Thursday, March 05, 2009

re-pré-homeo (6)


VARIAÇÕES NEO-NEO-CANIBAIS (g’anda propaganda!)






Aqui como uma espécie de aquém imanente? Disléxica luz, velocidade andaluz. Lições ofegantes, dissimulacros galantes.


A eterna e badalada balada do não-dinheiro? – a nossa pulsão passa ao lado das espinhosas contradições da economia e dos êxtases palermas do mercado

Folklore de ansiedades constantemente ultrapassantes – futurismo de banda-desenhada, dansa anti-arcaica e com horror a modernices de ocasião – consciencia ops! e upa, e paf!

Infraísmo – sempre de baixo, com um tesão serpentino, poli(a)morfo e perversito que se enrosca nos nós ornamentais dos politoniversos.


Denso incumprimento das normas não-elementares e alguma aquiescência para com as ditas cujas.






Partimos porque nos partimos e nos reconstruímos sem paraísos artificiais nem utopias antes de ser beras, nem ultra-capitalismo de excessiva acumulação e muito menos saudosismo arcaísante pela natureza incontaminada


- Apolínea ginástica vitamínica

(e Psafé, a rapatorada)
upgrade do belo e
da ugliness
Saber
Por saber
Curiosidades empáticas
Astuciosas cavalgadas
Empadas iluminadas
Mais buda que buda
Nirvana sem nirvana e com tudo lá dentro
Algo parecido com a estética
Como direcção mais intensa de tudo


As recursivas curvas

A vitória de Samotrácia e a Venus de Milo
Continuam a ser belíssimas
Na sua velocidade erótica
Os qudradrados negros de Malevitch e Reinhardt
As mamadas da Cicciolina
Os desastres de Wharhol
As caninas investigações de Kosuth
E as palhaçadas da Cindy Sherman
Não retiram um pentelho de vigor
À velhíssima arte
Por mais que hoje se venere o fetichismo do retro mais recente

A empatia e a simpatia são o apetite sexual da carne pela carne – em ultima instancia canibal, e em primeira instancia algo pré-canibal, porque o mundo só é reconhecível como algo semelhante desde que delirantemente antropomorfisamos, com ou sem a «nossa» medida das coisas.

Criar é estar de facto na e com a artephisis (na caminha naturalis que também é todo o artificial)

Digam bye-bye aos vazios postiços e seus info-budisses/bodeguices!

Nirvana-Samadhi de abduções proteicas?!

Declamamo-nos exímios neo-neo-neo-caniboys (com belas surfistas em bikinis que dão prazer aos olhos lúbricos dos deuses, monoteístas ou não... - allways surfing para além da melancolia e das atracções momentâneas dos infinitos).

Partimos de uma situação avacalhada e recorrente – o pastel da crise económica com anti-depressivos na carteira do mais corriqueiro cidadão. & o esterco. & a mediocridade (pintada em vermelho estalinista de touradas). A necrolomancia.

Não há cheta? Paciência – há a «chita».

Continuamos fãs dos imperialismos culturais estrangeiros – e enquanto não formos uns reles imitadores da mais pseudo actualidade não nos reconhecem as tias de Cascais. Às tias o que é das tias!

Import-export mais activo? E porque não – fora dos aspectos dinheiristas do comércio – transacção para além da especulação.

Armadorismo com génio e graça? Ou profissionalismo com marketing e desgraça?

Há que «acabar» com a baixa produtividentidade (nula convicção) – e a plenadepertensões orgia-nalidade: os homens-macacos-eminentes-e-nobre-cidadãos, o genético e o genésico) (pff!)


Façamos o contrário (arriba Kairós): pastiche de infracção, egocentrismo sem egomanias, responsabilidade do sujeito pluralizando-se sem excessivos direitos autorais em remaking o que foi renovadamente refeito. Poliandria/poligamia no acasalamento de tudo com tudo com direito a sacramentos hipernaturais.








O neo-neo-neo-canibalismo provoca o saneamento do que era supostamente primordial por um actual cada vez mais complexo, puro-impuro, miscigenado, transformante: Auto-hetero-cura de um apetite gargantuesco pelo canónico e pelo excessivo. Uma homeostética dissolvendo a estética numa para-estética, e com ela todos os trocadilhos que trocam a velha arte por uma renovada aposta muito mais velha do que a arte.



