simultaneidade, do seu lado preformativo e divulgativo, da prosa pop do Deleuze do primeiro Anti-Edipo, das polémicas ardentes do Cezariny e do Pacheco, dos textos (mais uma vez!) do Batarda e do Lapa, do Arthaud, etc. etc.

uma história de arte do século XX, e por arrastão, qualquer história de "arte" só tem sentido enqjuanto obra de arte - neste sentido até um Aby Warburg pode ser lido-visto como um artista, ao contrário dos empenhados empresários-curators

por isso há que dar um novo impulso ao projecto revolucionário-revisionista homeostético (o revisionismo homeostético não é um regresso hermeneutico ao passado, apenas faz expandir e reactivar as energias "revolucionárias" adormecidas no sentido de uma maior complexidade e de um progresso mimético-tecnológico (para uma iman^rencia mais imanente)) - é retórica pimba revolucionária mas é tal e qual

Friday, January 25, 2008

filme e budonga


está em fase de realização-montagem-work-in-progress o filme de bruno almeida (na altura um correspondendo-se em Nova Iorque com os Homeostéticos) que será um filme-revelação

ao lado, uma imagem de budonga (uma das budongas rreais!)

Friday, January 18, 2008

fraud after meaning


"fraud after meaning" é uma frase de um desenho que fiz em 1986 - as teorias da fraude estavam no ar por essa altura, de Umberto Eco a Deleuze (veja-se o capitulo, "as potências do falso" no segundo volume de Imagem- Movimento)e à divulgação por Schnabel das Recognitions do William Gaddis - a cavalgada homeostética nas terras carnavalescas e do falso era teórica e fez-se mais do lado nietzchiano (deleuze e derrida) e de certa forma contra Braudillard, ou pelo menos, contra o modo como os americanos "posmodernos" o adaptaram (hoje Braudillard parece-me muito mais simpático)

uma sucessão de heterónimos, desde 85 surgiu-me como consequência lógica de uma teoria instintiva da fraude - no fundo Fernando Pessoa já teorizara mais do que suficientemente sobre o filão shakespeariano das máscaras e sub-máscaras - e de uma relação que é simultaneamente retórica e instintiva (mimética) com que nos envolvemos poéticamente com o mundo

o primeiro desses heterónimos foi Jacques Pastiche no ínicio de 1985, uma espécie de Erick Satie de segunda, e depois vieram Renato Ornato, Francisco Xavier, Karl Otto, Luis Mendonça, Augusto Barata, Aldo, o Marquês de Abrantes dito Eugénio, Julio Rato, etc.

Uma teoria explicita da dissimulação aparece em Francisco Xavier:

DO DISSIMULACRO


O que pro-voca a arte, o seu instinto, é a vontade de dissimulação.


Excluem-se duas hipóteses:
a hipótese mimética (da representação)
a hipótese de uma aporia relativamente ao mimético.

A primeira hipótese diz que a arte vem de um instinto antigo, o de simular.
O de simular um «outro».
O de procurar o acesso ao estranho.
O de tornar conhecido o que ainda não é

– simulações e hipersimulações tornaram-se hoje banais:
tudo pode ser simulado (aparentemente).


A segunda hipótese tem a mesma raíz, mas diz que nada pode ser completamente simulado.

Essa irredutibilidade cria uma margem de não-simulação.
Essa fissura é uma aporia indefenivel (aporia apeiron), sem contornos precisos.
Essa imprecisão ocular é aquilo a que se chama arte.


A nossa tese vai mais longe e acredita que o instinto que está na base das duas hipóteses anteriores é «a vontade de dissimular». Dissimular toma dois sentidos

a) o de adquirir uma aparência secretista, uma estratégia de pudor ou de ocultação.
b) o de criar aparências (representações) que surgem como desvio relativamente ao simulável. Há um desejo de excesso, de estranho (de mais estranho que o estranho), de activação de aquilo que parecia ser uma aporia.


A dissimulação é uma fraude.


«REFLEXO DE SOMBRA DE SIMULACRO DE FRAUDE»



A fraude é o que é passivel de passar por
manhas
ciladas
inumeráveis astúcias


A inacessibilidade da aparência, da realidade enquanto real (inatingivel, irrepresentável) postula o império das representações.


