Monday, August 07, 2006
primeira página
Budonga foi escrito de jacto, como uma má prosa surrealista ou beat. Esta primeira página foi glosada e variada por mim em meia dúzia de versões seguintes ao longo de vários anos. Budonga é o trajecto que nos leva da vida tediosa para uma harmonia selvagem. Variante do Heart of Darkness de Conrad e da Alice no País das Maravilhas, diria um critico banalis. Pois claro! É certo que este é um esforço narcísico de reeditar a experiência de escrita de Budonga. Primitivismo histérico? Desejo de evasão? Patétice alucinogénia? Ou cartografia xamânica de um imaginário feito de palimpsestos?
de budonga ao explicadismo
Budonga iniciou conscientemente o já referido filão Pornoecológico. Mais tarde esse filão ficou consolidado através da «Teoria Babel» e do triângulo MÉTIS/KAIROS/ENTHOUSIASMOS, de que em breve falaremos. Vale a pena consultar o catálogo 6=0 que acompanhou a exposição sobre a Homeostética na Fundação de Serralves. É na sequência dessa exposição que há uma tentativa de voltar a reunir os homeostéticos num projecto chamado HOMEOSTÉTICA TROPICAL, cuja dominante é o TRETATERISMO. Pedro Portugal desenvolveu alguns destes príncipios em artigos publicados no diário económico, no período politico de treta que foi o «consulado» Santana Lopes. Hoje EXPLICADISMO/TRETATERISMO/PORNOECOLOGIA são um triângulo de pesquisas que desenvolvem por conta própria os príncipios estonteantes da moribunda homeostética.
Saturday, August 05, 2006
neo-canibalismo
Budonga é de 1984. Knossos é de 1983. No entanto tudo começou com o neo-canibalismo em finais de 1981, inicios de 1982. A Homeostética, designação de um grupo de artistas e movimento que integra e desintegra os amigos adjacentes, nasceu como eventual publicação neo-canibal («o orgão genital do movimento neo-canibal») e tornou-se a face histórica desta pulsão primaveril, artistica e outras estupidezes semelhantes.
doçura ascética
A frase de abertura da novela Budonga diz algo assim «entrou em mim uma doçura ascética». A doçura ascética contrapõe-se à eternidade-vaca. A história de Budonga abre o caminho para algumas tentativas de PORNOECOLOGIA. Mas há uma história de Manuel João Vieira que precede, como clima de inspiração, Budonga. O texto não tem título. KNOSSOS? O texto de M.V. é um texto terrivelmente pornoecologico. Eu vi Vieira escrevê-lo numa espécie de transe em casa da minha mãe. Os olhos reviravam-se e o escritor babava-se. O texto é «adolescente», fragmentário, descontínuo. Entre o Decameron, o Mickey Spilane e um texto surrealista. A vegetarianização do pensamento (ou o desejo de nomadização dos vegetais) está aí presente num diálogo:
Enquanto uns fazem a sesta, outros filosofam:
– “És um velho imbecil, Heraklion!És um recalcado, um egomaníaco depressivo, a tua sisudez é feita de sacrifícios estéreis, és estéril, chato, saem-te arbustos das costas, e folhas do nariz. Além disso, és verde. Estás cada vez mais vegetal e as tuas teorias criam caruncho. Hão-de apodrecer ao sol brilhante de uma nova era em que as borboletas voem sem cinto de segurança.”
– “Podes falar, eucalipto, mas não podes negar que a tua aparente volúpia é feita de tijolos de concreto. És desleal, pois eu fui o teu mestre e um bom pupilo não se revolta contra o seu professor. Sou bem mais douto do que tu. Rio-me das tuas transmutações alquímicas, que só conseguem excitar as mentes de uns escassos mentecaptos de luxo, que não tiveram suficiente carinho na infância. É verdade que sou verde mas tu és castanho e, como eu, estás pegado ao chão por bifurcadas raízes. Do teu cabelo, que parece um emaranhado de lentilhas, surgem setas de várias cores, mas cada um aponta para um lado. És feio, Eucalipto.”
