Friday, February 29, 2008

Thais segunda Saint Satie








Nesse tempo os anacoretas estavam muito povoados de deserto.


As cabanas enchiam-se de bacanos que curtiam retirar-se do mundo.


O Nilo era um laboratório filosófico para solitários.


Era uma época em que até o rosa era uma côr esfingica.


As palmeiras erasm abanadas por mãos sequiosas de se libertarem de uma treta qualquer.


As vanguardas russas estavam atentas ao longe com os seus manifestos aguerridos.


Mas havia muita folha de ouro em comum nesta distância de encenar o sagrado ou cuspir-lhe veentemente

INFRAÍSMO (esboço)





A abstracção é uma forma superior de dissimularmos a nossa entusiastica iconofilia – as formas estruturantes (simples) são propulsoras da propensão imaginal e não suas adversárias – a abstracção, assim como as teorias mais «imaterializantes» da prática artistica são como açucar que adoça as práticas ditas representativas. Por isso nos entregamos ao ardor teórico, à abstracção, aos derivados da tradição do ready-made e à escultura presentista ou social.

A nossa franquesa cínica (na tradição de Diogenes - ou na do tantrismo mais extremo) é filtrada quer pela lógica sofística do prazer da refutação e da ilusão, e por sua vez orquestrada pelos prudentes hálitos pirronicos (por uma desconfiança em tudo, sobretudo nos aspectos mais exebicionistas e infrutiferamente contestatários do cínismo) – no entanto estes três modos supostamente incompatíveis estão em latente estado explosivo, como se o cínico-canibal que há em nós quisesse cuspir e grunhir na oratória do sofista e morder/devorar as balofas canelas do apático cepticista.

Há um vortex conceptual que é subjacente ao badalhoquismo (espontaneidade) formal da prática. Esse vortex é resultado de um excessivamente excitante entusiasmo teórico.

Acreditamos na eficácia das formas por parte de quem as usa – sdeja ele criador, seja um utilizador – mas não acreditamos na eficácia simbólica estrita.

A Iconologia, como disciplina que atribui sentido ao vai-vem entre as inclinações teóricas e uma tipologia de imagens é bem mais adequada à abstracção do que às velhas damas panejadas.

Utilizador-manipulador-criador – a relação pessoalizada com as formas/fluxos/vortex-conceptual não é desinteressada nem contemplativa – as formas são ferramentas que utilizamos para intensificar os nossos animos, para clarificar e ginasticar o nosso corpo-mente, e fazer fluir magestosamente as subterraneas correntes da criatividade.

Globalizamos singularizando – o nosso environment reincorpora o que há de palaciano no passadismo e filtra quer as àguas extremas da modernidade e os residuais charmes do periferismo – mas não nos extasiamos sempre com a condição suburbana. Não temos complexos quanto à nossa tradição que vem do fundo pré-histórico, não como um vingativo fantasma, mas como uma arte de polir e de ser claro.

Somos infraístas porque a nossa concepção do absoluto é anti-transcendentalista: somos materialista, pluralistas e militantemente anti-totalitários. Gostamos da linguagem filosófica, quer da enxuta, quer daquele que assenta bem com escabeche retórico. Gostamos das pulsões guerrilheiras e dos marotismos, assim como da àcida provocação – mas somos essencialmente doces, e polilíricos. Apologistas retóricos dos grandes feitos, somos pragmatistas das pequenas coisas – sem snobismos e pretenciosismo pindéricos, nem concessões ao grande hipercapital.

Saturday, February 09, 2008

a «morte» da «morte do autor»


A sintaxe é o desejo, a articulação posicional, as relações explicadistas (de variada intensidade e interesses) que a linguagem tem. Não concordamos com Nietzsche nem com Cage quando estes dizem que «não nos livramos de Deus, enquanto não nos livrarmos da sintaxe», nem de que esta é meramente um «exército». Não concordamos com Heidegger quando este nos reduz a simuladores do que potêncialmente está na linguagem. Não há uma linguagem estanque. O alemão foi umas lingua que se fez e se está fazendo num sentido que um dia não será alemão. O idioma grego foi muitos idiomas, e os filósofos são reféns dos seus calões locais mais do que diccionárias etimologias o-mais-antigas-possiveis. Por fim Barthes, Lacan, os estrturalistas e os post-estruralistas. «A linguagem obriga a dizer»? É fascista? O autor morreu? Ou este tipo de teoremas é a mais vasta encenação de uma tese inconsciente que indentificaria o fascismo da linguagem com a morte da criatura que dá o nome e o corpo por uma coisa chamada «autoria»? Há um fundo nazi na mais simples noção da «morte do autor». Não será esta uma consequência lógica do que estava em marcha em Auchewitz e que foi tão bem antecipada nas orgias dos romances de Sade. Quem foi o autor de toda esta máquina de aniquilar identidades? Ou a «morte do autor» não passa de um chavão simbólico usado para desacreditar e suprimir diversos modos de explorar singulares modos de imanência – a vontade de ser mais qualquer coisa do que uma remontagem de clichês e estruturas (um relativo remix) – há alguém ali! Por isso gostamos de autores com biografias sensíveis e lamechas e não de Foucault ou Blanchot.