A fotografia (mimetismo sem simulação, ausência de esquematização, ausência dos efeitos do representante) é como tal a maior fraude
- apenas postula a pose
- impõe o desaparecimento do distorsor

Ora o distorsor (representante) é o que garante o acesso à não-fraude – isto é, à Verdade (fraude de fraude).


A fraude de fraude não é um truque de linguagem, ou uma simples enunciação, mas sim o desaparecimento da linguagem, o acesso à sua exterioridade.

Toda a linguagem é fraude.
O que nos sobra para além dessa fraude?
O nada?
O vazio?
O indefenido?

Sobra-nos sobretudo o fraudar e a instancia deste verbo acopulado com o nada, o vazio e o indefenido.


Admitimos com muita facilidade a fraude.

Mas
se a fraude for o motor que acopula os fundamentos
se a fraude for o fundamento dos fundamentos
o mal-estar assoma.

Assoma a partir do momento em que o que é passivel de ser fraude é admitido como FRAUDE.

Quando tudo o que pensamos é fraude o pensamento surge-nos como
um enorme pesadelo, como a impossivel suspensão de uma esfera em eminência de catástrofe.


O «mundo como fábula» de Nietzsche é o mundo como fraude, como interminável falsificação, em que tudo é farsa, em que tudo passa por tudo.

Mas mesmo no interior da fraude há
rasteiras
pequenas fraudes
dissimulações
desvios
fingimentos
arruídos

São pequenas ilhas que legitimam a fraude, que a encobrem, que são relativamente à fraude uma fraude.

O que é que a fraude supõe?
um encobrimento
uma mentira sábiamente escondida
uma arte de (se) ocultar


Destapado o véu temos a verdade nua e crua. O artifício e as artimanhas transparecem – tudo se torna claro!

Dir-se-ia que a fraude não diz respeito à natureza, ao mundo animal, e que não passa de um laboratório de ficções. Isto é falso.

A fraude introduz-se a partir do interior do mundo animal com a simulação, com os variados tipos de mimetismo, com o imitar o Outro ou passar por um outro.

O MIMETISMO ANIMAL É A FONTE DO FRAUDAR

Simulacro de fraude é o que permanece para além do fundamento.

A diferença mais específica (linguistica) entre fraude e simulacro é que o simulacro não pressupõe o ocultamento.

Simulacro é o que se mostra.

Geralmente pensa-se o simulacro em oposição a modelo ou protótipo, a algo que é origem ou originário.

O originário é a FRAUDE, isto é, o simular na ocultação:

simular de um simulacro na ocultação


SIMULACRO E FRAUDE
APENAS SE OPÕE
COMO REFLEXO E SOMBRA


O reflexo é a excelência dos espelhos.
O que devolve a luz.
O que a esclarece.


A polissemia da palavra SOMBRA liga-a directamente à ideia de ausência

falta de luz
opacidade
mistério
segredo
escuridão

O que está na sombra é o que está escondido, que não vê a luz.

A sombra, em princípio, não tem reflexo. Tem tendência em absorver a luz, em guardá-la nas suas entranhas.

A luz «é o que se dá a ver sem se mostrar» (Derrida)


Flectir quer dizer «dobrar».
Re-flectir é uma inecessante flexão.
É a circularidade e o regresso através dessa dobra.
A reflexão faz circular e regressar aquilo que se dá a ver sem se mostrar.
O reflexo é exactamente aquilo que se dá a ver.
Em visão é a parcela de luz que um objecto não retem.
Não é a totalidade da luz.
Os espelhos são os que reflectem mais luz, mais parcelas de luz.
Um espelho não reflecte na sombra.
A sombra é defenível como aquilo que não é reflexo.


O reflexo de sombra parece um paradoxo.
A ideia de que tudo é simulacro ou simulação (fingimento) leva-nos a dizer que o «simulacro é aquilo em que não há fraude».

O simulacro é o reflexo de um proto-tipo.
A fraude é a sombra.
O protótipo é a fraude.
A fraude é o lugar de onde vem a luz – a luz da fraude.
A fraude é aquilo que se dá a ver sem se mostrar.
O reflexo é o que dá a ver.
A sombra é o que não se mostra.
O simulacro é o que mostra. Mostra-se, em referência narcisica e exibicionista, demonstrando o seu protótipo.
O simulacro é o ver para crer.