Nisto surge Gabriela. Ouvindo a discussão começa a despir-se.
– “Que é isto?!” – dizem os filósofos em uníssono.
Gabriela brinca com os seus opulentos seios e exibe escandalosamente o seu entre as pernas.
– “Raios!” – diz Heraklion (ou Hetaklion?) – “Tenho de fazer qualquer coisa!”
– “Mas o quê?” – diz Eucalipto – “Estamos presos pelas raízes da nossa própria sabedoria.”
– “Porque é uma sabedoria cretina.” – diz Gabriela – “Apesar de todo o vosso saber, não podem sair daí e vir cumprir o vosso papel natural.”
– “Bolas, Heraklion! Arranquemos estas raízes que nos prendem!”
– “Impossível, meu colega. Estamos deveras presos.”
O coro: – “Amo esta mulher. O seu corpo de curvas subtis esvoaça com leveza e o seu cabelo tem ondas como o mar. Navego. Navego no seu olhar de uma luz infinita e sinto cada vez mais perto a eclosão do caos. As suas apetecíveis coxas brilham ao sol e reflectem o meu rosto deleitado de tanto respirar e cheirar essa mulher.
Enquanto uns fazem a sesta, outros filosofam:
– “És um velho imbecil, Heraklion!És um recalcado, um egomaníaco depressivo, a tua sisudez é feita de sacrifícios estéreis, és estéril, chato, saem-te arbustos das costas, e folhas do nariz. Além disso, és verde. Estás cada vez mais vegetal e as tuas teorias criam caruncho. Hão-de apodrecer ao sol brilhante de uma nova era em que as borboletas voem sem cinto de segurança.”
– “Podes falar, eucalipto, mas não podes negar que a tua aparente volúpia é feita de tijolos de concreto. És desleal, pois eu fui o teu mestre e um bom pupilo não se revolta contra o seu professor. Sou bem mais douto do que tu. Rio-me das tuas transmutações alquímicas, que só conseguem excitar as mentes de uns escassos mentecaptos de luxo, que não tiveram suficiente carinho na infância. É verdade que sou verde mas tu és castanho e, como eu, estás pegado ao chão por bifurcadas raízes. Do teu cabelo, que parece um emaranhado de lentilhas, surgem setas de várias cores, mas cada um aponta para um lado. És feio, Eucalipto.”
Nisto surge Gabriela. Ouvindo a discussão começa a despir-se.
– “Que é isto?!” – dizem os filósofos em uníssono.
Gabriela brinca com os seus opulentos seios e exibe escandalosamente o seu entre as pernas.
– “Raios!” – diz Heraklion (ou Hetaklion?) – “Tenho de fazer qualquer coisa!”
– “Mas o quê?” – diz Eucalipto – “Estamos presos pelas raízes da nossa própria sabedoria.”
– “Porque é uma sabedoria cretina.” – diz Gabriela – “Apesar de todo o vosso saber, não podem sair daí e vir cumprir o vosso papel natural.”
– “Bolas, Heraklion! Arranquemos estas raízes que nos prendem!”
– “Impossível, meu colega. Estamos deveras presos.”
O coro: – “Amo esta mulher. O seu corpo de curvas subtis esvoaça com leveza e o seu cabelo tem ondas como o mar. Navego. Navego no seu olhar de uma luz infinita e sinto cada vez mais perto a eclosão do caos. As suas apetecíveis coxas brilham ao sol e reflectem o meu rosto deleitado de tanto respirar e cheirar essa mulher.
O que é budonga?
Budonga é uma piada, uma «novela», uma cadeia de montanhas no oeste/sudoeste doUganda, uma povoação no Malawi (Karonga Central), uma região administrativa no Quénia (em Kakanega?), um grito de guerra homeostético, um projecto de filme de F. Brito, um mantra eficaz (comprovado por mim) e pouco mais.
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