A imagem que insurrecta se autopenetra, que se abre graças ao poder imagético, que desfruta dos seus excessos, como um fruto ultra-exótico.
No adverbiado eco das florestas (no florilégio alegórico-ecológico). No sussurrado rugido do Verbo (na novidade que está em emergência no environment-sujeitos). Na bizarria da pilhagem (na abdução do que é estrangeiro ou estranho). Nos jardins alcachofrais do acaso (na interdeterminação stocaustica). No prepucialíssimo humor petroniano (no riso seminal de um divino sensual).
Sermos entre nebulosas de interacções qualquer coisa que se julga uma singularidade dotada de alguma autonomia – é essa convicção que nos faz sentir a consciência, alguma dor, e a sua superação: a alegria.
Partes que se concebem como todo e como partes, que se sabem cooperantes criticas e refractárias prudentes, que não ignoram que o poder é sempre um compromisso, mesmo na mais calada resistência.
Somos camaleonicos? Sim, para melhor sermos anti-camaleonicos! Insistentemente.
Dizendo multiplamente a multiplicidade do que fervilha contra os aniquilantes jogos do «vazio» simplificador e calmante?
Houve um momento em que acreditamos que o tempo não era só a admirável capacidade da artephysis refutar, porque o metamórfico é imparável. Foi aí que descobrimos o kairós – o que é propício é preparável – mas necessita de muita candura, uma sensibilidade epidérmica e uma consciência prática disponível.
A redução do espaço é proporcional à aceleração. O que não postula uma experiência radicalmente catastrófica.
Um hiperdadaísmo fracassado! Este foi o nosso programa prévio – não uma vontade de derrota, mas a sabedoria brejeira de que o triunfo esgotaria as baterias da nossa alegria.




A sintaxe é o desejo, a articulação posicional, as relações explicadistas (de variada intensidade e interesses) que a linguagem tem. Não concordamos com Nietzsche nem com Cage quando estes dizem que «não nos livramos de Deus, enquanto não nos livrarmos da sintaxe», nem de que esta é meramente um «exército». Não concordamos com Heidegger quando este nos reduz a simuladores ou profetas do que potencialmente está na linguagem. Não há uma linguagem estanque. O alemão foi uma língua que se fez e se está fazendo num sentido que um dia não será “o” alemão. O idioma grego foi muitos idiomas, e os filósofos são reféns dos seus calões locais mais do que dicionárias etimologias o-mais-antigas-possiveis. Por fim Barthes, Lacan, os estruturalistas e os post-estruralistas. «A linguagem obriga a dizer»? É fascista? O autor morreu? Ou este tipo de teoremas é a mais vasta encenação de uma tese inconsciente que indentificaria o fascismo da linguagem com a morte da criatura que dá o nome e o corpo por uma coisa chamada «autoria»? Há um fundo nazi na mais simples noção da «morte do autor». Não será esta uma consequência lógica do que estava em marcha em Auschewitz e que foi tão bem antecipada nas orgias dos romances de Sade. Quem foi o autor de toda esta máquina de aniquilar identidades? Ou a «morte do autor» não passa de um chavão simbólico usado para desacreditar e suprimir diversos modos de explorar singulares modos de imanência – a vontade de ser mais qualquer coisa do que uma remontagem de clichês e estruturas (um relativo remix) – há alguém ali! Por isso gostamos de autores com biografias sensíveis e lamechas e não de Foucault ou Blanchot.

Interessado em elaborar? Dentro da organização indeterminante possível!
Mas também em soltar ecos, como retroacções simpáticas ou até canalhas.
Não me devotarei ao Arcano, e a essas foleiradas escatológicas com degradês ou surrealices disgusting! Serei sempre corrente, dínamo, movimento, informação, transmissão, acção, pluralidade, clareza, embriaguês circunstancial, método entusiasta, refutação em baixo obstinado - revelar sim, de Patmos sim, exactamente para que o culto(cultivado) surta frutos protéticos/poéticos, mas nada de oculto como militância. Quanto muito a dissimulação, a teatralidade do essêncial se revelar como uma comédia infinita. Não há evolução para as coisas? Há progresso mimético quiçá de nós com as coisas...
Que se desmorona a tirania... Ou infiltra-se continuamente nas coisas mais delicadas? Pela tranquila intranquilidade? Pela Intranquila tranquilidade? Não-agindo, como um barbudo taoísta armado em regulador das coisas através de uma aturada perguiça? Ou deixando actuar (o quê?) para coisíssima nenhuma. Retorno badalhoco ao Tao, ou Tão, (babuíno-beduíno)? Ou precisamente doçura de um não-retorno a nenhum Tao/Tão.
Como uma esfera a transformar-se noutros sólidos mais brejeiros: demiurgia imperfeita do mundo em catársis. O Ser como imperfeiçoamento.
As leituras são devoradas pela fantasmática realidade. Mas nós passeamos ao lado dos fantasmas porque a nossa carne é a nossa in-sência, assim como a dos deuses.
Era a descoberta do tempo como dimensão sistematizável. Nascia a velocidade, reduzia-se o espaço. Agora a velocidade é outros espaços, cada vez mais ruidosos – a paralogia conspurcada. O ruído e o lixo infiltram-se no virtual como uma apetência por algo ainda mais forte e erótico.
A criação é a reorganização de elementos aleatórios com um pouco mais de aleatório que se abre como vertigem na reorganização. Sincroniza-os. Recupera contextos e dá uma velatura de pseudo-esquecimento. Dá uma organicidade (e não uma forma) aquilo que capturou. É destruição provisória e terrífica, mas apercebe-se que não há purificação possível e radical. O cabrão do dharma não se restaura em putas de hecatombes, nem em fins postiços. Adiamento? Viver é ser provisório, mesmo na mímica saracoteante dos samadhis.