Quando os americanos dizem we did it, expressam o simulacro consumado.


A fraude, pelo contrário é a grande permanência.
Só regressa à sombra no momento em que é defraudada.
A fraude vive pela sombra.

MAS A SUA APARÊNCIA É O REFLEXO DESSA SOMBRA.


Assim, o reflexo de sombra é a expressão apropriada para a
APARÊNCIA DA FRAUDE


Essa aparência simulada, exibida.
Essa aparência simulada na ocultação.
O que se dá a ver sem se mostrar do que se exibe ocultando.

Saturday, January 05, 2008

vocabulário de novíssimos termos explicadistas


O explicadismo foi e é uma tendência praticada por mim e o pedro portugal desde 2003, do qual há uma quantidade enorme de obras e textos - este vocabulário é desses inícios

Anagoritmo – série de cálculos ou de enunciados que visam evitar um determinado resultado ou uma série deles (matemáticas apofáticas). Da mesma forma existe uma lógica cujos silogismos são encadeados de modo a não deduzirem ou provarem determinados factos, como por exemplo Deus, etc.

Panomia – termo empregue para designar uma multiplicidade de leis de carácter e origens distintos que apesar de por vezes entrarem em conflito em determinadas zonas o seu funcionamento local contribui e para o funcionamento global.

Metamorfisse – representação transicional de formas de procedências diversas.

Kairocronismo – fracção de tempo favorável que se determina em função das variáveis Métis e Enthousiasmos.


Synvalência – propriedade de determinados termos cujos significado além de flutuante é acossado de polivalência (vulgar).


Axiofisismo – encarnação ou adaptação de valores ou axiomas sem que estes necessitem de ser «conscientes» ou demoradamente reflectidos. Pragmatismo delirante ou inconsciente.


Descomplexidade – prática descomplexada de complexidades. Combinatória risomática de sequências stokausticas. Imprevisibilidade imanente a que corresponde uma deliberação aventurosa quer do domínio teórico quer das próprias tácticas.


Homeonética – sistema (raro) capaz de assimilar e entrar em acção nas situações post-paradoxológicas.


Abcisão – capacidade de apreender e traduzir um sistema distinto, mesmo quando estranho ou adverso, utilizando quer a Mimética , quer a análise ou a cópia.


Mimética – noção que une a mimesis à ética. Cada situação especifica exige uma atitude ética distinta. A mimética é uma percepção/absorção epidérmica das complexidades num conjunto de coordenadas espacio-multiversais.


Multicrónica – o que evolui continua ou descontinuamente ao longo de várias sequências temporais sem desaparecer completamente.


Variolética – movimento do pensamento que consiste em multiplicar opiniões, asserções ou teses distintas, algumas vezes contraditórias, outras pontualmente convergentes, sem se dar ao trabalho de demonstrar qualquer relação estrita de vínculo ou adversidade (em oposição à dialética). A Variolética funciona perante uma «tese» como um conjunto de variações musicais: invertendo a tese, alterando o ritmo, a sequência, etc, mas mantendo o «tema» subjacente como núcleo obcessivo.


Refuncionamento – retoma de funcionamento de um organismo que no estado precedente parecia condenado a uma disfunção crescente ou desaparecimento.


Afectivicácia – acção eficaz entendida como suplemento afectivo de um organismo. Regulação desses afectos através da regulação das carências e dos excessos.


Endoirogeno – Erupção erótica num corpo sem causas externas.


Exoirogeno – Clima ou pressão erótica sobre determinado corpo.


Antropia – Conceito da anti-termodinâmica (o universo está em reaquecimento e é não dispersivo, concentrando os seus espaços e as suas energias). Capacidade de um organismo se enriquecer, vitalizar e complexificar sem passar por um processo de entropia/neguentropia.


Caosmocentrismo – Noção (leibnitziana?) de que cada coisa ou «caosmos» se representa exactamente a si mesmo não deixando de representar o resto do mundo (tudo é espelho de tudo).


Alteregoísmo – Propriedade de tornar determinados egoísmo altamente proveitosos para os outros.


Antidade – O que é prévio a um ente. O clima que antecede a sua aparência e é já a sua presença.


Epistemotopias – Os lugares do conhecimento. A epistemotopia explica como é que os espaços, a sua geometria e a localização dos sujeitos determinam a apreensão dos epistemas.


