Pois o grande e «cosmopolita» Cerveira Pinto, em debate transcrito no catálogo da exposição de Serralves sobre os anos 80 faz a sintomática referência aos Homeostéticos, que até acaba por ser simpática, referindo-nos como algo que foi provinciano até ao fim.
Embora tenhamos sido, quanto ao ideal provinciano das «internacionalizações» (em busca de um lugarzito no ranking entre os quase 500 primeiros do mundo), menos significativos do que outros tímidos heróis nacionais, também fomos a versão mais conscientemente crítica do «fenómeno» buscando alternativas internacionalisticamente nativas.
O importante é perceber em que medida a questão do «provincianismo» é significativa na forma de nos distanciarmos deste ideal «estrangeirado» tão enraízado nas elites portuguesas há pelo menos 500 anos.
Sintomáticamente a 2ª exposição homeostética chamava-se «um labrego em Nova Iorque», e a última significativa, Continentes, jogando com estereotipos do imaginário tuga. Uma exposição mostrava a envergonhada aculturação e o flirt labrego com a lógica da galáxia espampanante do art world (tilt!), a outra reencenava atrevidamente o mundo com um filtro paródico aos mitos expansionistas (ò ingénuos quintos-impérios) e ao decrépito legado das mitologias salazaristas.
Numa perspectiva miserabilista, à la Batarda, diria que somos um país muito pequenino, com um mercado de arte francamente ridículo. Falar de boom de mercado nos anos 80 só se foi no Porto, aqui por Lisboa praticamente não pingou – trata-se de invenção de historiadores dos anos 90(com um habitual ressentimento e nostalgia de não ter curtido «la movida»). Houve foi um boom de divulgação na imprensa escrita, coisa que hoje escasseia para quem quer que seja.
Porém colocamos a questão do provincianismo e da «falta» de identidade desta nossa comunidadedezinha em termos muito semelhantes a que a fez notávelmente o Caetano Veloso (entre outros?). Não falar do que somos e fomos é ignorar uma situação sociológica e antropológica que existiu (e existe) e que nalguns aspectos mudou muitíssimo, mas noutros permanece com os seus estigmas e mentalidades.
É certo que também fomos e somos internacionais, internacionalistas (o mais possivel) e internacionalizados (um bom bocado) ou internacionalizáveis (será?). Não estamos entre os 500 primeiros, mas também não fizemos por isso. Deu-nos para outras coisas, ou então não tivemos pedalada... o que é o mais provável!
Mas registe-se a incapacidade de o meio que nos está mais «aqui» ser pouco mais do que ecos de modas dominantes. É certo que nos repugna o lado exibicionista dos espanholismos da arte que nos é mais próxima geográficamente. Por isso o que se vai produzindo por cá parece cada vez mais germânico e timidamente americano (apesar das internetes que nos oferecem o resto do mundo e mil e uma oportunidades de sermos bem mais «diferentes»), depois de enterrado o figurino francês. Sim, assumimos o provincianismo, na mais cosmopolita das perspectivas.
Ailariloléla!
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