A criação seria uma ordem que se despediu da perfeição para sempre.

Da interioridade do viajar às colónias bárbaras. Do que na escolástica plena das estruturas pelo movimento se transmuta, e transmutando as transmutações se imobiliza um pouco. Detonando o cristalino, pedindo mais beleza do que a oferecida pela paixão. Performando o silêncio na sua cristalização antropomórfica, que de antropomorfa só tem o acaso de ser mais uma morfologia animal excessivamente erecta – mas é a que temos. Reduzindo a uma espécie de magia extensa cada renovação. Destinando-se a um por enquanto, deixando-se seduzir, mas pouco, por funcionalidades ocasionais, como um aperitivo dos contextos.




Está-se na impossibilidade e na impassibilidade de tudo captar. Logo: a necessidade de uma escolha cai-nos como um drama que amaneira existêncialismos de cabeceira. E como se processa essa escolha? É a que vem, convincente, ou nem por isso. Ou aleatóriamente, ou ainda contrariando todas as escolhas que racionalmente ou metodologicamente faríamos. Algum bom-senso? Oh sim! Alguma falta de clarividência. Também acontece! E o transtornado transformador transformando a transformação transforma-se.

O que é a essência? Diz o palitador filosofal mais uma vez para espremer o suco das palavras - a essência não existe, diz o pauliteiro de Miranda brandindo o pau no ar. É uma voz pouco clara, o objecto da metafísica, nhec, nhec. Uma espécie de vontade de pois é no é. Mas o pois acaba por ser um apoio para muita poia.





Dygo a Dyke. E o Demens. A inexorável lei e a trapalhada monumental.

Delirios de Hyperion no carro fatal e solar de Holderlin com Apollo de raio em punho. Reconstruir querias, coitadinho. E a Grécia antiga já perdida no mármore que não o é exclusivamente, nem na bestialidade das estátuas que avançam mortas para uma morte que se monumentaliza visualizando-se. De ti para a origem viajavas, Holderlin. Pobre Louco! Não há regresso para o passado, mas há uma intrusão perpétua do passado como algo irreconstituível, e que se quer vivo como contaminação construtiva sobre as nossas ânsias de fazer qualquer coisa. De ti para Ti fabricavas a tua gréciazinha! Do disperso para a Dispersão, como algo que volta a articular e a reunificar na grande teia que não nos deslarga.

(a revolução começa ou acaba nas garagens dos conceitos? Se souber estacionar? Mas se estaciona o perpétuo fluxo futurista e trotskista ao mesmo tempo torna-se um vulnerável reaccionário de antologia. Ou não há conceitos revolucionários? Só continuas reformas poéticas?)

A música é propícia! Como uma perfeição? Ou como expressão do borbulhar sonoro. AUM + VRAUUM!

A fantasia é a honestidade. A honestidade é a fraude da fraude – a desconfiança cada vez mais sistemática de todas as convicções, mesmo as cépticas.

Espelhos do excesso olhai o meu pudor que frequentemente se exprime em gargalhadas diletantes.

A morte voa e soluça nos espelhos da linguagem, mesmo na que comicha lubricamente. Fala e Foda. Semiótica abundante entre as côxas das amazonas.

re-pré-homoios (3)


A Artephysis (notas)

1) O velho metamórfico principio de Lavoisier - «nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma»... e arrefece... e se degrada... e se complexifica... e se fragmenta... e se suja... principio metamórfico... (reformismo? transreformismo?)

2) Entropia – catastrofismo, decadentismo, conformismo, cepticismo, niilismo (desperdício da potência).

3) Neguentropia – há porém casos em que a degradação se transforma e se organiza em informação e em vida nova – é o estranho progresso da complexidade como situação local, elitista, intensa, hipersensível – tímidas excepções no deserto tenebroso daquilo que imaginamos que é o universo?

4) Metacatástrofe (ou Anacatástrofe) – maximizar a complexidade dos universos como um processo inesperado e natural – levar a criatividade a um paroxismo consciente em todas as coisas.