Etnoperiferismo – Tendência da maior parte das sociedades actuais para a desvalorização das suas tradições e culturas locais em função de uma cultura planetária, manipulada a partir de 2 ou 3 centros. Diáspora sem sair do território.


Extraínte – Agente ou mecanismo que rouba a outro sistema as suas propriedades.


Retardação – Propriedade de um sistema se desviar dos fins a que pareceria estar configurado. Estes casos são também ditos fenómenos desteleológicos.


Porosidade – Zonas «fronteiriças» de sistemas complexos onde há permeabilidade ou contrabando, permitindo alterações de diverso tipo quer na «aparência» quer no «interior».


Alavanca – Palavra que designa uma acção forte e eficaz de poder.


Ultrabilidade – Capacidade invulgar de reacção, produção, regeneração, aprendizagem, etc. A ultrabilidade acontece em organismos que aparentam ligeireza e imaturidade. Conformação – Informação que entretém um sistema de forma a que pouco seja alterado (pan e circe).


Heterostasia – Capacidade de um organismo gerir as desordens que vêm do exterior.


Heterosteticas – Estéticas intermitentes e fragmentárias que contribuem para a reciclagem dos movimentos homeostéticos.


Fonogénese – Nascimento por vibração. Ao contrário da morfogénese que designa a cristalização em formas, as fonogéneses diluem-se em ondas cada vez mais fracas. Embora haja uma aparente tendência da fonogénese para o silêncio, ela mantém o mundo num banho sussurrante de micro-ondas. Pelo contrário, as teorias antrópicas consideram que nos inicios é o silêncio e que que os universos estão no caminho irrediável para um ruído ensurdecedor.


Multinstabilidades – É o caso (assaz vulgar) de uma relativa estabilidade ameaçada por várias instabilidade de procedência e tipo distinto. Toda a estabilidade vive e é reciclada de multinstabilidades.


Co-dramatização – Surge quando vários agentes co-organizam/desorganizam um acto de tal forma que esse sistema se consolida e a cooperação é alargada a outros sistemas.


Interdisparidade – Acção em que o heterógeneo é concertado em determinados movimentos.


Retroinacção – propriedade de bloquear ou suspender determinadas retroacções.


Desrepresentação – situação em que os representantes teatralizam metalinguisticamente (e comicamente) a sua própria teatralidade.


Samântica – Ramo da semântica que investiga os sinais premonitórios (advinhação).


Liberomecanismo – Mecanismo de um mecanismo cujas propriedades permitem que se livre do organismo dominador deixando em aberto a possibilidade de uma relativa autonomia ou de associação (ou integração) com outro organismo.


Interarquia – Conexões e alterações de co-relações entre diversos poderes.


Alearquia – sociedade em que as interarquias são extremamente frequentes.


Patática – Táticas com características irrisórias nas quais os adversários são facilmente derrotados graças uma redução ao ridículo.


Vagabilidade – Diz-se de um sistema cujos dispositivos comunicativos não são aparentemente precisos. A vagabilidade tem também um sentido estratégico que designa a propriedade de transmissão aos aos sistemas adversos do menor número de informações fiáveis

Zigurástica – Todos o tipo de cómico-simbolismo proveniente da obcessão por zigurats.


Negantropia – Possibilidade de uma antropia se entropisar, com ou sem neguentropias.


Toleologia – Lógica que permite notáveis avanços graças ao recurso à tolice.


Transindisciplinariedade – Interacção de várias indisciplinas ou de sistemas indisciplinados. A transindisciplinariedade não pretende comprometer-se com nenhuma «compreensão do mundo» seja em que estado for, mas apenas desfrutar poeticamente as complexidades simultâneas que as indisciplinas permitem.


9=0 - Teoria rival e idêntica à de 6=0. Ao contrário desta última, que parte do pressuposto da Doxa do Ângulo Recto ( definindo o universo como cúbico, e utilizando analogias com o I Ching sobretudo na categorização em 64 mutações), o 9=0 parte do pressuposto que o universo é estruturado a partir de estruturas ternárias (o universo equilátero?): é a chamada Doxa do Triângulo Equitativo. Há para esta Doxa analogias com os nove rasas hindus ou com o Tai Hsuang Xing (livro obscuro do sec II a.c. mas só recentemente editado (1995) que estava previsto geometricamente no primeiro dos cadernos doxa e foi desenvolvido por Proença no inicio da década de 90). Existe também o bolismo (a Doxa da Curva Perfeita, desenvolvida por Brito e Vieira) cuja equação é 0=0. Segundo a lógica post-paradoxológica, a estas 3 doxas corresponde a expressão rigorosa 6=9=0.

