Friday, November 10, 2006
Novos passos pornoecológicos
Quartos vazios com arte «ecológica» ou «povera» e outras ambientalices permanecem uma atitude submissiva e pré-museológica. As galerias parecem hospitais que preparam os funerais das retrospectivas.
As obras de arte, sobretudo quando estão nas galerias, já são um simpático compromisso com o mundo burguês, a alta finança e a indústria museológica. Precisamos de um compromisso pornoecológico para além de qualquer simulacro de contestação ou evasão desses compromissos inevitáveis.
A abstracção é o cadáver sintonizado de uma meditação desencarnante.
As emoções são digeridas enquanto preparam as palavras que as absolvem e as domesticam num «sentido».
Há determinadas palavras que nos lançam olhares escorregadios.
Temos que pensar a ecologia e a jardianagem a partir do facto de que a natureza também é poluição – os desiquilibrios ecológicos podem provocar quert destruições quer novas possibilidades de vida.
A história de arte contenta-se com os seus factos implosivos que preparam como microrupturas as restantes convulsões e catástrofes da história.
Afundamo-nos no modo como nos pulverizamos.
O carácter essencial da natureza é o tempo – o convite permanente à degradação e a restaurações diferidas.
O desenvolvimento da arte deve ser polilético e patafísico.
As categorias fraudulentas tornam os artistas mais comerciais e puros. Só uma categoria qure seja assumidamente fraudulenta devolve o artista às categorizações fluidas da natura.
A emotividade de um artista afina a sua perceptividade e vice-versa, quer ele se deleite no horror das micro-catástrofes em que se deleita a sua actividade, quer ele seja um criador projectual embrenhado em literatura de divulgação científica.
Os artistas não se limitam a pastar no seu território, mas também não conseguem ir muito mais além.
Cada homem ociedentalizado está condenado a transformar-se numa obra de arte auto-reciclável. Mesmo depois de morto.
As palavras mais banais tornam-se febris em contextos mais pretenciosos e abanam preciosamente os caudais dos sentidos.
Os curators são apenas domesticadores que se aproveitam da inércia organizacional dos artistas.
A nossa substituição da experiencia do tempo e do espaço baseia-se numa noção da matéria enquanto mantra progressivo.
A História hoje é um fortuito palimpsesto de residuos biográficos manipulados por lacaios académicos de um poder que cada vez é mais eco dos imperativos da comunicação social.
A história é «representativa», e nisso pouco difere do tempo. São os museus que introduzem a «abstracção» ao oporem uma pseudo-eternidade aos avatares temporais.
Somos por uma arte que faz confluir em si o quatidiano, mas numa prespectiva imanentista e relutante em abstrair-se.
A monumentalização é inevitável, mesmo nos casos que a contestam radicalmente – temos que aceitar a monumentalização como uma prega que nos devolve através do passado nacos do futuro.
A linguagem nunca é literal e procura biológicamente a polissemia para sobreviver – para isso recorre às errâncias metafóricas.
A linguagem ocorre sempre que nela ocorremos embriagadamente.
As linguagens atravessam-nos as cabecinhas e transpiram demasiado, sobretudo quando julgamos que as temos cá dentro bem fechadas.
As mutações inerentes à publicidade e às redes de comunicação mudaram a escala dos nossos pensamentos mais tímidos – agora procuram ecos planetários.
Os erros são muitas vezes uma intromissão bio-processual que nos convidam a reformar o resto e a mudar de rumo.
Uma vez que tudo está em estado de devir museu, estes deviam ser desdomesticados rápidamente, como uma selva em festa.
Os procedimentos da natureza não seguem padrões razoáveis – podem ser prudentes ou imprudentes. A natureza costuma ter alguma «razão», mas nem sempre.
O caracter inacabante da natureza faz com que tudo o que nos entregamos seja uma forma de art in progress.
Os jardins são como os jardins zoológicos, só quer sem animais – domesticação vegetal.
Todos as obras de arte são consumíveis pela sociedade. A natureza não nega em si o caracter mercantil da artephysis. Ao natural comércio da natureza e das coisas não se pode contrapor um caracter anti-mercantil porque este é anti-ecológico.
Os parques são residuos simpáticos (embora leofilizados) de natureza que nos dão vontade de fornicar com ela mais plenamente.
As questões de forma e intencionalidade são apenas condimentos para o entusiasmo pornoecológico.
A escrita é um espectro das representações que se deleita em negá-las.
Há nos dogmas e no non-sense algo apetecível e demente que nos dá vontade de divertir, para além de um poensamento prudente e infectado de hipercomplexidade.
Temos medo de ser controlados, quer artisticamente, quer de outras formas supostamente conscientes. Na verdade a vida é sempre intoxicação, e como tal há um controlo divino ou burocrático. Mesmo o Nada é intoxicante. Por isso preferimos uma predação delirante o mais plural possível, passando pelas monomanias e vivendo-as a alta velocidade.
Os curators tentam apropriar-se ingénuamente das obras de arte como se estas fossem dotadas de intencionalidades particulares e especiais e se destinassem a servir de polémicas em sociedades secretas. As obras de arte apenas são fábulas ruminantes.
Os museus são pálidos escravos das suas ardentes intenções.
As palavras tornam-se inadequadas sempre que os contextos são relutantes em aceitá-las.
A natureza só acalma parcialmente e acende germanicas nostalgias onde é fria – a natureza tem as suas estações e revela-se temível nas efevrescências tropicais e primaveris.
Suburbanizamo-nos galopantemente. Mas da entropia dos suburbios está a nascer uma neguentropia que pode por as paisagens em estado de erecção.
Os museus são filhos dos minimalismos – afastaram-nos puritanamente da versão sexualizada onde a arte gostava de cohabitar que era o palácio.
As coisas são processos hibridamente mentais, e as mentalidades tamvbém são comparticipadas por uma lixeira de coisas que se querem encarnar em novas coisas.
Não há metáforas radicais, custe o que custar – a radicalidade é apenas a ilusão de uma hiper-excitabilidade metafórica.
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