5) Se tudo se tornou um ready-made, e se os ready-mades foram amestrados e transformados de anti-arte em arte, então o allready-made que é o mundo dissolve a antiga lógica que separava (e opunha?) tekné e physis. A “arte” já é na sua auto-determinação natureza, e a natureza, na sua inter-determinação já não se deixa de pensar e re-produzir senão como arte, como capacidade de se expandir (e poluir? e reciclar?) tecno-poéticamente.

Na antiga noção de physis está intimamente tecida a noção de pharmakon (em Homero) – por um lado veneno/remédio, por outro (como o disse Empédocles) côr – a explicação da artephysis (e a artephysis da explicação) é uma chromopaideia!


A arte pode não ser, como para Hegel, «a exigência suprema do espírito» (o gajo curtia mais umas cenas conceptuais!), mas é a exigência suprema da imanência maximizada (se quisermos podemos incluir o Absoluto e suas caricaturas neste saco) – e neste domínio a filosofia tem sido francamente impotente!

O Labiríntico? A emanação selvagem que faz desaparecer a miragem onanística da totalidade graças ao jogo de espelhos que «infinitiza».




O «Absoluto» é o maximo de teatralidade e de complexidade. Se este fosse simples seria mais pobre e a-teatral. Mas como inclui em si mesmo tudo (incluindo o que a cada momento excluí) é necessariamente excessivo e teatral (e como tal, carnavalesco). De certa forma está sempre condenado a dar-se, isto é, a dissipar-se em inumeráveis singularidades.

A arte des-intimiza a consciencia do artista, não no modo de divulgação (e propaganda) das comezinhas intenções, mas no do ludicamente multideterminado espairecimento poético.

A arte é um jogo inter-heteronomico que emprenha determinadas formas substancializando-as (exceptuando a arte «digital»?).

Uma forma é a aparência de uma singularidade da metamorfose generalizada. O que chamamos criatividade nada mais é do que a interacção metamórfica ou a sequela de uma série naturalmente ou artificialmente programada.

O “artista” é o produtor do que transborda aos conteúdos (a espuma de muitos outros hipotéticos conteúdos) – ele submerge a expressão encenando distâncias diversas entre o (que muitos abusivamente chamam) Ser e o Nada (ou se preferirem o não-ser, ou, de um modo mais aristotélico, o que é anterior às emergências na sua in-potência), sabendo de antemão que na lareira da terminologia hegeliana estes são a mesma coisa.

A esquizobscuridade? Nem por isso – a multiplicidade de representações entrelaçando-se umas com as outras é apenas um sinónimo de mais, um pouquinho mais de luz – desde que se veja bué da bem.

A Arte não é um «nulo que se autonega» (como dizem Hegel/Agenbem), mas algo que se dissimula nessa paradoxal autonegação do nada – é algo que sobra post-paradoxalmente aos mecanismo de negação/nihilificação – a Arte é antes uma afirmação «pura» (embora conspurcada-conspurcante) que sobra ou sabota essa máquina de guerra lógica – por isso os paradoxos fazem parte de um jogo preliminar que parecendo uma laceração aos olhos voyeristas dos filósofos é no entanto uma manifestação erótica delicada.



O vazio do vazio. O vazio é a expressão negada de uma essencialização. Mascara a essência (caso esta existisse) no que através das manhas da lógica a nega. Trata-se de um jogo exclusivo da linguagem... e tardio! A dialéctica que se auto-determina em dissoluções... virtuais?

A “arte” (como algo que se parece consigo mesmo, mas que se recusa a enraizar em conceitos os disciplinas) morre perpetuamente, mas renasce e sobrevive a esse apetite endocanibal pela auto-dissolução – ao contrário da filosofia que teme a sua morte austera, a arte é um encontro jubilante e mortal-fenixologico com o pensamento (e a filosofia sabe-o), porque se dá como imergência-emergência, isto é, satisfaz-se com ser da mesma substância metamórfica da artephysis, sem se render a um programa desencarnante.

A arte desembaraça-nos das consciências infelizes – por isso a «morte de Deus» da Gaia Ciência é uma paródia – é um atributo de algo que precede qualquer deus - «o riso divino». O riso-choro, o choriso (laughtears joyceano) como o acto caosmogónico por insolência/excelência.

re-homeostetica (2)


Marginalia: o que se desloca nas margens é o esplendor ginecológico – obstetricismo? a estética no consultório? O que fazia temer o ornamento, na geração de Loos e outros eram os corrimentos vaginais do ornamental – a misoginia e o machismo atravessam a modernidade arquitectónica como coisa genital e casta – isto é, tendencialmente minimalista. Hoje o environment é anfíbio e multissexual – a fotografia e a palavra instalaram-se nele. Há um filão pornoecológico que é puxado pelos corcéis ditos maléficos da publicidade. A alta-definição parece puxar os mínimos detalhes e as coisas microscópicas para um primeiro-plano. As anatomias internas fazem-se vísiveis e rivalizam na sua mortalidade e texturas com os mais brandos olhares e inflexões de voz...