The Portuguese (segundo Pessoa)









The Portuguese are always making revolutions. When a Portuguese goes to bed he makes a revolution, because the Portuguese who awakes up the nex day is quite different. He is precisely a day older. Other people wake up every morning yesterday. Tomorrow is always several year away.

They go so quick that they leave everything undone, including going quick.


Há algo de anedótico no pensar a cada vez mais irrelevante «sensação» de ser português (de ter nascido por aqui e continuar ainda por cá). Há nestes textos de Pessoa um ar de manifesto, que com ligeiros cortes lhe retirariam aquela enfadonha armadura pseudo-lógica que lhe estrutura processualmente o raciocinio. Vou experimentar aqui um exemplo a partir de uma carta.

What the movement called sensationism is?

We descend from three older movements : French «symbolism», Portuguese transcendentalist pantheism, and the jumble of senseless and contradictory things of wich futurism, cubism and the like are occasional expressions, though, to be exact, we descend more from the spirit then from the letter of these.

a) From French symbolism we derive our fundamental attitude of excessive attention to our sensations, our frequent dealing in
ennui, in apathy, in renouncement before the simple and the sanest things of life.

b) From the Portuguese transcendentalist pantheism we owe the fact that in our work spirit and matter are interpenetreted and inter-transcended.

c) As to our influences from the modern movement that embraces cubism and futurism we have intellectualized their processes. The decomposition of the model they realise we have carriede into what we believe to be the proper sphere of that decomposition - not things, but our sensation of things.

WHAT IS THE CENTRAL ATTITUDE OF SENSATIONISM?

1. The only reality in life is sensation. The only reality in art is consciousness of sensation.

2.There is no philosophy, no ethics and no asthetics even in art, whatever there may be in life. Ideas are sensations. No artist can believe or desbelieve ideas. When he works he either believes and desbelieves, according to the thought that best enables him to obtain consciousness and give expression to his sensation of the moment.

3. Art, fully defined, is the harmonic expression of our consciousness of sensations; that is to say, our sensations must be so expressed that they create an object wich will be a sensation to the others. Art is sensation multiplied by consciousness - multiplied, be it well noted.

4. The principles of art are:


a) every sensation should be expressed to the full, that is, the consciousness of every sensation should be shifted to the bottom;


b) the sensation should be so expressed that it has the possibility of evoking the greatest possible number of other sensations;


c) the whole thus produced should have the greatest possible ressemblance to an organized being, because that is the condition of vitality.

I am no longer what I was in the paragraphs above as I write this.

If I am ever coherent, it is only as an incoherence from incoherence.

Friday, January 04, 2008

note on homeoasthetics


6 = 0 was an exhibition that showed the attitude and the works of a bunch of 6 portuguese artists (Ivo, Fernando Brito, Pedro Portugal, Pedro Proença, Manuel Vieira e Xana) that used to work together in the beginning of the eighties under the denomination of Homeoasthetic Movement – the group was characterized by an assumed old-fashioned and consciously peripheric neo-neo-dadaist spirit, with lots of half-folkloric and fake-revolutionary manifestos, giving unending performances of bad-pop-music or cagean concerts to wash-machines and castagnols, making more or less oniric super 8 movies, publishing ugly ironic magazines and painting also super-large-scale paintings. The notion of Homeoasthetics, if there is such a thing, is an aesthetic of Complexity, which integrates the ambivalences and the incongruence of life, in a dynamic process that tends to a revolucionary/reaccionary equilibrium (what a hell is that?). 6 = 0 means that the universe is perhaps a square and that the sum of all the 6 members of the group annihilates the unity. Their theatrical and ironic way of behaving was not suitable to the very serious local art world, and great part of their works, photos and theoretical statements was not available before. In the opening of the show there was a war tank and authentic soldiers from the period of the Portuguese Revolution at the entrance of Serralves Foundation, megaphones screaming slogans and manifestos in the gardens, a big cow was barbecued, and so on.