Do entulho da Mnésis e da velhacaria pressionante das citações o que é que se pode retirar? Já não são nem os monumentos nem um espaço para reverenciar heróis ou meditar. Os museus tornaram-se portáteis e infra-magros e a tradição do desrespeito está há muito prisioneira do seu paradigma de falsas e adolescentes infracções. Quase tudo foi «conquistado» nos primeiros ready-mades de Duchamp – o resto do mundo é que mudou muito, assim como a heroificação de um acto de provocação infantil ou de relaxado cepticismo.

É o fluxo das imagens o sumo da vida ou apenas uma instância para fundar uma arqueologia bárbara? Ou será que as imagens são dispensáveis? Ou é a arte, como tradição de suspeição que ameaça o carácter afrodisíaco e mágico das imagens?

O reverso do firmamento, o reverso quer do caos, quer da ordem pré-establecida - a metacatástrofe, isto é a complexidade como o que é paradisíaco! Mas os mitos enganaram-nos durante muito tempo ao confeccionarem para o mundo ìnicios demasiado frios e despovoados.

O espírito do concreto enraíza-nos na grande colagem movediça que é o mundo: não a mentalidade que aprisiona, digere e caga submetendo-nos a obscuros poderes conjunturais (!) mas o que adere e capta e decide e flexibiliza e adapta e adopta.

A relevância do individual exilado nas suas regras internas e conduzido para os próprios túmulos da sua «consciência» e poética, desfaz-se dos chumaços gnósticos e participa em workshops espontâneos e na interactividade combativa de grupos produtivos.



Reverenciar a dúvida como antiquíssimo método diabólico-pascaliano (vidé Job e o Discurso do Método): erística-erótica. Há uma luxúria barroca que saliva intestinalmente nas perguntas mais ferozes. Sublinhar, sem medo de velhos friquismos a «experiência constante». Body sim, mas body bulding não! Estender a tenda caosmológica da Doxa. Ampliar os nexos e as ligações perigosas com cautelas manhosas ou com os avacalhantes métodos aleatórios.

O princípio gerador é local. Compreender o gerado e os aparentes mecanismos de gestação tem sido útil para fazer um acompanhamento sábio pelas orquestrações da consciência. Mas acompanhar é também ir para a cama com.

Trata-se de actos de identificação? Ou apenas de vigília? Transplantamos algo nas transmutações orgânicas... damos corda à consciência intergaláctica... ou só damos à nossa conscienciazinha provinciana?

Consciência é flexibilidade & harmoniosa coerência da concorrência da singularização das multiplicidades. (ufff!)

A obstinação é o maior inimigo do homem: o sacerdote e a padronização, a clericalização das mentalidades (e o seu prolongamento na máquina burocrática!) e os dilemas morais irreversíveis... piores que a grande dama escarlate da babilónia!

Cadeias itinerantes. O nosso propósito não é venerar a citação mas abatê-la a médio prazo, como domesticado fantasma e vítima sacrificial. É um acto pouco romântico?... E linguareja-se a partir dessa destruição... há fluxos comunicacionais um pouco flutuantes (elementares ou/e complexos). È claro que não podemos ignorar as falhas (o não-programado, o relutante e o refutante), as incontinentes dislexias e outros subterfúgios filhos da teia da multideterminação. Mas há uma candura infantil no fundo, um vigoroso balbuciamento pré-babélico, uma autenticidade sem calão.

Prescuta-se na multimoralidade a libação orgástica que percorre sonoramente os multiversos? Tumultuária? Nunca uma rendição à passividade exocéptica, mas a certeza-dúvida nutritiva.


A vida é a sem-origem representável em todas as coisas (a representação é um atributo da artephysis – não há presença pura, porque toda a suposta presença transita de uma (re)«presença» anterior).


Os multiversos autoengendrando-se, encurvando-se para além do Polilogos e do Metapathos, circonvulsionando-se em secretas hipercosmogonias: À notre seul désir!

As florestas telerrizomáticas dão a entender que o espaço comunicacional se despiu das finalidades, mas sabemos que progride por etapas para zonas que de previamente desconhecidas se convertem em hábitos enfadonhos – a noção de território e de environment articula-se ainda no nosso corpo semi-protético, mas coloniza espumosamente quer as zonas ditas reais, quer as zonas supostamente virtuais. A telematização da civilização é a forma-formula neo-colonial mais acabada. Haverá focos de resistência, zonas de guerrilha anti-telemática sem cair em más paródias de Che Guevara? As civilizações foram decapitadas das suas ligações com a velha physis, e as cabeças civilizacionais fazem parte de um espólio venerável que até aos antropólogos (caçadores de cabeças por empatia) pouco interessa. No entanto as imagens e metáforas fantasmáticas continuam a circular nos adereços mais insignificantes da pop-culture (na moda, na piercingmania, etc.). Há uma antropofagia adiada – a velha hamartia de que falava Aristóteles. Não sabemos como serão possíveis as catarses... haverá mais sangue do que espectacularidade?




É do humús das mortes civilizacionais que tudo se conjuga para esta renascença mais complexa, cujo ícone cultural é desde há muito o Finnegans Wake joyceano – suprematismo-infraísmo lúdico de alegorias post-paradoxais, poliateísmo stockaustico, tantrismo trans-digital...

É tão fácil como encenar séries – mas já não estamos no estado das tautologias básicas à moda de Wittegenstein ou de Soll Lewitt – as tautologias, e os derivados combinatórios partem de estados cada vez mais impuros – a miscigenação segue menos uma lógica linear do que saltos nebulosos e dissimulantes. É como se as nuvens sonoras de Xenakis ou as colagens-sobreposições «aleatórias» de Cage se acasalassem com as melodias indianas e não fossem totalmente insensíveis às várias mansões da tonalidade e da determinação ou o cançonetismo brejeiro-ruídoso-sentimental...

Já temos uma argila ontológica da mais sensível civilidade! Mas não vamos cantar disparates éticos nem lançar anátemas arregimentadas em cima do joelho. É certo que idealmente, um luxuoso «comunismo» aboliria o máximo das assimetrias sociais, mas também exploraria a maximização das assimetrias na artephysis... a liquidação em curso das velhas solidariedades de todo o tipo é um prelúdio à liquidação do estado clássico, e inclusive a da ideia de um estado planetário regulador – actualmente é a pseudo-auto-regulação da produtividade e dos mercados que dita cada vez mais as flutuações económicas, com os estados a tentarem acudir às crises em desesperado remendo... a cada vez maior impotência das nações para resolver quer as questões políticas e quer as económicas leva-nos a uma semi-anarquia sem pensos de new deals, porque ninguém se compromete senão num endividamento que ignoramos no que pode dar. Não sabemos se será doce ou amarga esta anarcordem, fruto do apetite civilizacional pelo crescimento económico imoderado...

re-pré-homeostética (1)


Isto é um revisionismo muitíssimo aditivo de fragmentos de um livro que assistiu à eclosão da Homeostética - o remake diz respeito a agora - é o passado reactivando o já


AS PULSÔES DA ARTEPHYSIS

(prefacio ao infraísmo)


A natureza é mais estratégica do que essencial.

A essencialização é o caminho mais rápido
para as mais ingénuas mentiras.

A semelhança (o homoios) é uma pequena
dissemelhança na identidade que torna a identidade
cada vez menos idêntica.
A Homeostética, como o que se assemelha à Estética
abre-a carnavalescamente para a artephysis.
“...(?)
A lógica da transformação é a tecno-eco-bio-lógica – não há «verdade» ou «essência» se não for em transformação (ou devir), não há «espiritualidade» ou qualquer designação (banal ou sofisticada) deste género senão metamórfica. O que desautoriza, para começar, toda a genuína caça a conceitos estanques ou a uma ordem divina. Mesmo em Hegel, Heraclito ou Nietzsche e seus sucessores dilectos e dialécticos – por isso não há nenhum «livro» de Heraclito e o estilo fragmentário de Nietszche, mesmo no Zaratrusta, é o do vislumbre intersticial, o de tentar agarrar cada coisa num determinado momento. As generalizações (estamos a ser nominalistas?) sabem sempre a exagero e a fraude, por mais que alguém se convença soberanamente da honestidade do fio das proposições. É o que se passa aqui, mas com esta ressalva burlesca. É através desta desconfiança lírica relativamente ao que escrevemos que encenamos o que se chamam teorias – projectamo-las no «mundo» e o «mundo» que as acolha com simpatia ou antipatia. Por isso todos os resguardos, todas as aspas, todos os parênteses & reticências desaguam estilisticamente como uma desconfiança doce que nos complica o estilo. Há porém a geometria e a parafrenália topológica como cartografia que acena para esquemas tão cara aos pitagóricos e platónicos e adoptada pela ciência com êxito. Mas os esquemas são a hipotética armadura da interacção das coisas, não as coisas em trânsito. A arte reúne em si, mesmo quando se rende à informalidade, esta fome metamórfica e transitiva a que não são insensíveis as gimnásias geométricas.

O que podemos fazer(?):

a) Insinuações teóricas (intuitivas ou com uma armadura tautológica por trás, mas sempre lúdica e contrainductiva)
b) Catalogar dispositivos formais, metafóricos e conceptuais (com prudência pouco chinesa e um coleccionismo de tipo warburgiano)

Podemos propor, com cautelas e um sentimento esquisito de desconfiança quanto aos fundamentos, colecções de afinidades e variações. Podemos serializar , ou então namorar «protótipos», não como matrizes, mas como formas obscessivas que marcam uma teatralização – no fundo trata-se de erguer «algo» com cimentos raros ou músicas canibalisticas.
O lema é platonização sintética do Carnaval: isto é, uma versão condensada e festiva da já longa tradição da dissolução da metafísica – não se trata aqui nem de superá-la, nem de suprimi-la, nem de lhe dar alternativas, mas de entender que o estado «revolucionário» (o progresso tecno-mimético) passa por exageros paródicos com correspondentes acalmias e discretos estados contemplativos e revigorantes (a meditação é o sono que descansa para a orgia). A carnavalização é o antídoto das imaterializações, graças ao insensato (embora algo ébrio) primado da carne sobre a perturbada inflação do suposto Logos. É a exuberância mimética que garante uma ética que não é fundada sobre algum princípio lógico-dedutivo, ou metáforas como casa ou construção. A ética é a alegre co-habitação, genuína, com as tristezas, sem os ressentimentos ou desconfiança mútua: a ilusória confiança recíproca... mesmo que dure o que durar.

Há uma citação de fundo (ou será um equívoco de leitura?) que diz que a «natureza é um carnaval divino». Ou traduzindo: a natureza diviniza-se mascarando-se. A natureza é divina porque se mascara. Ou, o carnaval é o modo como a artephysis avança para uma interacção mais rica e fluida. Por isso as metamorfoses são o cumprimento de um itinerário de máscaras sucessivas, que não ocultando algo estanque ou original (autentico) dissimulam no entanto um filão metamórfico mais sensível que se serve das metamorfoses mais externas como forma de progressão (ou diminuição) estratégica.



Como é que podemos ser radicalmente «nominalistas» sem desistir da intuição de que algo tremendamente imanente garante a interacção e algum parentesco entre tudo o que nos parece ir existindo?
Produzir em todas as áreas até espremer o suprasummo de toda a postiçagem lírica. Penetrar no âmago intra-heteronómico – na meta-representação (que incluí quer a expressividade quer as contra-representações). Ser mais plural que os pluriversos.


Barrocos (enquanto o formos estrategicamente e tenhamos esse sentimento como necessidade) por escusada densidade e mister antropomórfico-zoomormo-biomorfo (à laia de despachamento). Penetrar com sobreabundância no ruído das trevas e sair à luz mais sensual. E averbamos o barroco como um velho canto barraqueiro. Esculápiamente: isto é: no modo mais que saudável: onde a extrema saúde entra em contacto com o suposto «divino».


- Na despreocupação do gosto (ou desgosto) seremos prolíficos (a extrema produtividade concentra-se porque lhe pre-existe uma divina preguiça).

- Não nos concentraremos na valorização de qualquer fórmula (mágica, mas dogmática) mas arrastar-nos-emos ginasticando num superestudo que abastece as zonas várias de onde se desentranha a muy hedónica teoria.

Revolução patafísica/panteísta e de chã desdizer.

Navegamos sofismando como quem desentranha sibilinas saladas. Desfazemos os sofismas com a candura mais terna e tenra – damos as mãozinhas ao acaso. Celebramos abruptamente.

A crueldade (conceptual, sem correspondentes sadismos) algo adâmica e argilosa está no sermos herdeiros abastardados das velhas oficinas dadaístas-cínicas-tantricas.

Queremos chegar obstinadamente a uma sprezzatura soberana, onde o rústico, o desdenhoso e o grafítico se compõe heraclitianamente com o severo e o clássico.

Adaptando o fragmentário, mesmo que burro, como algo que corre ao mesmo tempo para os deuses e para a retrete.

Começa aí o afoitar dos espelhos, os namoros aos números e às artes combinatórias, mas sobretudo o que lhes sobra. Tudo se entranha em prólogos oraculares. Queremos trespassar incandescentemente as possibilidades da nomeação.

E as vacas sagradas desabavam assim por desdizer do caos musical dos antecismos e das metacatástrofes – há algo epidermicamente mímico nesta lógica de assimilação das legiões de percursores como se uma catarata fosse despejada subitamente dentro da nossa cabeça. Percebemos que os ilustres mortos que nos precederam nos fazem menos eternos e mais longevos.

Um ícone é onde se concentram os fragmentos de muitas Doxas – é a nossa condição, partilhável com tantos outros cidadãos, de uma superurbanidade periférica. As grandes metrópoles tornaram-se obsoletas e provincianas. O mundo fervilha mais no interperiferismo das cidades de grande dimensão do que nas excessivamente e provincianamente grandes, como Londres, Nova Iorque, Paris, Moscovo, Pequim, Tóquio, etc. Morram as saudades dos imperialismos económicos e culturais!


Seria idiota não nos referirmos às características académicas e comunalistas do estudo... estamos atentos às mutilações que se propõe em redor. À medida que vamos crescendo, dilacerados, no seio da brilhante Doxa (e do Cânone Perpétuo da Obscuridade) também vamos varrendo a técnica para debaixo do tapete, porque o nosso corpo (e as suas competências) é uma acumulação de cada vez mais produtivos softwares. As performances são cada vez mais cândidas, mais naturais, embora possam parecer bizarras e desengonçadas.

Na floresta cardíaca da criação inerente a cada um (e não pastável por todos os idiotas das redondezas) reside esse dilúvio cristalino (e assassino?) de serenidade? O perverso Buda medita invertido e do topo da cabeça saiem-lhe rios de meta-museus que se expandem pela superfície poluída da terra.

As dúvidas crescem espinhosas como que desperguntadas. As perguntas são filosoficamente amadoras e pedem geometrias neo-platónicas para compor o ramalhete. As dúvidas intra-multiplicam-se... recomplicadas.

Há uma re-ordem nova? Balelas! há antes uma re-organização-desorganização que é mais work-in-progress do que o universo e que antecede qualquer demiurgia. Qual é a pulsação pela qual escreve o homem que começa a saborear as primeiras palavras e se despede dos últimos grunhidos? Mesmo antessáfico ou protohomérico ou pré-zoroástico. Qual a pulsão larvar que torna as palavras propensas a tantos crimes?

Acompanhamos os passos da artephysis com uma improvisada e sexualizada geometria que nos dá a sensação de que a metafísica é inenarrável e arrítmica.

A criação move a sua condição de verme na direcção das pluralidades e não na da aparente dissolução. Esse é o subterrâneo mito que engendra todas as mães, matrizes e falsos protótipos – as deusas têm frequentemente o ar esquizóide de uma mãe em pranto. Querem-nos esmigalhar nos seus poderes demasiado ternos e maternos.



Habitamos in loco o fogo que se distribui em variadíssimos ofícios, desde as implosões vegetarianas aos contorcionismos labirínticos da massa cinzenta dos geniozinhos da humanidade. Vegetamos arredondadamente nos arredores desses circuitos – a nossa consciência é menos a estabilidade da matéria do que uma interface entre emergências neurológicas.

Deus foi o famoso erro anatómico que permitiu angariar metáforas e sofisticar teologias, assim como validíssimos e perniciosos exercícios de humilhação. O seu legado perverso, tal como o legado perverso da filosofia, é um borbulhar morfológico de tensões e delicadezas que é reciclável num sentido mais natural, exaltante e plural – talvez volte a ser errado e errático, mas sem uma inconsciente função assassina.

Os paradoxos fazem vibrar os ossos. A ruína é a quintessência do fluxo, o fragmento a escória que sobra a esse agitado banho, o remix, o culto sincrético de uma civilização que se hiper-tecnologizou até à medula – caminhamos neste preciso momento para uma remixagem genética radical – os sincretismos e a hibridação das categorias das espécies tornam o monstruoso e o proteico plausíveis e não objectos desdenháveis como o assegurava Horácio. O sincretismo tem tendência a tornar-se ortodoxia e a falsificar o seu carácter ocasional através axiomas repressivos.


Bandeiras abandonadas revivem a sua coerência no espólio invicto, nas arqueologias, com saudosismos à mistura, de revoluções há muito passadas. As citações ganham referências novas não apenas na premeditada apropriação (da escolásticas ou do foucault-benjaminismo) mas nos erros (brandos & crassos) do seu uso. O passado é para ser selvaticamente (contrainductivamente) traduzido-transmutado. A metáfora é o coração do Transmutante (o dispositivo mais básico de uma predação sibilina). Os clássicos aguardam contratraductores sem escrúpulos fidelizantes. Desviamo-nos do remix como de um véu de clichés fácilmente identificáveis no calção especializado dos caldos culturais. A associação vertigina-se e os cossacos uivam. Um Zero exuberante e corrupto potencializa-se no pavoneamento de emergências perpétuas.

Restituição ao vivo da antes utópica mascarada triunfal: aspirar e inspirar os mistérios info-matéricos, aceder, pela primeira vez, a uma era feminizada, miscigenada e globotópica.

O predomínio antropológico da predação troglodita pelas esferas espumantes do novo e da produção pseudo-nómada esbarra nos fantasmas da obsolescência e do tédio, mas algo sobra às divas epigonais para as quais olhamos canibalisticamente de soslaio.